Os governos francês, britântico e israelense, todos eles, acusaram o regime da Síria de usar armas químicas em sua luta em andamento com rebeldes apoiados pelo estrangeiro. O Secretário-Geral das Nações Unidas Ban Ki-Moon está urgindo Assad para que permita inspetores das Nações Unidas no país para confirmar ou refutar as alegações. E o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, embora evite cuidadosamente acusação direta, disse publicamente que prova da acusação seria um “modificador do jogo,” querendo com isso significar que ela serviria como pretexto para escalada do intrometimento dos Estados Unidos no conflito.
As alegações, contudo, soam ocas … ou pelo menos hipócritas:
- O governo israelense usou abertamente armas químicas na Margem Oeste pelo menos tão recentemente quanto em 26 de abril.
- O governo francês agrediu com gás centenas de manifestantes em Paris pelo menos tão recentemente quanto em 24 de abril.
- Armas químicas são usadas sistematicamente pelas forças do regime dos Estados Unidos para propósitos tão desimportantes quanto dispersar festas turbulentas de universitários. E se quisermos expandir nosso foco para armas mais gerais de destruição em massa, os Estados Unidos remanescem como o único país a jamais usar armas nucleares contra grandes populações civis. Suponho que poderíamos também discorrer acerca de fósforo branco e urânio empobrecido, mas vocês já entenderam a ideia.
- Tanto os Estados Unidos quanto o Reino Unidofornecem armas químicas a regimes repressores em todo o mundo.
Se lhes parecer inadequado comparar CS (“gás lacrimogênio”), a arma química específica usada por todos esses regimes como descrito acima, com GB (“sarin”), o agente que eles acusam Bashar al-Assad de usar, pensem outra vez: CS é especificamente projetado como arma química, tão ilegal para uso na guerra internacional quanto GB, nos termos da Convenção de Armas Químicas de 1997.
Os governos de França, do Reino Unido e dos Estados Unidos assinaram e ratificaram aquela convenção. O governo de Israel a assinou, embora ela permaneça não ratificada pelo Knesset. No entanto, todos aqueles quatro governos livre e frequentemente usam uma arma química ilegal “contra seu próprio povo,” os israelenses a usam em áreas estrangeiras que ocupam militarmente, e os Estados Unidos e o Reino Unido exportam-na para uso por outros governos “contra seus próprios povos” — enquanto condenam o governo da Síria por alegadamente exercer exatamente a mesma isenção doméstica/interna. Não que a Síria precise de tal isenção; ela é um dos cinco governos que nunca assinaram nem ratificaram a Convenção de Armas Químicas.
A definição de “arma química” e “arma de destruição em massa” é inflada ou desinflada como necessário para servir aos propósitos de uma classe dominante do regime, tanto no país quanto no exterior.
Quando um avião não tripulado [drone] acerta um míssil Hellfire II com uma ogiva de 8 libras de fragmentação/antipessoal numa festa de casamento no Paquistão, está tudo certo. Quando Dzhokhar Tsarnaev alegadamente explode duas panelas de pressão cheias de pólvora e bolas de bilha na Maratona de Boston, isso é “uso de arma de destruição em massa.”
Quando o governo dos Estados Unidos usa tanques para bombear CS numa igreja estadunidense, incendiar o edifício e metralhar os residentes em fuga, isso é “fazer cumprir a lei.” Quando Bashar al-Assad alegadamente usa sarin contra opositores armados que tentam depô-lo, isso é “assassinar seu próprio povo.”
Por que se mostram os governos tão ávidos em fazer distinções entre tipos de armas? Porque sem isso esses governos são parecidos a ponto de serem indistinguíveis uns dos outros.
Artigo original afixado por Thomas L. Knapp em 30 de abril de 2013.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.