Outro Herói do Movimento da Liberdade: Jeremy Hammond

The following article is translated into Portuguese from the English Original, written by Kevin Carson.

Enquanto os movimentos anarquista, antiguerra e de liberdade de informação focam sua atenção — corretamente — na tortura e detenção de Bradley Manning por expor os crimes de guerra dos Estados Unidos, dediquemos também alguma atenção a outro herói: Jeremy Hammond.

Hammond seria, alega-se, o principal hacker por trás da invasão, pelo LulzSec, em dezembro último, da Stratfor, dita firma privada de inteligência corporativa e análise estratégica com estreitos vínculos com o estado de segurança nacional. Como alguém familiarizado com a leitura regular das análises feitas por ela (prestativamente “pirateadas” e distribuídas por assinante numa lista de email que eu frequentava), posso testemunhar de sua qualidade.

A Stratfor, embora firmemente do lado dos bandidos, efetua avaliações brutalmente francas e realistas acerca de situação estratégica para a comunidade estadunidense de segurança nacional e para corporações transnacionais necessitadas de análise situacional amoral e honesta dos países que pretendem sangrar, estuprar e pilhar.

As análises da Stratfor de realidades geopolíticas, tais como a progressiva consolidação da Organização de Cooperação de Xanghai como contraposição à hegemonia militar dos Estados Unidos na Ásia Central, assemelham-se a um resumo do Partido Interno para o Grande Irmão acerca do equilibrio de poder entre Oceânia e Eurásia. AStratfor merece cada dólar que recebe dos que a pagam.

O LulzSec (e, alega-se, Hammond) invadiram a intranet da Stratfor e tornaram público enorme acervo de documentos, emails e dados de assinantes internos. O que representou golpe quase estropiante para a Stratfor, bem como revelação dos termos cínicos usados pelos compadres do estado de segurança nacional ao discutirem o mundo quando acham que a plebe que fornece sangue e dinheiro para as guerras deles não está ouvindo. Nenhuma conversa acerca de “disseminar a democracia” e “defender nossas formas de liberdade,” quando as mulheres e os empregados estão dormindo e estamos “só nós os homens” sentados em cadeiras de couro com charutos e copos de conhaque.

Obviamente a reação da imprensa majoritária e do comentarista liberal do establishment é a de falar besteiras, com o tom variando de denúncia implacável a preocupada discussão do “passado complicado” de Hammond. Parte do qual, como suas detenções por causa de maconha, só um idiota consideraria como relevante para qualquer efeito.

O correspondente da AP Michael Tarm chama Hammond de “hacker obstinado e mal-intencionado,” com base em alegado bate-papo online no qual ele “parece deleitar-se com o dano que causou à Stratfor.” Em outras palavras, ele é “obstinadamente mal-intencionado” contra o estado corporativo exatamente do mesmo modo que Sam[uel] Adams contra o Império Britânico e Nelson Mandela contra o Apartheid. A alegada exultação de Hammond com os danos à reputação da Stratfor soa-me parecidíssima com os estadunidenses aclamando a derrubada da estátua de Saddam em abril de 2003.

Tarm pode considerar os Pequenos Eichmanns da CIA, do Pentágono, do Departamento de Estado e da Stratfor como os “mocinhos,” e Hammond e o LulzSec os “bandidos.” Isso, porém, dificilmente torna Hammond uma caricatura sociopata como Leopold e Loeb. Qualquer pessoa que lamente terem sido tornadas públicas as identidades e informações de crédito dos assinantes da Stratfor deveria lembrar que entre essas pessoas estavam um ex-Vice-Presidente e um ex-Diretor da CIA.

É bom que o FBI tenha prendido as seis pessoas no mundo com habilidades equivalentes às das que obtiveram as informações rastreando a Stratfor. Acredito que tais habilidades estão proliferando mais depressa do que a velocidade em que os que as possuem possam ser presos. O primeiro rastreamento de informações de grande porte, contra a HBGary, ocorreu há mais de um ano, antes de Sabu ser preso — e quando sabe-se lá quantos hackers de segundo e terceiro nível aprendiam tendo-o como mentor.

Se o FBI tiver fracassado em eviscerar o capital humano do Anonymous, então quando este conseguir se reagrupar o FBI estará no topo da lista de instituições que deveriam estar “com muito medo.” O analista de segurança John Robb sugere que a segurança na enorme infraestrutura de segurança do FBI está aproximadamente tão cheia de buracos quanto as de HBGary e Stratfor. Imaginem a cena: Arquivos não editados acerca de ativistas, novas identidades de participantes do programa de proteção de testemunhas etc. A despeito do atual percalço, acredito que rumamos para um futuro próximo no qual outro órgão do governo ou grande corporação será vítima de uma invasão de escala similar à da Stratfor toda semana.

Vilãos e heróis usualmente trocam de lugares em descrições históricas quando uma revolução vence. Os “insurgentes,” “terroristas” e “traidores” tornam-se os “combatentes pela liberdade” de amanhã. E os “líderes” e “patriotas” de hoje tornam-se os tiranos e terroristas de estado de amanhã. Estamos nos estágios precoces de prolongada luta revolucionária entre redes auto-organizadas e instituições hierárquicas — luta na qual, acredito, as forças de associação voluntária e horizontalismo quase certamente vencerão no longo prazo. E quando a vitória for alcançada, quando o Pentágono for demolido e semeado de sal e o NYSE for um armazém de depósito de esterco, pessoas como Assange, Manning e Hammond serão lembradas como mártires da Revolução.

Stratfor está do lado do mal e as alegadas ações de Hammond contra ela foram inteiramente justificadas. Condeno a detenção e o processo contra ele.

Artigo original afixado por Kevin Carson em 27 de março de 2012.

Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.

Anarchy and Democracy
Fighting Fascism
Markets Not Capitalism
The Anatomy of Escape
Organization Theory