The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Thomas L. Knapp.
Muita agitação a propósito do ”fim do mundo” precedeu o 21 de dezembro de 2012, final do calendário maia de “Longa Contagem.” Na China, a data iminente inclusive ocasionou prisões em massa de supostos membros do “culto do dia do Juízo” — provavelmente religiosos comuns ou dissidentes políticos, naturalmente, mas o fato de o regime selecionar essa deixa como sua mais recente justificativa para suas atividades usuais indica que a lenda maia ganhou considerável profundidade em penetração social e de mídia.
Algumas das análises menos bombásticas do fenômeno de “Contagem Longa” observaram que tal contagem não necessariamente significava o fim do mundo, mas apenas o fim de longo período histórico, a ser seguido de um novo paradigma. Pois bem, eu não compro a mitologia maia para qualquer efeito, mas ocorre-me que 2012 pode na verdade ter significado em certa medida um ponto de inflexão.
Este ano, pela primeira vez em minha própria vida e em perto de um século tanto quanto eu saiba, o termo “anarquista” começou a pipocar como mais do que referência marginal em narrativas da mídia convencional. Vinha ganhando terreno na última década ou em torno disso com referências por exemplo aos ativistas do Bloco Preto em manifestações na Organização Mundial do Comércio – OMC/WTO e que tais, mas este ano começou a movimentar-se para o centro do palco.
Quando o estado grego viu-se sitiado e perto de completa desintegração sob o ônus das dívidas de seus políticos, a mídia usou os anarquistas como sua primeira bete noire, sublinhando seu envolvimento nos protestos anti-”austeridade” naquele país.
Em abril, uma das operações de segurança do Bureau Federal de Investigações dos Estados Unidos – FBI (vocês sabem, aquelas nas quais eles incessantemente induzem ameaçadoramente algumas pessoas instáveis para que cometam atos violentos, e em seguida precipitam-se para consertar as coisas quando aquelas pessoas realmente fazem algo errado) apanhou quatro “anarquistas” por eles terem concordado em explodir uma ponte em Ohio. Nada inusitado no tocante à operação em si — o FBI é de longe o mais prolífico grupo de urdidores de atos terroristas do mundo — mas hemos de ter em mente que os “perpetradores” não são selecionados aleatoriamente. O FBI escolheu “anarquistas” porque desejava sublinhar (leia-se: fabricar) uma ameaça específica.
A tendência continuou durante todo o ano, culminando em dezembro quando o Centro Sulista de Direitos dos Pobres – SPLC vasculhou seu chapéu mágico de “mate de medo os liberais para que eles puxem seus talões de cheque do bolso” e tirou … ruflar de tambores, por favor …“anarcocapitalistas.”
Para aqueles não familiarizados com a terminologia, “anarcocapitalistas” são irmãos de criação de mente levemente atrapalhada dos anarquistas de mercado (levemente atrapalhada porque identificam “capitalismo” com livres mercados, incorretamente situando-se na “direita” — isto é, na extremidade errada — do espectro político esquerda-direita).
As tentativas do SPLC, com algum sucesso (devido principalmente à estragégia eleitoral de mente curta “populista de direita” deflagrada nos anos 1980 e início dos 1990 pelos “anarcocapitalistas” Murray N. Rothbard e Lew Rockwell, em conluio com o político conservador Ron Paul), de vincular os “anarcocapitalistas” com o movimento direitista “Patriota.”
O interessante no atinente ao jogo de medo do SPLC não é essa conexão, por mais tênue, existir. É o SPLC entender que pode com eficácia agitar a bandeira preta anarquista como camisa ensanguentada para conseguir levantamento de fundos.
Para usar expressão da inteligência militar, isso é conhecido como “Indicador de Atividade do Inimigo.” A seleção do SPLC de bichos-papões levantadores de fundos usualmente se faz em compasso com — por vezes um pouco antes ou um pouco depois, mas nas mesmas áreas gerais que — o próprio cartaz de anúncio de peça teatral de segurança do estado. E prefere fazer-se um pouco antes, para poder declarar situação de “canário na mina de carvão” quando o próximo Grande Pavor eclodir.
É difícil dizer se 2012 foi indicador de anarquismo realmente aumentando, ou da intenção do estado de usar o anarquismo como desculpa para seu próximo “grande impulso” rumo ao totalitarismo. Se eu tivesse de adivinhar, diria que a resposta é um pouco muito de ambos … e que esses fenômenos tendem a alimentar-se mutuamente.
Com 365 anos de idade, a nação-estado westfaliana está-se desfazendo nas costuras e despedaçando-se em seu cerne. Cada dia torna-se mais claro que o estado tal como o conhecemos não pode competir bem-sucedidamente com as redes não estatistas que hoje funcionam em todo setor político e econômico no mundo inteiro. A sociedade sem estado não está apenas revelando-se cada vez mais viável teoricamente, como está surgindo abertamente como paradigma do próximo longo ciclo histórico.
Obervem, para ver tempos interessantes.
Artigo original afixado por Thomas L. Knapp em 26 de dezembro de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.