Novo livro (Escalada: Mudança de Jogo em 2012, por Mark Halperin e John Heilemann) afirma que o presidente dos Estados Unidos Barack Obama afirmou a seus assessores, durante sua última eleição, ser “realmente eficaz em matar pessoas.” Ele está certo.
Por exemplo, na última sexta-feira um ataque de drone [avião não tripulado] visando Hakimullah Mehsud, do Tehreek-e-Taliban Paquistão (TTP) teria acabado com a vida do alvo e de pelo menos outras 25 pessoas. Como se para fornecer prova adicional da condição do presidente de homicida bem-sucedido, o cômputo de mortes decorrentes daquela decisão poderá atingir muito mais do que os diretamente afetados. Isso porque referido ataque foi efetuado com violação direta de divulgada promessa a Shahbaz Sharif, ministro principal da Província de Punjab, no Paquistão, de que os Estados Unidos não efetuariam quaisquer ataques de drones durante suas conversações de paz com o TTP. Aparentemente essas conversações dependiam de tal promessa, e o TTP imediatamente retirou-se, dizendo que não deseja paz com “escravos dos Estados Unidos.”
A reação do Departamento de Estado dos Estados Unidos foi afirmar que as conversações de paz eram “assunto interno” do Paquistão. “Assunto interno” ou não, eram esperança de paz no Paquistão, e é preciso ser muito insensível para ordenar o ataque apesar disso.
Você talvez esteja dizendo para si próprio que, apesar desse programa em andamento de matança por meio de drones por todo o Oriente Médio, pelo menos Obama progrediu em ir mudando de ideia quanto ao envolvimento dos Estados Unidos no Iraque. Se você se disse isso, falou cedo demais. No mesmo dia em que fuzilou esperanças de paz no Paquistão, Obama reuniu-se com o primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki. O foco dessa conversa — curiosamente não impedida por ataque de drones dos aliados de nenhuma das partes — foi como o governo dos Estados Unidos poderia ajudar a “repelir” a al Qaeda no Iraq.
Juntamente com seus conhecimentos gerais de todos os tópicos relacionados com matar, Obama presenteou al-Maliki com ajuda militar adicional. Entre as contribuições de Obama para tal ciclo de violência estarão aviões de combate F-16 colocados nas mãos do primeiro-ministro.
Obviamente, com tudo isso foi feita a sugestão de Obama de que os mortos na guerra do Iraque seriam vistos com grande respeito se o Iraque se tornasse uma democracia plena. Presumivelmente, isso significa ser similar à democracia plena que deu início à guerra.
Pode ser que Obama esteja confiante em que al-Maliki usará essa dádiva de força militar para inaugurar nova era de paz e liberdade, mas os cidadãos do Iraque têm razões para sentir de modo diverso. Não parece improvável que a crescente desordem no Iraque deva-se em parte ao comportamente cleptocrático e autoritário do líder do país.
Dar a al-Maliki as armas de que ele precisa poderá ser uma forma de combater a al Qaeda, mas será também meio de assegurar a continuação da repressão violenta aos civis iraquianos.
Isto destaca uma das coisas que tornam Obama tão verdadeiramente excelente em matar pessoas: mesmo quando ele não pode promover o derramamento de sangue diretamente, pode pelo menos ajudar algum outro governo a fazê-lo à moda própria. Amiúde, há também mortes dominó resultantes de efeitos adversos imprevistos ou distúrbios sociais que o envolvimento mais direto dele causa, como no acima mencionado ataque à paz no Paquistão.
Entretanto, essa perícia técnica não é exclusiva dele. Não é só Obama que é “realmente eficaz em matar pessoas.” Hiroshima e Nagasaki sabem muito bem como Truman era bom nisso. É difícil, também, competir com as campanhas de Lyndon Johnson no Vietnã.
Além de apenas os dos Estados Unidos, outros chefes de estado (como o já mencionaldo al-Maliki) também não são muito incompetentes nisso. Há bastantes exemplos tão óbvios que nem preciso nomeá-los. E o mesmo se aplica a todo chefe de estado, especialmente no funcionamento de sua força policial, pelo tempo em que desejem continuar sendo chefes de estado.
Há muitas áreas de razoável debate acerca de se o governo é instituição eficaz ou ineficaz. Matança não é uma dessas áreas.
Se você gosta de ver pessoas morrendo em grande número sem qualquer fim à vista, manter os governos do mundo no poder é sua melhor opção. Se você gosta de ver pessoas não morrendo em grande número sem qualquer fim à vista, trabalhar contra o governo poderá não resolver o problema, mas provavelmente mal não fará.
Artigo original afixado por Jason Lee Byas em 4 de novembro de 2013.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.