The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Anna Morgenstern.
O problema de qualquer tipo de ideologia “política” é ser formado em grande parte de uma “lista de itens” de proposta de temas específicos. Isso é verdade haja ou não uma ideia subjacente coerente por trás desses temas.
Examinemos primeiro o bode expiatório favorito de muitas pessoas, o “libertarismo”. O problema, como algum dos esquerdoides mais sagazes já argumentaram, é que a classe dominante vasculhará a tal lista de itens e lançará seu peso em favor das partes dela que fortaleçam sua posição, desprezando o resto, tornando assim o libertarismo uma forma menos socialmente agressiva de conservadorismo.
“Impostos mais baixos?”
Não há problema, reduzamos os impostos dos ricos.
“Menos regulamentação?”
Bem, removamos a regulamentação que contraria o poder corporativo, mas não qualquer outra (ver: Enron).
“Legalizar drogas?”
De jeito nenhum, chefe.
O que, porém, não é claramente entendido é que isso é também verdade do “liberalismo” e da assim chamada “democracia social” ou “socialismo democrático” ou o que mais seja. O moderno “liberalismo” estadunidense é simplesmente Corporatismo(*) de Massa com esteroides. É puro burocratismo. Você joga limpo e segue as regras e se você for excelente burro de carga ganhará dinheiro, mas não demais, a menos que se torne alguém da panelinha. Sob certos aspectos é uma versão um pouco menos severa de Corporatismo, mas da qual muito mais difícil evadir-se ou escapar. Os conservadores dão a você mais oportunidade de fazer as suas próprias coisas, mas também acabam com sua vida se você falhar. (*Ver Wikipedia em inglês, Corporatism e, dali, também o texto em outras línguas, inclusive Português.)
Não há ideologia política que consiga escapar desse processo de cooptação levado a efeito pela classe dominante. O que levou a um princípio chamado Lei Férrea da Oligarquia o qual afirma que toda forma de organização política termina tornando-se uma oligarquia. Acredito isso ser verdade de qualquer estrutura política, mas não necessariamente de toda estrutura social.
Em contraste, ser renegado, anarquista, agorista ou sindicalista é bem diferente. É o que chamo de ideologias “antipolíticas” ou “apolíticas.” Nesses esquemas a classe não dominante assume a tarefa de criar sua própria subsociedade que funciona fora da superestrutura político-econômica, em vez de tentar influenciar aquela superestrutura. Isso, naturalmente, leva a conflito nas margens o qual, até que seja alcançada certa massa crítica, requer dissimulação e evasão em relação à estrutura autoritária.
À medida que a superestrutura torna-se mais avançada e integrada, o conflito direto torna-se, ao longo do tempo, cada vez menos eficaz. Assim, em certo sentido, todas as ideologias “políticas” são o baluarte, as forças da linha de frente, da oligarquia da classe dominante. A era das greves de massa acabou-se depois da Primeira Guerra Mundial, nos Estados Unidos, e dos anos 1960, na Europa. Há, porém, formas de ação direta que sutilmente as substituíram, nas quais trabalhadores e autônomos tomam de volta da oligarquia sua mais-valia.
A reação tem sido o projeto de guerra-terceirização, no qual a classe dominante devasta os estados periféricos e em seguida implacavelmente explora a classe trabalhadora sobrevivente ali. Para conseguir isso é que foram planejadas a “guerra fria” e, agora, a “guerra contra o terror.” Orwell previu muito bem essa faceta das coisas em seu livro 1984. Quanto aos estados centrais, pão e circoou soma, impedir que a população resvale para as zonas cinzentas e mantê-la apoiando a oligarquia. Huxley, em seu livroAdmirável Mundo Novo, previu muito bem essa faceta das coisas.
O problema da classe dominante é que ela de fato não tem como manter esse estado de coisas para sempre. Nós a estamos fazendo sangrar, e ela está comendo suas próprias matérias primas para manter uma ineficiente economia oligárquica. Esse é o motivo de a ideologia do “verde” ter-se tornado popular nos últimos tempos. A classe dominante usa o medo da destruição ambiental para suprimir o consumo da classe trabalhadora(*), o que lhe permite “sustentar” a hegemonia corporativa. O medo de destruição ambiental tem base na realidade, mas é a própria oligarquia estado-corporação quem está causando a destruição. Ela usa os conservadores como forma de distrair a atenção, ao estes defenderem uma posição cômica e irresponsável “antiambiental” que ajuda a impelir a porção mais sensata da população para o arraial “pró-ambiental.” (*Ver o comentário, abaixo do original, de Misteriousness Al, que começa dizendo: ‘Os produtos verdes ou são mais caros ou em realidade dão à corporação controle estável sobre o movimento verde ao afastá-lo de ideias revolucionárias, trazendo-o para o consumo. …’)
A máscara da liberdade política e/ou da justiça está começando a exibir rachaduras em demasia. A classe dominante é forçada a agir cada vez mais aberta e diretamente para manter em andamento os pratos girando no ar, na medida em que as ineficiências e crises inerentes a grandes sistemas hierárquicos começam a ocorrer mais amiúde. O que impele mais pessoas para a zona cinzenta, para várias teorias de renegados (inclusive a do simples “não dou a menor bola-ismo). Isso cria mais crises para a classe dominante — faça espuma, enxágue e repita. A pergunta que se coloca diante de nós é se ela conseguirá recompor-se depois do colapso.
Tomar uma Rússia e acabar com ela, fazendo o colapso funcionar como “válvula de escape” de sua ineficiência estrutural e voltar à cena em forma levemente menos totalitária, mas não menos autoritária… ou talvez a China, equilibrando gradualmente a liberdade econômica para alguns com a hegemonia cultural sobre todas. Essas duas nações representam, talvez, experimentos para a classe dominante.
Nós renegados precisamos encontrar-nos mutuamente e fortalecer nossas próprias sociedades não políticas, a despeito de nossas diferenças de opinião, se tivermos a esperança de oferecer alternativa melhor do que esses experimentos.
Artigo original afixado por Anna Morgenstern em 5 de junho de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.