O poder não é para ser conquistado, é para ser destruído. Ele é, por natureza, tirânico, seja exercido por rei, ditador ou presidente eleito. A única diferença da ‘democracia’ parlamentarista é o escravo moderno ter a ilusão de escolher o senhor a quem obedecerá. O voto torna-o cúmplice da tirania que o oprime. Ele não é escravo pelo fato de existirem senhores; os senhores existem porque ele escolhe continuar sendo escravo. -Jean Francois Brient
O grande jornalista Chris Hedges não é bajulador do poder. Diferentemente dos intelectuais da corte David Brooks ou Thomas Freedman, Hedges fala verdade iconoclasta ao mais poderoso império de mentiras do planeta.
Hedges já arriscou a vida fazendo reportagens em todo o Oriente Médio, Sérvia, Alemanha Oriental e, mais recentemente, explorou os mais fundos bolsões de pobreza dentro dos Estados Unidos em seu livro (escrito juntamente com Joe Sacco) Dias de Destruição, Dias de Revolta. Ele tem despertado grande escárnio do establishment, herdeiro de Chomsky, criticando o apartheid israelense na Palestina e o imperialismo dos Estados Unidos no Oriente Médio. É também líder de denunciantes, apoiando Bradley Manning e Edward Snowden, chamando tais fontes de “o fluido vital do jornalismo.”
Hedges, Noam Chomsky, Daniel Ellsberg e outrosrecentemente ganharam processo contra a administração Obama a propósito da Lei de Autorização de Defesa Nacional a qual, de acordo com a juíza Katherine B. Forrest, autoriza o governo a levar a efeito repetição do internamento japonês ao destituir os súditos dos Estados Unidos de seus “direitos” (para começo de conversa, ilusórios) os quais são, em realidade, privilégios temporários.
Repetindo, Hedges não é nenhuma florzinha quando se trata de dizer a verdade ao poder, e de arriscar a própria vida e reputação em nome da justiça. A filosofia política dele, contudo, parece um tanto conflitiva.
Em recente entrevista a The Real News com Paul Jay, Hedges desenvolve argumentação aparentementeradical acerca do relacionamento adequado entre o povo e o monopólio da violência sob o qual as pessoas vivem: à luz do casamento fascista entre os partidos Democrático e Republicano, que disputam acerca de detalhes do plano de opressão corporação-estado, Hedges defende tática de levante popular maciço, para manter a elite do poder com medo do povo.
“…[N]ós enquanto cidadãos temos sido deixados, por meio das estruturas tradicionais do poder, impotentes para reagir. A única esperança deixada é sair às ruas e construir o tipo de movimento de massa que vi em países como Alemanha Oriental, onde meio milhão de pessoas convergiu para a Alexanderplatz em Berlim Oriental, ou como quando meio milhão de pessoas reuniu-se nas ruas de Praga na Praça Wenceslau durante a Revolução de Veludo, que também cobri.
Não sou ingênuo a ponto de dizer que funcionará, mas posso assegurar a você que apelar para o que o Partido Democrático tem de melhor não funcionará.
JAY: Esse movimento de massa, porém, não precisaria de algum tipo de estratégia eleitoral? De outra forma você terminará numa situação, não é, semelhante àquela do Egito, onde Mubarak cai mas não há estratégia eleitoral da esquerda em parte alguma, e portanto é a Irmandade Muçulmana que acaba–. [Autor: Sim, controlando o estado, você ia dizer.]
HEDGES: Não. Cobri estados totalitários por todo o mundo, e todos eles têm eleições.
JAY: Não, eu não disse – eu disse se não é necessária uma estratégia eleitoral.
HEDGES: Não tenho certeza. Creio que o problema é – você sabe, e Karl Popper escreve isso em A Sociedade Aberta e os Inimigos Dela. Ele diz que a pergunta não diz respeito a como fazer com que pessoas boas governem. Popper diz que essa é a pergunta errada. A maioria de pessoas atraída pelo poder, escreve Popper, é, na melhor das hipóteses, medíocre, como Obama, ou venal, como Bush.
A pergunta é: como fazer a elite no poder temer você? Quem foi o último presidente liberal que tivemos? Foi Richard Nixon – não por ser liberal, mas por temer movimentos. E eis uma cena – creio que está nas memórias de Kissinger, 1971, enorme manifestação contrária à guerra em redor da Casa Branca, e Nixon coloca ônibus vazios, ônibus urbanos um após o outro como espécie de barricada, e ele à janela torcendo as mãos, dizendo: Henry, eles vão romper a barricada e pegar-nos.
E é aí mesmo que você deseja o poder, que estejam as pessoas no poder. E é por isso que Sarkozy, que era um cretino, não conseguiu causar grandes danos à França, porque se você acorda um dia na França e diz aos estudantes universitários franceses que eles terão de pagar $50.000 dólares por ano para frequentar a universidade, eles tirarão o maldito país de circulação.”
Isso soa esplendidamente insurreicional, mas exatamente na mesma entrevista Hedges aplaude o poder incontestável e colossal do estado assistencialista e defende estratégia de tomada de poder via representação do estado.
Como consegue Hedges defender ambas as coisas? Como pode ele expressar ceticismo em relação aos meios políticos de Franz Oppenheimer e ao mesmo tempo propor poder mais expandido do estado como solução?
‘O governo civil, na medida em que instituído para segurança da propriedade, é na realidade instituído para defender os ricos dos pobres, ou aqueles que têm alguma propriedade daqueles que não a têm em absoluto.’ – Adam Smith
Por que Hedges, como Chomsky, não reconhece que aquadrilha de criminosos chamada o estado, que tenta reter monopólio percebido como legítimo do uso da violência em dado território (como definido por Max Weber), é em última análise mal desnecessário? Que faz mais mal do que bem?
Por que não entende Hedges que a livre troca não é a criadora de suas “zonas de sacrifício” esvaziadas, eivadas de pobreza, e sim o criador delas é o poder do estado dando força às reivindicações ilegítimas da classe capitalista! É o bazar livre de Marrocos ou da Tailândia que empobrece compradores e vendedores, ou é-o o dono de plantação com boas ligações políticas, que esmaga a competição por meio do sistema jurídico?
E, mais importante e urgenteme, será que Hedges não leu Mercados, Não Capitalismo?!
“O estado representa a violência em forma concentrada e organizada. O indivíduo tem alma; porém, como o estado é máquina sem alma, nunca poderá deixar de ter como parte intrínseca a violência, à qual deve sua própria existência.” -Gandhi
A Falta de Liberdade da Política Partidária
Ação direta é velha presença de prontidão constante da esquerda libertária e da esquerda autoritária, linha de frente das guerras trabalhistas do início do século vinte.Entretanto, estado de revolta perpétua, onde vigilância constante é o preço da liberdade, não é situação ótima. A meta é não termos, definitivamente, de preocupar-nos com o estado tornar-se tirânico, pelo fato de não existir estado.
E embora Hedges expresse ceticismo acerca de política partidária, fala favoravelmente de estados assistencialistas como a Suíça. Embora estado assistencialista seja preferível a estado beligerante, ambos são bombas de efeito retardado com diferentes comprimentos de fusível.
Por mais utópico que possa hoje parecer um estado assistencialista, a existência de um monstro latente, capaz de “dar” (roubar na ponta de cano de arma e em seguida redistribuir) às pessoas tudo o que elas queiram, é perfeitamente capaz de tomar tudo o que elas têm, inclusive as vidas delas. O estado assistencialista, com sua burocracia institucionalizada e alto índice de furto por meio de tributação, é sempre capaz de evoluir para estado beligerante, ou para força internamente opressora depois de algum afloramento de sentimento fascista.
É hoje evidente, com o levante fascista em toda a Europa, que paraísos liberais tais como a Suécia já assistiram ao partido neo-fascista “Suécia Democrática” ganhar 11% numa pesquisa em novembro último. Na Suécia, o grandioso aparato do estado atualmente usado para redistribuir justiça poderá cedo ser reinstrumentado como máquina para brutalidade e repressão em massa.
“Infelizmente, o problema não está limitado à Suécia. A história dos Democratas suecos é a história da Europa contemporânea. Na Hungria, a Guarda Húngara do partido Jobbik continua a perseguir judeus e ciganos. Na Grécia, a Alvorada Dourada agride políticos parlamentares e destrói empresas de propriedade de imigrantes.
Em Coccaglio, na Itália, a aliança Lega Nord anunciou “Natal Branco” durante o qual a polícia passa pente fino nos bairros a fim de encontrar imigrantes sem documentos. Na Noruega, partidário franco dos Democratas Suecos matou 77 pessoas pelo alegado “multiculturalismo” delas. Se os Estados Unidos estão progregindo rumo a confrontar seu passado racista, a Europa parece estar em espiral de aprofundamento do horrendo coquetel pré-Segunda Guerra Mundial de xenofobia e fascismo.” Daniel Strand, VICE, “A Tubagem de Ferro do Neofascismo Sueco.”
Quando indagado, em entrevista, quando a presente forma de capitalismo de estado entrará em colapso, e se a sequência resultará em mudança social positiva, Noam Chomsky disse: “A parte mais civilizada do mundo, com os mais elevados padrões culturais há 70 anos, era a Alemanha. Nada mais precisa ser dito.”
O surto de hiperinflação dos anos 1920 na Alemanha de Weimar, causado por indenização forçada imposta ao povo alemão com a assinatura do Tratado de Versailles, criou as condições para o fascismo nos anos 1930. A crise econômica atual, que se aprofunda (ela própria premeditado roubo da corporação-estado de mais de $700 biliões do pote de biscoitos do rebanho tributário) ameaça fazer vir à tona a natureza essencial da temporariamente benévola rede de benefícios dos monopólios europeus da violência, restaurando a função original e histórica dos estados:
“A ideia de que o estado surgiu para servir qualquer tipo de propósito social é completamente ahistórica. Ele surgiu em contexto de conquista e confisco —vale dizer, de crime. Surgiu para o propósito de manter a divisão da sociedade em uma classe proprietária e exploradora e uma classe dependente sem propriedade — isto é, para propósito criminoso.” —Albert Jay Nock
Hedges deseja manter aqueles no poder com medo do povo. Por que, contudo, é preciso, em absoluto, ter governantes? Por que não podem as pessoas (na ausência de privilégio de elite, escassez artificial e proteção de propriedade ilegitimamente adquirida conferidos pelo estado) organizarem voluntariamente suas próprias instituições descentralizadas? (Na verdade, elas já o fizeram, em grande maneira – as cooperativas de trabalhadores empregam 20% mais pessoas do que as corporações multinacionais).
Mobilização em Massa
Os anarquistas não procuram trabalhar “dentro” do sistema — porque as pessoas estão sofrendo agora e é burguês procurar mudança incremental e confortável enquanto fazendo concessões éticas à ordem estabelecida. A tática estatista é tomar o poder por meio do sistema político (o que amiúde resulta em cooptação e apenas raramente em concessões tais como autênticas provisões assistencialistas, inevitavelmente exploradas por corporações, como a Lei de Receitas do Programa de Saúde para Idosos – Medicare ou subsídios agrícolas para a Monsanto). O próprio Hedges reconhece que o estado assistencialista é uma concessão projetada para manter intacta a arquitetura capitalista como um todo:
”Quero dizer, Roosevelt foi uma figura de concessões. Havia o Partido Comunista, o Partido Progressista, organizações anarcossindicalistas como os Trabalhadores Industriais do Mundo – Wobblies, uma esquerda radical que fazia pressão [sobre ele]. Assim, Roosevelt diz que sua maior realização foi ter salvo o capitalismo. E está certo. E a maior parte das políticas que adotou ele as tomou da esquerda.”
O estado corporação toma um dólar de trabalho das massas e dá a estas mera fração — quebrando-lhes as pernas e doando-lhes muletas. Não deveríamos contentar-nos com o opiáceo da justiça superficialmente redistributiva — e sim antes de tudo lançar longe os grilhões que tornam tal redistribuição necessária!
“Se aos empregadores não se pode confiar o poder, como poderia ele ser confiado a políticos e a burocratas? A solução é despedaçar as estruturas do privilégio imposto pelo governo que coloca os trabalhadores em posição de dependência dos empregadores, antes de tudo.” -Roderick T. Long, Libertários Confrangidos, Libertarismo Significa Fortalecimento dos Trabalhadores
Mesmo que elegêssemos um moderno Eugene Debs – que Hedges com razão admira – o poder corrompe, e políticos que soam populistas num dia revelam-se títeres da elite de poder no dia seguinte.
O problema da representação fiel é outra deficiência da estratégia de buscar controlar o poder do estado o qual, como a energia nuclear, pode ser usado para o bem mas, como nas engrenagens de relógio, quando o inevitável colapso ocorre, o risco parece superar os benefícios.
Os estados, por meio do pseudorracismo do nacionalismo, cometem sistematicamente democídio e não há motivo para acreditar que essa tendência milenar será revertida em qualquer futuro próximo.
A outra estratégia libertária é, nas palavras do grupo trabalhista radical Trabalhadores Industriais do Mundo, “construir novo sistema dentro da concha do antigo.” Tornar o antigo sistema obsoleto — retirando consentimento de toda maneira possível, e tornando-se resistente às inevitáveis asneiras e à psicopatia institucionalizada do estado-corporação.
As cooperativas de trabalhadores, ordens legais policêntricas, tecnologias de libertação, e organizações de ajuda mútua são capazes de conseguir todo o bem social dos estados sem a violência sistemática e a sempre presente ameaça de psicopatas que roubarão o produto do trabalho de todo mundo, farão propaganda utilizando a escola estatal e a mídia controlada pelo estado, e mandarão pessoas para matarem os pobres súditos de outro estado.
Democracia Sem Ameaça de Violência
“Pessoas boas não precisam de leis para dizer-lhes para agirem responsavelmente, e pessoas más encontrarão algum modo de contornar as leis. ” – Platão
O que acontece no vácuo do poder do estado? Não o caos, e sim a paz. Comunas, ecovilas e comunidades intencionais são isentas de estado — ninguém fica com fome, e disputas são resolvidas sem bombas ou embargos. Zomia não tem estado. Os kibbutzim são sem estado dentro de um estado bastante pernicioso. A Comuna de Paris de 1871 era uma rejeição do estatismo. Contra todas as probabilidades, uma milícia socialista libertária eficaz foi suscitada em contraste com uma instituição militar bem financiada durante a Guerra Civil Espanhola de 1936-9, e sob controle dos trabalhadores diversos progressos agrícolas e médicos foram feitos.
Há muitos exemplos de autêntica democracia surgindo, como a estrutura organizacional do movimento Occupy — e isso é o que realmente aterroriza o estado. Contudo, será que a anarquia, na ausência de governantes, significa caos e violência? Poderá qualquer violência não mecanizada, localizada, jamais comparar-se a jogar bombas nucleares em cidades cheias de pessoas inocentes? Pelo contrário; parece que, quando as pessoas assumem o poder diretamente, não por meio da representação de classe estatista de elite, seguem-se paz e propriedade.
“Os anarquistas têm ponto de vista inteiramente diferente dos problemas que as sociedades autoritárias situam dentro do arcabouço de crime e punição. Crime é violação da lei escrita, e as leis são impostas por quadros da elite.
No final das contas, a questão não é se alguém está ferindo outros, e sim se está desobedecendo às ordens da elite. Como reação ao crime, a punição cria hierarquias de moralidade e poder entre o criminoso e os dispensadores da justiça. Nega ao criminoso os recursos de que ele possa necessitar para reintegrar-se à comunidade e parar de ferir outrem.
Numa sociedade dotada de poder, as pessoas não precisam de leis escritas; elas têm o poder de determinar se alguém as está impedindo de suprir suas necessidades, e podem conclamar seus pares para ajudarem-nas a resolver conflitos. Nessa abordagem, o problema não é o crime, e sim o dano social — ações tais como agressão e dirigir embriagado que realmente ferem outras pessoas.
Esse paradigma acaba com a categoria de crime sem vítima, e revela a absurdidade de proteger os direitos de propriedade de pessoas privilegiadas acima da sobrevivência de outrem. Os ultrajes típicos da injustiça capitalista, tais como a prisão dos famintos por furtarem dos ricos, não seriam possíveis num paradigma baseado nas necessidades.
Na greve geral de fevereiro de 1919 em Seattle, os trabalhadores tomaram a cidade. Comercialmente, Seattle fechou, mas os trabalhadores não permitiram que descambasse em desorganização. Pelo contrário, mantiveram todos os serviços vitais em funcionamento, mas organizados pelos trabalhadores sem gerência dos patrões.
Os trabalhadores geriam a cidade dia sim dia não do ano, de qualquer modo, e durante a greve provaram que sabiam como conduzir seu trabalho sem interferência gerencial. Coordenaram organização de toda a cidade por meio da Comissão da Greve Geral, formada de trabalhadores comuns de todos os sindicatos locais; a estrutura era similar à da, e talvez inspirada pela, Comuna de Paris.
Sindicalizados locais e grupos específicos retiveram a autonomia de suas funções sem gerência ou interferência da Comissão ou de qualquer outra entidade. Os trabalhadores eram livres para iniciativas em nível local. Motoristas de veículos de entrega de leite, por exemplo, criaram sistema de distribuição de leite nos bairros que seus patrões, restringidos por motivos de lucro, nunca teriam permitido.
Os trabalhadores em greve coletavam o lixo, montaram bandejões públicos, distribuíam comida grátis, e mantinham serviços de corpo de bombeiros. Também proporcionavam proteção contra comportamento antissocial — roubos, agressões, assassínios, estupros: a onde de crimes que os autoritários sempre preveem.
Guarda urbana integrada por veteranos militares desarmados percorria as ruas para vigiá-las e responder a apelos de ajuda, embora autorizada a usar apenas advertências e persuasão. Ajudada pelos sentimentos de solidariedade que criaram tecido social mais forte durante a greve, a guarda voluntária manteve ambiente pacífico, logrando o que o estado ele próprio não conseguia fazer.
Esse contexto de solidariedade, comida grátis e poder da pessoa comum teve parte em conter o crime em sua fonte. Pessoas marginalizadas ganharam oportunidade para envolvimento na comunidade, na tomada de decisões, e para inclusão social que lhes eram negadas pelo regime capitalista. A ausência da polícia, cuja presença enfatiza tensões de classe e cria ambiente hostil, pode em verdade ter levado ao decréscimo do crime das classes mais baixas.
Até as autoridades mencionaram o quanto a cidade estava organizada: o Major General John F. Morrison, acantoado em Seattle, afirmou nunca haver visto antes “cidade tão quieta e ordeira.” A greve foi por fim debelada por meio de invasão por parte de milhares de soldados e autoridades policiais, juntamente com pressão da liderança sindical.
Na Cidade de Oaxaca, em 2006, durante os cinco meses de autonomia no pico da revolta, a APPO, a assembleia popular organizada pelos professores em greve e outros ativistas para coordenar sua resistência e organizar a vida na Cidade de Oaxaca, criou vigilância voluntária que ajudou a manter as coisas pacíficas em circunstâncias especialmente violentas e divisivas. De sua parte a polícia e paramilitares mataram mais de dez pessoas — esse foi o único derramamento de sangue na ausência do poder do estado.” (115-117, A Anarquia Funciona (PDF), Paul Gelderloos)
Hedges deveria prestar atenção a seu companheiro de Occupy, o grande antropólogo anarquista David Graeber, ao ele escrever:
“A teoria do êxodo propõe que o modo mais eficaz de opor-se ao capitalismo e ao estado liberal não é o confronto direto, e sim o meio que Paolo Virno chamou de ‘retirada engajada,’ defecção em massa por parte daqueles que desejam criar novas formas de comunidade.
Basta vislumbre do registro histórico para confirmar que as mais bem-sucedidas formas de resistência popular tomaram precisamente essa forma. Não envolveram confrontar o poder de frente (isso usualmente leva a ser chacinado ou, se não, em tornar-se alguma — amiúde ainda mais execrável — variante exatamente da coisa antes confrontada), e sim uma ou outra estratégia de escorregar de sua prensa, por meio de fuga, deserção, fundação de novas comunidades.” (60-61) Fragmentos de Antropologia Anarquista.
Artigo original afixado por Sebastian A.B. 21 de julho de 2013.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.