The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Gary Chartier.
O artigo a seguir foi escrito por Gary Chartier e publicado em Libertários Confrangidos, 13 de novembro de 2012.
Os professores Horwitz e Shapiro suscitam, ambos, perguntas oportunas e bem pensadas acerca da persistência da hierarquia numa sociedade sem estado.
Obviamente não tenho como mostrar de modo inequívoco, praxeologicamente, que haverá muito menos hierarquias nos locais de trabalho de um mercado emancipado—que deveríamos esperar, definitivamente, numa economia livre, mais emprego autônomo e maior proporção de parcerias e cooperativas. Permitam-me, porém, mencionar alguns motivos para achar que isso poderiaacontecer.
Grandes firmas hierárquicas parecem tendentes a serem acossadas por aqueles problemas de incentivo e conhecimento que complicam a vida dos planejadores centrais do estado.
Quanto maior uma organização, mais provável será que os gerentes careçam de informações cruciais. Isso se dá tanto pelo fato de que haverá múltiplas camadas separando vários agentes detentores de informação adequada (com pressões institucionais prejudicando a exatidão) quanto porque não haverá sistema de preços codificando a informação e utilizável para cálculo.
Ademais, o problema do principal-agente acossa grandes empresas em múltiplos níveis, promovendo formas de ineficiência na medida em que os trabalhadores—gerentes de alto nível ou empregados de linha de frente—perseguem suas próprias metas em vez da lucratividade da firma.
Assim, parece razoavelmente claro que, sendo iguais todas as outras coisas, quanto menor e mais horizontal for uma firma, de melhor qualidade será a informação disponível para todos os participantes. Quanto mais as decisões de produção se basearem nos preços reais do mercado em vez de em preços simulados de transferência intrafirma, maior será a probabilidade de elas serem mais eficientes e capazes de reação rápida e positiva à realidade. E quanto mais o trabalhador tiver recursos próprios aplicados no jogo econômico, mais provável será que ele tome decisões precavidas, eficientes e com reação rápida e positiva em relação ao cliente.
Pareceria, assim, poder-se esperar que firmas menores e mais horizontais fossem mais competitivas do que as maiores e mais hierárquicas. Não vemos, porém, muitas firmas menores e mais horizontais no mercado. Significará isso que, contrariamente às expectativas, as firmas maiores em realidade sejam mais eficientes?
Se é assim ou não dependerá, em grande parte, de perguntas empíricas que não podem ser respondidas a priori. Parece, contudo, que diversos fatores em nossa economia poderiam tender a ajudar as grandes firmas a não serem afetadas pelas deseconomias de escala que, de outra forma, as tornariam insustentavelmente ineficientes. Regras e regulamentações tributárias tendem a estimular concentração de capital e portanto aumento do tamanho da firma. Subsídios reduzem custos com os quais firmas ineficientemente grandes, de outra forma, teriam de arcar—e firmas grandes podem mais facilmente mobilizar os recursos necessários para capacitá-las a extrair riqueza do processo político do que firmas pequenas. E os trabalhadores amiúde não têm acesso aos recursos necessários para começar firmas, precisamente por causa do furto sancionado pelo estado e do privilégio garantido pelo estado. Parece provável que a eliminação desses fatores viesse a tornar mais viáveis alternativas à grande firma corporativa.
E se elas forem mais viáveis, pode-se esperar que se tornem mais comuns. A liberdade em relação à autoridade arbitrária é um bem de consumo. Dada a repulsa e a frustração com as quais muitas pessoas veem as tiranias mesquinhas do local de trabalho contemporâneo, suspeito tratar-se aquela de um bem de consumo que muitas pessoas gostariam de comprar. No presente, o preço é alto; há muito poucas oportunidades de trabalhar em parcerias ou cooperativas ou de escolher emprego autônomo. Portanto a pergunta é: o que poderia reduzir esse preço?
Esse preço é parcialmente afetado pela frequência relativa dos locais de trabalho hierárquicos versus não hierárquicos. Portanto, eliminarem-se escoras à hierarquia porá mais alternativas sobre a mesa. Ao mesmo tempo, as pessoas amiúde não escolhem essas alternativas, em virtude dos riscos associados com fazê-lo. Dizer adeus ao emprego corporativo significa assumir responsabilidade pessoal por assistência médica e aposentadoria (se, obviamente, você for trabalhador que, antes de tudo, sequer tenha essas opções, visto que muitos trabalhadores pretensamente de tempo parcial não as têm), requer que a pessoa disponha do capital necessário para tornar possível a criação de uma nova firma, e força a pessoa a encarar o espectro do desemprego se a nova firma que criar falir. Contudo, assistência médica e aposentadoria estão associadas a emprego corporativo precipuamente por causa do atual sistema tributário; e a assistência médica, em particular, seria mais acessível, de longe, na ausência de regulamentação estatal e cartelização promovida pelo estado, de tal modo que o desafio de cuidar da própria saúde em conexão com uma rede de ajuda mútua, digamos, seria muito menos intimidador do que no presente. O capital para nova firma estaria mais disponível se recursos confiscados pelo estado fossem postos no mercado e terra absorvida pelo estado fosse tornada disponível para apropriação/estabelecimento, e seriam menos necessários, de qualquer forma, se as regulamentações do estado não elevassem as exigências de capitalização. E o desemprego seria mais suportável se regulamentações do estado não elevassem o custo mínimo de vida, e poderia ser administrável por meio de apoio proporcionado por ajuda mútua.
Ademais, para mim não fica claro que seria impossível levantar dinheiro em mercados de ações e em bancos de investimento para parcerias, cooperativas e iniciativas de risco individuais. Há maneiras de garantir investimentos que não envolvam participação em governança—e obviamente significativa quantidade de ações à venda, atualmente, não necessariamente é acompanhada de direito a voto.
Portanto, pessoas que desejassem optar por locais de trabalho sem chefes achariam fácil fazê-lo na ausência de escoras para a hieraquia, erigidas pelo estado, e de barreiras ao emprego autônomo e a emprego em parcerias e cooperativas erigidas pelo estado . E o fato de elas fazerem essa opção, de tal maneira que as opções sem chefes se tornassem cada vez mais visíveis e numerosas, teria consequência também para locais de trabalho dominados por chefes. A disponibilidade de alternativas que oferecessem às pessoas mais dignidade, mais previsibilidade, mais segurança e mais oportunidades para participação em tomada de decisões exerceria pressão de mercado sobre as firmas corporativas convencionais, estimulando-as a tornar os locais de trabalho teoricamente dominados por chefes mais parecidos com outros tipos de firmas. As diferenças não desapareceriam, mas poderiam ser significativamente reduzidas.
Além disso, firmas dominadas por chefes poderiam ter a experiência de maior pressão para democratizarem-se em virtude da sindicalização. Na medida em que os acordos do estado com os sindicatos têm sido, todos os fatores considerados, desfavoráveis a ação coletiva no local de trabalho, a eliminação da regulamentação estatal do trabalho poderia abrir oportunidades para ação direta no estilo dos Trabalhadores Industriais do Mundo a qual poderia aumentar a sindicalização e, em decorrência, oferecer aos trabalhadores mais ampla proteção no local de trabalho. Repetindo, mesmo em empresas sem sindicatos, haveria pressão de mercado para reprodução de pelos menos algumas das facetas das firmas com sindicato, tanto para não perderem trabalhadores para aquelas primeiras quanto para conterem preventivamente iniciativas de criação de sindicato.
Persuasão moral normalmente não deve ser vista como provocadora principal de mudança social. Entretanto, apoio ativo público à dignidade e equidade do local de trabalho poderia obviamente levar a mudanças nos padrões e nas expectativas sociais, as quais reduziriam em muito a percepção do chefismo como legítimo, e estimulariam a profusão de alternativas.
Uma sociedade livre não eliminará e não poderá eliminar firmas de propriedade do investidor ou dominadas pelo chefe—nem deveria fazê-lo, não apenas pelo fato de que interferência violenta nesses padrões de propriedade e controle seria injusta mas, também, porque os trabalhadores poderiam amiúde beneficiar-se da faculdado de jogarem o risco para cima dos empregadores e investidores. Entretanto, eliminação do privilégio garantido pelo estado e remoção da agressão sancionada pelo estado poderiam criar oportunidades significativamente maiores para emprego autônomo e trabalho em parcerias e cooperativas.
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Artigo original afixado por Gary Chartier em 5 de novembro de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.