The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Thomas L. Knapp.
“Lembrem-se de que não havia Palestina como estado,” diz Newt Gingrich, atual concorrente com maior probabilidade de ser indicado como candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos (“Gingrich Descreve o Povo Palestino como ‘Inventado,’” Fox News, 10 de dezembro). “Ela era parte do Império Otomano. E acho que temos tido um povo palestino inventado …”
Primeiro, crédito a quem merece: Gingrich está certo.
Ao longo da história registrada, a região conhecida como Palestina tem sido uma bola de futebol chutada entre impérios (egípcio, assírio, babilônio, persa, romano, bizantino, vários califados, os otomanos), geralmente negada a seus habitantes qualquer coisa parecida com “identidade nacional.”
Isso começou a mudar no início do século 20. Líderes árabes locais, reagindo a sucessivas ondas de aliyah judaica (“ascensão,” retorno ao lar histórico) e na esperança de tornar o território um novo estado em vez de aquiescer em absorção por estados árabes já existentes, tentaram contrapor uma identidade nacional palestina ao incipiente Israel.
Houvessem aqueles regimes árabes já existentes sido bem-sucedidos em suprimir o novo estado judaico, teria sido provavelmente a última vez que teríamos ouvido falar de “palestinos” (exceto no sentido em que a palavra era usada antes de 1948 — referindo-se aos judeus nascidos na região). Aqueles árabes ter-se-iam tornado jordanianos ou sírios ou egípcios, gostassem ou não, e isso teria resolvido a questão por muito, muito tempo.
Foi a vitória de Israel na guerra de 1948 que possibilitou a uma identidade nacional palestina surgir e enrijecer-se no exílio, fomentada por “líderes” árabes que haviam perdido sua oportunidade de absorver e esmagar aquela identidade e agora descobriam nela útil instrumento de propaganda.
Todas as identidades coletivas desse tipo são inventadas, não no menor dos graus a de Israel, que seus cidadãos automontaram em menos de meio século, atuando a partir do sonho do jornalista austro-húngaro Theodor Herzl.
Os “estadunidenses” eram colonos ingleses em busca dos “direitos de ingleses” até, no segundo ano da revolução, Thomas Paine convencê-los a inventarem-se de modo diferente.
Alemanha e Itália só vieram à existência como nações coesas depois de unificadas pela força por homens como Bismarck e Garibaldi no século 19.
Olhem para quaisquer das linhas imaginárias traçadas no chão por políticos em todo o mundo — “fronteiras” — e descobrirão que tais linhas começaram com identidades inventadas, sobre as quais buscadores de poder engaruparam suas pretensões. A Índia de Gandhi e o Paquistão de Jinnah, a Gran Colômbia de Bolívar — o que quiserem. As nações inventam-se constante e espontaneamente, depois do que são tolhidas e têm sua energia drenada por suas próprias classes políticas em surgimento.
Condenar Gingrich por notar esse fato é tanto deixar escapar o ponto substantivo quanto minimizar a real falta de imaginação e caráter dele.
Na maioria das descrições da declaração de Gingrich é minimizado o fato de ele apoiar o acréscimo ao mapa de mais uma nação-estado westfaliana — baseada, como todos os estados da espécie, na exploração parasitária da identidade inventada.
Essa exploração parasitária, o estatismo, não é solução para as enfermidades sociais. Na verdade, exacerba essas enfermidades e impede que aqueles que se identificam uns com os outros encontrem soluções reais.
O governo político inibe o processo constante e natural de invenção e reinvenção, ao tentar congelar estaticamente identidades sociais e étnicas e canalizar a energia delas para benefício de parasitas. Parasitas como, numa palavra, Gingrich.
O primeiro passo rumo à paz — na Palestina e em todos os outros lugares — é a extinção do estado.
Artigo original afixado por Thomas L. Knapp em 12 de dezembro de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.