The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
O declínio do trabalho organizado (de mais de 30% dos trabalhadores não rurais do setor privado nos anos 1950para cerca de 6% hoje) é amiúde apresentado como algo que “simplesmente aconteceu” — fato espontâneo da natureza além do controle humano, como glaciação ou quedas de asteroides. Longe disso.
Tanto o declinante poder de barganha dos trabalhadores desde 1980 quanto a estagnação de salários reais que o acompanha são produtos de intervenção humana deliberada: Uma revolução sistemática imposta a partir de cima, pelo estado em aliança com as Grandes Empresas, para transferir a receita para cima em escala maciça.
A partir dos início dos anos 1970, a imprensa de negócios passou a publicar artigos criadores de medo — e institutos de pesquisa interdisciplinar produziram rotineiramente “estudos” — acerca de uma iminente “escassez de capital,” e de necessidade de deslocar uma porção grande da receita nacional do consumo para o investimento. Um artigo de 1974 da Business Weekadvertia:
“Algumas pessoas obviamente terão de contentar-se com menos. … [S]erá uma pílula amarga para muitos estadunidenses engolirem — a ideia de viver com menos para que as grandes empresas tenham mais. … Nada do que esta nação, ou qualquer outra nação, tenha feito na história moderna é comparável, em dificuldade, com o trabalho de venda que precisa ser feito agora para fazer as pessoas aceitarem essa nova realidade.”
Isso significava “austeridade” do governo (leia-se: Corte na “rede de segurança social,” não nas transferências de riqueza para o Complexo Industrial-Militar e para as Grandes Empresas em geral) e um teto para os salários reais.
Da Recessão de Volcker no início dos anos 1980 até o presente, combater a inflação passou a ser a prioridade da Reserva Federal. E combater a inflação traduz-se, bastante literalmente, em enfraquecer o poder de barganha dos trabalhadores mediante lançar milhões deles para fora do emprego sempre que os trabalhadores ameacem ganhar alguma coisa nas negociações trabalhistas.
Ótimas tiras antigas de Tom Amanhã dos anos 1990 mostram “Greenspanman,” normalmente um banqueiro de maneiras bem-educadas, reagindo a notícias de desemprego cadente e salários em ascensão: Ele move a alavanca de sua máquina de taxas de juros para “aumentar o desemprego até nível saudável satisfatório.” No quadrinho seguinte, um trabalhador pedindo aumento de 25 centavos recebe um “Hah! Você não sabe que Greenspanman aliviou a escassez de trabalho? Suas exigências indutoras de inflação cairão agora em ouvidos moucos, meu amigo!”
Para que você não pense tratar-se de mera sátira, considere as próprias observações de Greenspan ao Congresso à mesma época. Greenspan assegurou à Colina do Capitólio que não previa aumento das taxas de juros por enquanto, a despeito de níveis de desemprego que ameçavam cair abaixo de 5%, porque a insegurança no emprego da economia tecnológica era quase tão boa quanto o alto desemprego para reduzir o poder de barganha dos trabalhadores (e portanto pressão de alta dos salários). Para os banqueiros centrais dos Estados Unidos, “inflação” = “altos salários.” Consideram eles aumento decuplicador do lucro como algo inflacionário?Bem, nem tanto.
O poder executivo sob Reagan também tomou uma decisão estratégica de detonar os sindicatos, começando com a greve na Organização dos Profissionais Controladores do Tráfego Aéreo – PATCO. A administração também inseriu na Junta Nacional de Relações do Trabalho membros seriamente pouco propensos a ficar ao lado de organizadores sindicais punitivamente demitidos (ilegal nos termos da Lei Wagner).
Você não gosta da Lei Wagner? Sorte sua. Tenha em mente, entretanto, que foi o governo federal — atuando no interesse dos empregadores — que estimulou os trabalhadores a voltarem-se para o modelo Wagner de eleições de certificação/qualificação(*), antes de tudo. Pelo mesmo motivo pelos quais haviam antes apoiado sindicatos da empresa dentro do Plano Estadunidense(**), grandes empregadores como a General Electric gostavam de sindicatos industriais como agentes de barganha oficialmente qualificados para todo um local de trabalho. Isso punha fim à necessidade de negociar com toda uma penca de sindicatos balcanizados de trabalhadores no mesmo local de trabalho, e punha a liderança sindical na posição de fazer cumprir contratos contra seus próprios membros, na eventualidade de operações-tartaruga ou greves-relâmpago. (* Eleições de certificação, ou de qualificação, são eleições nas quais os trabalhadores decidem quem os representará nas negociações trabalhistas. http://labor5.blogspot.com.br/2008/03/rule-i-definition-of-terms.html) (** Plano Estadunidense – Política dos empregadores, nos anos 1920, de não negociarem com sindicatos. Ver item da Wikipedia, American Plan.)
Como Adam Smith observou tão convincentemente há mais de duzentos anos, quando o governo se põe a controlar as relações entre trabalhadores e seus patrões, geralmente tem os patrões como seus conselheiros.
Sou totalmente a favor de os trabalhadores abandonarem o modelo Wagner. Adoraria ver os trabalhadores decidirem, em lugar de certificação/qualificação da Lei Nacional das Relações de Trabalho – NLRB, simplesmente começarem a atuar como sindicato por meio de deixarem o local do trabalho ou alegarem ausência por doença, operações-tartaruga, operações-padrão, greves-relâmpago, sabotagem verbal(*) e greves de simpatia e boicote voltadas para romper as cadeias de suprimento e distribuição corporativas. (* Ações verbais tais como contar segredos da empresa a empresas competidoras, denegir a organização junto a clientes e dizer coisas negativas acerca da empresa a trabalhadores, para diminuir a produtividade. Ver por exemplo Resistance and Power in Organizations, por John M. Jermier, David Knights, Walter R. Nord)
Sabe o que aconteceria se os trabalhadores adotassem essa abordagem em larga escala? Os empregadores correriam para convidar organizadores da ALF-CIO para o local de trabalho. Eles estimulariam os empregados a assinarem cartões de sindicatos e cabalariam suas forças de trabalho, fazendo reuniões para estimulá-los a votar para certificação/qualificação.
Se os trabalhadores parassem de jogar pelas regras dos patrões e adotassem uma estratégia de guerra de guerrilha plena, os patrões implorariam para que assinássemos um contrato — do mesmo modo que fizeram quando a Wagner foi inicialmente aprovada.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 28 de fevereiro de 2013.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.