Sem Justiça Não Há Paz: Ataque à Cultura de Armas de Fogo na Fonte

The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.

Há velho adágio acerca do que acontece quando as ideias, digamos … copulam. Esta coluna é subproduto de comentário de Dawie Coetzee acerca do email do grupo de trabalho do Centro por uma Sociedade sem Estado, e de subsequente troca de tweets que tive com @SugarKovalczyk. Dawie destacou que tais disparos tendem a ser feitos por pessoas que sentem “perda de agência moral(*); isto é, perda de identidade individual e da faculdade de desenvolver sua própria perspectiva das coisas de maneira ativa e criativa.” (* Agência moral é a capacidade do indivíduo de fazer juízos morais baseados em alguma noção comumente aceita de certo e errado e de ser considerado responsável por ações enquadráveis nesses juízos. Agente moral é “um ser capaz de agir com referência a certo e errado.” – Wikipedia)

Ademais, “tais incidentes não são, via de regra, impulsivos, e sim são a culminância de planejamento longo e cuidadoso. Não são ‘deflagrados’ pelo fato de armas de fogo estarem à mão, por exemplo. Os meios necessários serão encontrados: não há esforço grande demais para uma pessoa que espere morte iminente.”

Isto fortaleceu minha crença em que mudar as leis relativas a armas de fogo provavelmente terá pequeno efeito sobre a incidência de disparos em massa. As leis no papel só são eficazes, falando de modo geral, quando as pessoas já estão culturalmente predispostas a obedecê-las, e em sociedades onde o comportamento que elas regulamentam já não era, anteriormente, problema excessivamente grave, antes de tudo. Se a maioria dos disparos em massa são premeditados de longa data e visam a constituir demonstração de autêntica identidade individual por alguém que se sente subtraído da condição de agente moral, e se — como é quase certo — sempre haverá próspero mercado paralelo de armas de fogo nos Estados Unidos, duvido que períodos de carência para compra, ou restrições quanto a capacidade do tambor/carregador/pente, venham a fazer muita diferença.

Assim sendo, o que fará alguma diferença? Voltemos ao arbítrio moral. A primeira coisa que me veio à mente quando li a observação de Dawie foi uma entrevista que ouvi na Rádio Pública Nacional – NPR há anos. Psicólogo estava falando acerca de análise estatística de homens-bombas suicidas palestinos na Cisjordânia. O único fator que ligava todos eles era que, quando criancinhas, haviam ficado traumatizados ao verem seus pais humilhados e impotentes nas incursões casa a casa pelas Forças de Defesa de Israel – IDF, e suas mães e irmãos gritando colocados de cara para o chão. Eles cresceram com seu próprio senso de identidade dependente da necessidade de afirmarem sua iniciativa face àquela ausência de poder, mediante vingarem a desonra cometida contra suas famílias.

Pouco mais tarde, @SugarKovalczyk trouxe a minha atenção o papel que a perda da agência desempenha como fio comum em tantas outras formas de violência classificadas como “terror.” Se estivermos falando acerca da percepção de falta de poder e perda de agência moral, é difícil deixar de observar que tantos desses disparos tenham lugar no — digamos — local de trabalho. Quem poderia imaginar, nesta época de Dirigentes Executivos Principais – CEOs de estilo caubói, repressão a sindicatos, enxugamentos do quadro de pessoal, aceleração do ritmo de trabalho, salários estagnados, microgerência, coerção pela gerência e insegurança no emprego, que os trabalhadores se sentiriam destituídos de poder?

E quantos “terroristas” estão sendo gestados pela polícia urbana ao ela dar “espetáculos de força” ostensivos, ou por policiais abrindo portas a pontapés, gritando “Deitem-se no chão, seus f*****da p*****,” atirando contra animais de estimação, e levando crianças à histeria? Ou pelo fato de crianças verem seus pais e irmãos — ou trabalhadores de missões de resgate — sendo assassinados por aviões não tripulados por ordem de um “Comandante-em-Chefe” a dez mil milhas de distância?

É provavelmente também relevante o fato de essas pessoas decidirem afirmar sua agência depois de crescerem numa cultura onde os “heróis” são predadores violentos (Duro de Matar, Perseguidor Implacável e COPS). E não o será o fato de os Estados Unidos usarem o “alistamento das pessoas mais pobres” para mandarem pessoas para uma máquina que cria William Calleys e Lynndie Englands — e depois os trazerem de volta para o país?

Quando você destitui as pessoas de seu respeito próprio e senso de controle sobre suas próprias vidas, usa-as como meios para seus próprios fins, e as trata como lixo, não se surpreenda se não gostar dos métodos destrutivos que elas escolham para afirmar seu senso de identidade. Obviamente sintamos simpatia pelas vítimas inocentes quando a fera contra-ataca — mas também nunca nos esqueçamos de quem colocou as coisas em movimento.

Quer paz social? Desarme os policiais e os soldados. Tire o poder que têm os Dirigentes Executivos Principais – CEOs sanguessugas — criados pelo mesmo estado que quer regulamentar as armas de fogo — sobre nosso próprio direito de existir sobre a Terra.

Sem justiça não há paz. Isso não é ameaça ou apologética. É fato.

Artigo original afixado por Kevin Carson em 17 de dezembro de 2012.

Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.

Anarchy and Democracy
Fighting Fascism
Markets Not Capitalism
The Anatomy of Escape
Organization Theory