De Kevin Carson. Artígo original: A Reminder on Unionism, 6 de agosto 2021. Traduzido para o português por Gabriel Serpa.
Um Lembrete sobre o Sindicalismo para os Analfabetos em Economia e História
Recentemente, o ex-candidato presidencial do Partido Libertário, Vermin Supreme, postou no Facebook um apoio à greve da Pepsico.
E recebeu o tipo de resposta que eu já esperava, dada a cultura predominante no Partido Libertário. Um direitista qualquer comentou:
A capacidade de fazer greve é uma liberdade. Mas o direito de demitir grevistas e contratar substitutos, que é restrito por força de lei com a NLRA (National Labor Relations Act), também é. Sem o governo para restringir este último, o direito à greve e os sindicatos não teriam sucesso.
Este é um argumento usado pela direita libertária com o qual estou bastante familiarizado, já que o vejo sendo dogmaticamente repetido por pessoas como Tom DiLorenzo no Mises. org, no FEE, e por gente que tem um conhecimento próximo a zero sobre a história real do trabalho.
O modelo de ação operária atual, baseada na greve convencional e declarada, é, em grande parte, uma criação da NLRA, e a principal razão para que fosse aprovada se deve ao fato de que os patrões precisavam dela. Sim, o NLRA protegeu o direito à greve, mas só o fez porque o patronato precisava de um regime trabalhista que domesticasse lideranças sindicais, limitando-as a realizar meras negociações sobre salários, benefícios e horas, além de fazê-las reconhecer o direito de seus patrões de chefiar. E, acima de tudo, era preciso engajar as lideranças sindicais no cumprimento dos termos de contratos que iam contra sua própria classe, além de conter protestos e greves de insatisfeitos incontroláveis.
Quanto à ameaça de demissão e substituição de todos, isso me faz lembrar muito das constantes ameaças, feitas por direitistas, de que a gerência substituirá os trabalhadores de fast foods por robôs, caso o salário mínimo deles seja aumentado: é o tipo de coisa de que se fala muito em sites libertários, mas que não acontece muito no mundo real. Isso porque há um custo enorme e natural que envolve conhecimento tácito e capital social da força de trabalho; algo que leva anos para se acumular. É por isso que as taxas de desperdício, os produtos defeituosos e os recalls aumentam muito quando os fura-greves assumem a produção.
Como eu disse há muito tempo, em resposta a uma afirmação do DiLorenzo:
Em primeiro lugar, quando a greve foi escolhida como uma arma do trabalhador, ela se baseava mais na ameaça da imposição de custos ao empregador do que na exclusão forçada de fura-greves. Não seria tão difícil que os seguidores cegos de Mises entendessem que a substituição de uma grande parte da força de trabalho, especialmente quando a oferta de substitutos é limitada pela simpatia com a greve, pode acarretar custos de transação consideráveis, além da interrupção da produção. O conhecimento idiossincrático da força de trabalho existente, o tempo e o custo de levar os trabalhadores substitutos a um grau de produtividade equivalente e os danos que a interrupção da produção a curto prazo podem causar às relações com os consumidores constituem um alto custo dissuasivo – representado pela ameaça de acabar saindo com um prejuízo considerável. O custo e a interrupção ainda são intensificados quando a greve é apoiada por simpatizantes de outras etapas da produção. Wagner e Taft-Hartley reduziram muito a eficácia das greves em fábricas individuais, transformando-as em guerras declaradas, travadas pelas regras de Queensbury, e também reduziram sua eficácia ao proibir a coordenação de ações em múltiplas fábricas ou indústrias. Os períodos de resfriamento da Lei Taft-Hartley, além disso, deram aos empregadores tempo para se prepararem com antecedência para tais interrupções e reduziram muito os custos informativos embutidos no treinamento da força de trabalho. Se tais restrições não existissem, a economia atual provavelmente seria muito mais vulnerável a tais interrupções do que a dos anos 30.
Mais importante, porém, o sindicalismo foi, historicamente, menos preocupado com greves ou com a exclusão de trabalhadores não-sindicalizados, e mais com o que os trabalhadores faziam dentro do local de trabalho para fortalecer seu poder de barganha contra seu patrão.
A Lei Wagner, juntamente com o resto do regime jurídico liberal corporativo, tinha como objetivo o redirecionamento da resistência trabalhista para longe do modelo de guerra assimétrica bem-sucedido, em direção a um sistema formalizado e burocrático, centrado em contratos de trabalho impostos pelo Estado e pelas hierarquias sindicais.
Se você quer voltar ao tempo em que o Estado não protegia o direito à greve, mas os sindicatos também não se limitavam apenas a fazê-las, vá em frente. Você vai jogar fora todas as proteções patronais da NLRA junto das proteções para o trabalho. Pode-se ter uma ideia de quais alternativas estavam disponíveis aqui. Portanto, peço encarecidamente: não me ofereça duas vezes! Seria um enorme sacrifício aceitar.