The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Como alguém que mais defende Paul Krugman do que não, sei que me contraponho à corrente libertária majoritária. Dadas, porém, as realidades da forma de capitalismo de estado sob a qual vivemos — sistema essencialmente corporatista cujas semelhanças com o “livre mercado” são em sua maioria coincidências — descubro que os keynesianos estão certos quanto à análise das causas da Grande Recessão.
Aqueles da Direita que acham que o problema é aos ricos faltar dinheiro para “investir em empregos” estão vivendo num mundo de sonhos. Não, os ricos investiram dinheiro em esquemas Ponzi tais como a bolha imobiliária precisamente porque tinham mais capital nas mãos do que conseguiam encontrar meios produtivos de investir. A economia já andava afligida por excesso de capacidade industrial que mal conseguia ser utilizada, mesmo com o nível da demanda acelerado por dívidas assentadas em patrimônio líquido inflado pela bolha. Os ricos já têm mais dinheiro do que desejam investir, porque nenhuma pessoa sã contrataria pessoas para produzirem mais coisas num ambiente de menos pessoas empregadas comprando coisas — e de poder de compra dos empregados não mais inflado por empréstimos hipotecários da Ditech.
Em termos simples, não é o nível de investimento o problema — e sim o nível de demanda.
Portanto os keynesianos estão corretos quanto à causa próxima do problema — a análise deles aplica-se muito melhor à economia corporatista na qual vivemos, se não a um mercado genuinamente emancipado, do que a da Direita libertária. A principal falha deles é a incapacidade de avançar para além das causas próximas e ir à raiz do problema.
Bom exemplo é a coluna de Krugman no New York Times, “O Hiato da Produção”(19 de janeiro). Ele aponta para um hiato estimado entre o PIB real e potencial, resultante de insuficiência na demanda agregada, de $903 biliões de dólares no próximo ano. Até aqui, tudo bem.
O que ele deixa de observar é que nem tudo que acrescenta um dólar ao PIB é bom. Muito do PIB equivale, na linguagem de Frederic Bastiat, ao custo de substituir vitrines quebradas. Muito do PIB, em seu ápice, resultou de desperdício subsidiado e obsolescência planejada. Portanto, com todo o devido respeito por Krugman, a maior parte da falta de produção que ele identifica é porcaria de má qualidade projetada para cair aos pedaços afim de manter a capacidade industrial plenamente utilizada, e a demanda respectiva foi alimentada inteiramente por pessoas endividando-se para continuar a comprar tal porcaria de má qualidade.
Não há como contornar o fato de que, visto ser nossa economia atualmente estruturada nos moldes do capitalismo de estado, grande parte das pessoas está empregada fabricando coisas inúteis. E simplesmente não há como impedir drástico decréscimo das cifras de PIB nominal e de emprego a não ser por meio do subsídio de comportamento patológico para manter as pessoas consumindo.
Krugman está inteiramente correto em argumentar que, do modo como a economia está atualmente estruturada, o único modo de obter-se pleno emprego é o governo gastar para compensar a queda da demanda. Não há porém cenário plausível no qual a economia, uma vez dado o pontapé inicial de acionamento da bomba keynesiana (desculpem-me a metáfora mista), continue a funcionar de modo autossustentável sem a continuação dos gastos do governo. Não há cenário plausível no qual a economia sequer atinja os níveis de demanda, ou de produção nominal, que existiam há três anos.
A “administração da demanda agregada” keynesiana funcionará este ano, se o governo incorrer num déficit de $1 trilião de dólares. Se, porém, o orçamento for equilibrado no ano que vem, a economia voltará à depressão. Assim, o antigo modelo keynesiano, no qual o governo incorre em déficit nos tempos difíceis e tem tal déficit pago ao gozar de excedente nos tempos bons está tão extinto quanto o pombo-passageiro. Não há tempos bons, do modo como hoje estruturado o capitalismo de estado, sem déficit perpétuo.
Portanto incluam-me entre os “deflacionistas” dos quais Krugman usualmente zomba. A realidade substantiva com que nos defrontamos é que são precisos menos investimento em capital físico, e menos horas de trabalho, para produzir o que a maioria das pessoas considera padrão de vida confortável.
A agenda tanto de Bush quanto de Obama foi a de sustentar os valores de ativos inflados por rendas, como fonte de demanda agregada, e inflar os dólares de investimento e horas de trabalho necessários para produzir dada unidade de valor-uso. A única saída, porém, no longo prazo, é exatamente o oposto: Eliminar a porção do preço de bens e serviços que resulta de rendas decorrentes de escassez artificial, de tal modo que a pessoa média possa viver confortavelmente com semana de trabalho mais curta.
No curto prazo, o keynesianismo é a única maneira de impedir o colapso do capitalismo de estado. No longo prazo, porém, o capitalismo de estado é insustentável. A única saída é ir além do capitalismo de estado.
No final, teremos de encontrar algum meio de sair da roda do hamster.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 21 de janeiro de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.