Muitos economistas acham que a próxima bolha a estourar em nossa atual crise será a dos empréstimos a estudantes. A dívida de empréstimos a estudantes encontra-se em alta histórica, e as taxas de empréstimos federais estão prestes a dobrar, de 3,4% para 6,8% – a despeito de pequeno esforço para fazer com que os juros dos empréstimos a estudantes acompanhem as taxas que o governo concede a grandes bancos. Essa dívida é enorme fardo para milhões de estudantes que não conseguem arranjar emprego em nossa economia atual. Esses empréstimos são um fardo para a classe média, para a classe trabalhadora e para estudantes de baixa renda que não têm dinheiro para o sempre crescente custo do estipêndio universitário. Esse fardo é incrivelmente agourento, como observa o sindicalista Noam Chomsky:
Estudantes que incorrem em grandes dívidas para pagarem a escola improvavelmente pensarão em mudar a sociedade. Quando você emaranha as pessoas num sistema de dívida, elas não conseguem o tempo necessário para pensar. Os aumentos das taxas de estipêndio são uma técnica disciplinar e, quando os estudantes se formam, não apenas estão onerados com a dívida como, também, internalizaram a cultura disciplinar. Isso os torna componentes eficientes da economia de consumo.
Instituições de educação superior são, em grande parte, lugares de privilégio que servem para manter pessoas em sua condição socieconômica desejada. Hoje em dia, a academia torna-se cada vez mais influenciada por interesses especiais. À medida que instituições como o Massachusetts Institute of Technology – MIT conduz pesquisa de guerra (mais notável durante a época do Vietnã) enquanto outras vendem terra administrada por curador a empresas de petróleo e gás, torna-se visível que interesses estatais e corporativos invadiram nossas universidades. Na medida em que o mundo desenvolvido rumou (subjetivamente) para o pós-industrialismo, “especialistas” estão sendo mantidos com crescente consideração, trabalhadores estão sendo substituídos pela tecnologia (embora haja grandes exceções) e muitas pessoas estão voltando aos bancos escolares para obterem graus avançados na esperança de encontrar lugar na economia dos dias de hoje. Essa tendência permitiu às Universidades tornarem-se líderes em inovação ao longo do século passado, levando a intelligentsia ao poder. Há motivo para preocupação com essa tendência crescente.
Especialização técnica correlaciona-se bem com aristocracia. À medida que a intelligentsia chega ao poder, esses “especialistas” podem tornar-se (amiúde o fazem) muito arrogantes e recusarem-se a admitir fracasso. A nova academia atua como qualquer outra hierarquia à medida que sua influência aumenta. Isso é incrivelmente problemático, na medida em que os intelectuais têm dever se analisar argumentos e estruturas de poder visto terem sido treinados, especificamente, para desempenharem essa tarefa. Profissionais acadêmicos vivem uma vida de lazer não concedida aos trabalhadores. Quando esses especialistas começam a trabalhar com o sistema (dependentes do estado para subvenção e de corporações e instituições financeiras para financiamento), essa dívida para com a sociedade pode facilmente ser esquecida.
Consequência da nova academia bem poderá ser privatização. À medida que interesses do estado e corporativos invadem o sistema público de educação, isso se torna possibilidade muito real. A privatização faz duas coisas, levanta dinheiro para o estado, e beneficia a camada superior da sociedade, permitindo que apenas aqueles com maior capital possam pagar altas taxas de estipêndio enquanto grande maioria do público só consiga atingir níveis mais baixos de treinamento educacional. Que melhor maneira de destruir livres mercados? Que melhor maneira de apresar a sociedade? O que hoje acontece em nossas universidades imita o consenso bipartidário neoliberal econômico – empurre o público para fora do caminho e use o poder do estado para promover aqueles que tenham monopólio do capital.
Numa sociedade livre, assentada em consenso e em transações de um mercado libertado, ocorreria o radicalmente oposto. À medida que a educação promovesse tanto o individual quanto o coletivo, a instrução superior se tornaria incrivelmente acessível – e isso seria bastante fácil de conseguir. Imagine só conter o estado de tempo de guerra; os triliões gastos só no Iraque cobririam o custo da educação superior por décadas. A própria educação, sua forma, seu propósito, também se modificariam radicalmente. O sistema se tornaria mais democrático por oposição a burocrático, os estudantes conseguiriam seguir seus interesses por oposição a interesses considerados desejáveis pelo estado. A educação se tornaria persecução vitalícia por oposição a uma instituição que só serve para preparar a sociedade para a força de trabalho. Na medida em que os seres humanos são inclinados para o trabalho e a serem criativos, num livre mercado a educação serviria para promover interesses individuais e coletivos.
A academia deveria ser instituição que funcionasse para o bem público. Deveria estar livre do poder centralizado. Deveria ser centro de intelectualismo. A academia deveria ser lugar que questionasse a sociedade e suas práticas. A educação deveria estar dedicada a análise crítica, por oposição a cooperação com, o estado, as grandes empresas e os interesses especiais. Não fazer essa análise é traição ao público. O abandono desses princípios reflete a degradação moral da nova academia – ela se assemelha a um abanono da busca de uma sociedade livre, enquanto junta-se às fileiras das instituições que desejam apresar a sociedade.
Há crescente consequência decorrente da atual situação dos empréstimos a estudantes. Como muitos destes estão agora onerados por essa enorme dívida – por apenas fazerem o que lhes foi dito fazer (ir para a universidade, obter bom emprego, consumir, atingir o sonho estadunidense) – há também crescente número de pessoas que tem diplomas mais altos. Há crescente e nova classe intelectual – aqueles que não podem, não poderão, ou se recusarão a juntar-se à classe aristocrática que se beneficia diretamente da dívida deles. Embora muitas pessoas com grau universitário ainda provenham de planos de fundo de classe média (ou acima), na era dos socorros financeiros, crescentes lacunas de riqueza, disparidade de remuneração entre as divisões do trabalho etc., muitos desses formados têm uma escolha a fazer. Defender o statu quo, ou revoltarem-se e juntarem-se à luta do proletariado.
O proletariado está aumentando.
Artigo original afixado por Grant Mincy 29 de maio de 2013.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.