The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Um de meus blogueiros favoritos, Chris Dillow (“O Pânico Moral e a Ameaça à Liberdade,” Tropeço e Resmungo, 16 de abril) observou, recentemente, que o pânico moral(*) reflete uma ideologia gerencista na qual a desordem social é vista como algo a ser resolvido e restaurado a um estado normal de equilíbrio. (* Segundo a Wikipedia, pânico moral é o intenso sentimento expressado no seio de uma população a propósito de algo que pareça ameaçar a ordem social. Segundo Stanley Cohen, ocorre pânico moral quando surgem condição, episódio, pessoa ou grupo de pessoas vistos como ameaça a valores ou interesses da sociedade. Por exemplo, nos Estados Unidos há pânico moral a propósito dos imigrantes ilegais.- NT)
Essa descrição é perfeita. Os engenheiros sociais no governo com nada se parecem tanto quanto com engenheiros industriais, tratando a desordem como desvio de processo e esperando ganhar sua faixa preta da Motorola por reduzirem-na para abaixo de seis graus de desvio padrão.
Há bom motivo para a semelhança: A engenharia social contemporânea é rebento direto da engenharia industrial.
O Progressismo foi a ideologia das novas classes gerenciais e profissionais que brotaram no final do século 19 para administrarem as novas grandes instituições hierárquicas que tomaram conta da sociedade estadunidense depois da Guerra Civil. Os primeiros gerentes das corporações de unidades múltiplas tinham formação em engenharia industrial, e viam a corporação como um sistema a ser estruturado exatamente como o processo industrial da fábrica. Foram acompanhados pelo serviço público profissional e pelos gerentes profissionais das grandes universidades, de fundações caritativas e de sistemas de escolas públicas urbanas.
O Progressismo estendeu essa abordagem para a sociedade como um todo, tratando esta como um processo industrial em sua forma a mais plena. Como qualquer especialista em controle de qualidade dirá a você, um processo industrial resulta em variação porque o processo está estruturado para produzir variação. Em decorrência, você calibra o sistema até que ele produza, de modo fidedigno, resultado com variação abaixo de algum limiar aceitável.
Essa abordagem é fundamentalmente equivocada. Diferentemente dos elementos de uma linha de montagem, os serem humanos perseguem objetivos próprios, comunicam-se uns com os outros, preveem as ações dos engenheiros sociais, e agem no sentido de tapear estes quando eles interfiram com seus objetivos. Quanto mais os engenheiros recorrerem aos processos físicos reais de ligarem máquinas sequencialmente e controlarem o produto delas, e quanto mais do “planejamento” deles incorporar o elemento humano, menos os planos deles terão a ver com a realidade.
As pessoas reagem à interferência irracional da gerência em sua busca de objetivos de maneira muito parecida com aquela pela qual a Internet trata a censura: Tratam a autoridade como significando prejuízo/estrago, e contornam-na.
Há estreita semelhança entre os gerentes incompetentes do escalão corporativo mais alto, tentando impor a teoria de gerência na moda, e legisladores tentando controlar o comportamento social. Os sistemas sociais reais que eles tentam controlar são uma caixa preta para eles. Eles tratam a sociedade como uma linha de montagem inanimada quando ela é, na realidade, uma rede ágil de seres percipientes que pode reagir mais depressa do que os controladores conseguem atuar.
Em ambos esses contextos, os gerentes consideram “fazer algo” enquanto tal como sinônimo de eficácia, acreditando que as palavras que escrevem no papel serão magicamente traduzidas em realidade quando aplicadas à massa inerte da sociedade. Um sistema social, porém, não é inerte ou estático. Ele reage, com muito mais agilidade e inteligência do que os controladores, a qualquer tentativa de interferência vinda de cima.
Na corporação, os trabalhadores reagem a tais iniciativas com os tipos de sabotagem passivos-agressivos que a Trabalhadores Industriais do Mundo – IWW consagrou na expressão “ação direta,” mas aos quais os trabalhadores recorreram instintivamente desde o início dos tempos: Operação padrão, divulgação dos podres da empresa, vazamentos, operação-tartaruga, e apenas sorrir e anuir com a cabeça e fazer exatamente o que estava sendo feito antes.
No domínio político, respostas normativas ao pânico moral são igualmente estúpidas. Elas usualmente tomam a forma do Distúrbio de Estupidez Pós-Traumática: “Não fique parado aí! FAÇA ALGO!” Não importa se o que é feito é em realidade contraproducente. Como os gerentes de toda parte, os gerentes do estado tratam a quantidade de insumos — leis e normas — como critério de mensuração do produto.
As ações deles, porém, são, quase sempre, contraproducentes. Quando redes estigmérgicas de indivíduos livremente associados cooperam na persecução de seus próprios fins, fazem uso de eficácia máxima da inteligência e do conhecimento daqueles que delas participam. São mais do que a soma de suas partes. E se tornam mais aptas e mais eficazes em reação a ataque levado a efeito pelas hierarquias. Vejam só o progresso do Napster ao Baía dos Piratas, e a migração do Baía dos Piratas para a Nuvem como versão de código de fonte aberta: Depois de cada ataque, o movimento de compartilhamento de arquivos torna-se mais distribuído e mais efêmero, eliminando perigosos gargalos.
Em contraste, as hierarquias são menos do que a soma de suas partes. Elas não podem confiar nos subordinados para fazerem uso pleno do conhecimento distribuído que eles possuem. Tornam-se mais estúpidas na reação a ataque — vejam só as várias formas de Teatro de Segurança implementadas pela Administração da Segurança dos Transportes – TSA depois de cada ataque terrorista “fracassado.” As coisas incrivelmente estúpidas que o governo dos Estados Unidos tem feito — invadir o Iraque, transformar a aviação civil em algo a ser evitado tanto quanto possível, tornar seu sistema de segurança mais ossificado e friável — foram exatamente o que a al Qaeda desejava conseguir com o 11 de setembro.
A realidade não é a mesma coisa que o mapa. É muito mais complexa. E os chefes incompetentes que tentam controlá-la sempre farão de si próprios triste figura.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 17 de abril de 2013.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.