Gary Chartier. Original: A Strange Understanding of Small de 15 de Janeiro 2016. Traduzido por Gabriel Serpa.
A comentarista conservadora Laura Ingraham tem uma estranha compreensão a respeito do que vem a ser um governo enxuto. E, infelizmente, ela não é a única.
Quando Nikki Haley — em resposta ao recente discurso de Barack Obama sobre o Estado da União — manifestou preocupação com o aumento da xenofobia e da paranoia em torno da imigração, Ingraham ofendeu-se. Ela tuitou: É uma pena que @NikkiHaley tenha perdido a oportunidade de ficar ao lado daqueles que querem trabalhar e pedem por respeito às fronteiras, prioridade aos trabalhadores americanos, e governo enxuto.
Não é difícil de decifrar a mensagem de Ingraham: ela quer que o governo exerça um rigoroso controle de fronteiras. Ela deseja que o governo intervenha na economia para impedir que os trabalhadores estrangeiros concorram com os aqueles que têm passaportes e residência nos EUA. E pensa que ao fazê-lo está advogando por um estado enxuto, com poucas atribuições.
Os dois primeiros objetivos não contradizem necessariamente o último. Talvez Ingraham acredite que a ação governamental deva ser menos intrusiva, e por isso devesse receber um menor financiamento na maioria das áreas, mas não no controle de imigração. Mas há uma certa contradição entre querer que o governo seja menor e levar a cabo o tipo de programa que Ingraham advoga.
A tal segurança das fronteiras envolve, necessariamente, uma forte militarização das mesmas, e implica no risco de aumento da violência. Mas também envolve uma intrusão cada vez mais profunda na vida das pessoas — e grandes inconvenientes para os viajantes, porque aqueles que atravessam a fronteira estão sujeitos a controles rigorosos, tendo seus movimentos cuidadosamente monitorados. E, claro, tudo isto custa muito dinheiro — que os americanos pagam com os seus impostos. Em suma, a segurança das fronteiras implica no uso da mão pesada do governo.
Programas destinados a impedir que pessoas sem autorização trabalhem nos Estados Unidos levam a controles invasivos no ambiente de trabalho, a monitoramentos que ameaçam a privacidade, à intrusão na negociação entre trabalhador e empregador, a rusgas no local de trabalho e à detenção ou prisão dos trabalhadores que não têm os documentos necessários, e ao reforço do princípio de que o Estado é a autoridade última que determina quem tem o direito de trabalhar e quem não tem. E, mais uma vez, estes são programas financiados por impostos, o que significa que os americanos pagam por eles. Dizer trabalhadores americanos em primeiro lugar, como faz Ingraham, é exigir um governo grande.
O candidato presidencial republicano Ted Cruz também parece gostar da ideia de proteger os trabalhadores à maneira de Ingraham. E faz chacota daqueles que querem relaxar os controles de imigração. Acrescenta que advogados, banqueiros e jornalistas também apoiariam tais medidas se seus empregos estivessem ameaçados pelos imigrantes. Depois choveriam histórias sobre os males econômicos que assolam nosso país, diz ele.
O uso da força para impedir que pessoas atravessem fronteiras imaginárias, e arbitrariamente criadas, impõe enormes custos humanos desarrazoadamente. Interfere com as relações espontâneas dos imigrantes com aqueles que lhes oferecem trabalho ou abrigo. E isso, por si só, é um grande problema. Mas o fato é que estes controles criam outros problemas para além dos custos aos imigrantes e àqueles que gostariam de contar com eles.
Os detratores da imigração agem como se a economia fosse um jogo de soma zero, pelo qual imigrantes prejudicam outros trabalhadores. Ignoram os benefícios para os consumidores e, mais amplamente, para a maioria dos trabalhadores. Os imigrantes ajudam a fazer crescer a economia nacional e mundial, em parte porque são mais produtivos nas áreas da economia que são mais avançadas tecnologicamente do que os Estados Unidos. Eles contribuem de forma consistente e previsível para a produção de bens e serviços úteis. Suas remessas — uma espécie de doação monetária que enviam de volta aos seus países de origem — ajudam a aliviar a pobreza nesses locais. Economistas também têm demonstrado, repetidamente, como essa presença se traduz em toda uma gama de benefícios econômicos para as populações que os acolhem. A imigração não um ônus — mas um bônus.
O respeito pelas pessoas pressupõe deixar que imigrantes tomem decisões sobre trabalho e moradia com todos aqueles que desejarem tratar com eles. Ao compreender-se como funciona a economia, entende-se também que os imigrantes contribuem para o todo — com benefícios coletivos e não apenas para si próprios. Além disso, a imigração é vital para escapar da pobreza. Estas coisas, por si só, seriam suficientes para a defesa da abertura das fronteiras.
Mas mesmo aqueles que não estejam convencidos por estas considerações deveriam compreender que controles da imigração, do tipo defendido por Ingraham, Cruz e outros, resultam num estado ainda mais forte — e interventor. Se formos contrários ao estado grande, por ele ser mais oneroso e intrusivo, teremos todos os motivos para defendermos uma ampla liberdade migratória.