The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Há várias semanas Julian Sanchez anunciou sua intenção de deixar o Instituto Cato se a tentativa de aquisição pelos irmãos Koch for bem-sucedida. Corey Robin valeu-se da oportunidade para dar um puxão de orelhas nos libertários por nossa alegada incoerência no tocante à cultura do trabalho (“Quando os Libertários Vão para o Trabalho,” 7 de março.
Sanchez não questionou o direito dos Koch de adquirirem o Cato se puderem. Simplesmente criticou a aquisição pelos Koch considerando-a indesejável. Depois de tal aquisição, argumentou ele, ele provavelmente enfrentaria restrições a sua autonomia e integridade por parte dos novos donos, com sua liberdade de pesquisar e falar a verdade subordinada à agenda política daqueles.
Tudo bem, diz Robin. Por que, entretanto, libertários como Sanchez não levam tal análise a sua conclusão lógica? A Esquerda tem criticado sistematicamente não apenas a cultura da subordinação no local de trabalho, como também as estruturas de poder econômico nas quais ela se assenta.
Sanchez menciona ausência de compromissos de hipoteca ou família como fator em sua decisão. Ahá, diz Robin — é exatamente isso! A vasta maioria dos trabalhadores arca com esses compromissos econômicos, dados os diferenciais de riqueza e poder no qual se assenta o sistema de salários, e portanto não pode dar-se ao luxo de simplesmente abandonar o emprego autoritário. Assim Sanchez, libertário típico que é, deixa de atentar para as formas pelas quais os menos privilegiados são sujeitados a condições coercitivas de trabalho como resultado da estrutura econômica.
Corey, eu gostaria de apresentar a você os libertários de esquerda. Estou associado a excelente grupo deles no Centro por uma Sociedade sem Estado — um instituto de pesquisa interdisciplinar anarquista de mercado de esquerda onde sou associado de pesquia e comentador de notícias — e sobrepomo-nos em boa parte a outro grupo que integra a Aliança da Esquerda Libertária. Analisar as formas pelas quais o estado intervém no mercado para fortalecer o poder de barganha dos empregadores contra o dos trabalhadores é nosso — e meu — pão de cada dia.
Como libertários nós, tanto quanto Julian Sanchez, não queremos restringir a liberdade de contrato do emprego assalariado. Vemos, porém, subordinação e hierarquia como indesejáveis. E desejamos reduzir, tanto quanto possível, restrições materiais que promovem a entrada em tais relacionamentos autoritários.
No capitalismo — por oposição a no livre mercado — o estado torna os meios de produção artificalmente escassos e dispendiosos para os trabalhadores, e eleva o limiar da subsistência confortável, de tal maneira que os trabalhadores fiquem artificialmente dependentes do trabalho assalariado.
O estado impõe direitos artificiais de propriedade e formas de escassez artificiais, como a assim chamada “propriedade intelectual” (fonte do sobrepreço de $150 dólares nos tênis da Nike, que custam $5 dólares para serem produzidos) e títulos de proprietário fundiário ausente para terra vaga e não beneficiada. Organiza a economia em cartéis oligopolistas, com preços “inelásticos” (provavelmente sobrepreço de 20% na maioria das indústrias) e métodos de produção enormemente ineficientes e com despesas gerais [overhead] elevadas. Impõe barreiras à iniciativa de autoemprego, mediante inflar os dispêndios de capital requeridos para produção, por meio de coisas tais como códigos de “segurança” que criminam o uso de bens de capital domésticos ordinários, e leis de zoneamento que criminam empresas domésticas. Tolhe a subsistência confortável por meio do fomento de bolhas imobiliárias e crimina a competição de técnicas de construção vernáculas.
A exploração econômica só é possível quando a competição oriunda da possibilidade de autoemprego é impedida e o emprego assalariado se torna a única alternativa disponível. Do mesmo modo que o estado britânico acumpliciou-se com os empregadores no tocante aos Cercados [Enclosures] para obstruir acesso a oportunidades naturais, os empregadores modernos, no capitalismo corporativo, usam o estado para eliminar oportunidades naturais como fonte de renda. O efeito global é o aumento da fatia de necessidades, que para serem satisfeitas passam agora a depender do trabalho assalariado em vez de do autoemprego dos setores informal e doméstico, e o aumento do número de pessoas em busca de emprego em comparação com os empregos disponíveis. Portanto, os trabalhadores são forçados a competir por emprego num mercado comprador.
Num livre mercado, com todos esses direitos artificiais de propriedade e formas de escassez artificial removidos, a situação se inverteria. Muitas pessoas na margem deixariam totalmente o emprego assalariado, cada família requereria menos trabalhadores assalariados para trazer dinheiro para casa, os empregados assalariados teriam de trabalhar menos horas para suplementar seu sustento próprio na economia informal, e milhões de pessoas se aposentariam mais cedo. Os empregadores se veriam forçados a competir por trabalho, em vez do inverso, e os trabalhadores teriam os meios materiais para abandonar a mesa de negociações e viver de seus próprios recursos enquanto à espera de ofertas mais palatáveis.
Em suma, o estado é amigo dos empregadores e inimigo do trabalhador. Um mercado libertado significa libertação do sistema de salários.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 14 de abril de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.