The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Thomas L. Knapp.
“Filosofia ideológica e movimento político do qual se pensava constituir antiquada excentricidade, relíquia do final do século 19, voltou à ribalta,” escreve Abe Greenwald em Comentário. Pior ainda, opina Greenwald, esse retorno é prenhe da “consequência bastante de a Secretária de Estado Hillary Clinton ter recentemente denunciado o terrorismo ‘venha ele da direita, da esquerda, da al-Qaeda, dos anarquistas, de quem seja.’”
Do mesmo modo que aqueles boatos a respeito da morte de Mark Twain, asseverações recorrentes acerca da morte e da ressurreição do anarquismo são grandemente exageradas. Greenwald interpreta erroneamente suas próprias observações. O que ele está vendo não é ressurreição, é ressurgência: Fenômeno cíclico impulsionado precipuamente pelo fidedigno fracasso do estado moderno em cumprir suas mais básicas promessas de paz, prosperidade e respeito pelos direitos humanos.
Em seu menor nível de introspecção, o anarquismo parece-se a reação puramente visceral a esse fracasso. Quando alguém é confrontado com alguma manifestação particularmente repugnante de X, é apenas natural postular reflexamente Não-X como solução. O crescimento do estado — seu tamanho crescente, a sempre mais insistente inserção de si próprio em novas áreas de interação humana e sua abrangência em regularizar e em cooptar, em vez de sanar, doenças sociais — torna-o cada vez mais o suspeito usual do papel de X. Assim as cada vez mais frequentes renascenças do anarquismo como teatro populista de rua.
Para além dessa expressão visceral, o anarquismo — oposição fundamental, baseada em convicções firmes, à existência do estado — sobrevive na forma de numerosas tradições intelectuais inconsúteis (embora amiúde em evolução), esperando, ou melhor dizendo, implorando ser adotadas por aqueles atores de rua tanto como ferramenta explanatória quanto como plano para ação mais bem pensada.
À medida que o experimento hobbesiano que chamamos de “o estado” polariza-se ao longo das linhas de suas próprias contradições de autoritarismo de “esquerda” e “direita” (Hobbes, ao encontro de Hegel!), o anarquismo emerge não como antítese, mas síntese. Quando o estado esgota ficções convincentes (“constitucionalismo,” “ditadura do proletariado,” “fuhrerprinzip”) para mascarar essas contradições e se torna enfraquecido, perto de colapso na cova que ele próprio cavucou, é o anarquismo que invariavelmente vemos aproximar-se, pá na mão, pronto para enterrar o experimento fracassado e para voltar-se, com humanidade, para novos experimentos.
Por cerca de dois séculos os anarquistas — por vezes em ofegante expectativa, por vezes em espírito estoico de resignada pertinácia — vieram buscando inspiração na admoestação de Catão o Velho de que Cartago precisava ser destruída. O estado, dizemos, precisa ser destruído, quanto mais cedo melhor. Alguém pode passar o sal, por favor?
Artigo original afixado por Thomas L. Knapp em 28 de março de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.