The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Thomas L. Knapp.
De todos os contra-argumentos padronizados com que me deparo em oposição à ideia anarquista, talvez o mais frustrante seja “bem, sim, concedo haver uma série de problemas no tocante ao governo político, mas como posso saber que o que quer que você proponha em lugar dele não será ainda pior?”
Minha igualmente padronizada resposta de cinco palavras — “como PODERIA algo ser pior?” — obviamente pede alguma elaboração, mas acredito que o rol de motivos pelos quais nada poderia ser pior merece uma analogia à guisa de prefácio:
Suponha que você tenha sofrido, desde a infância, de tosse crônica e que, agora adulto, comece a perceber a tosse ser companhada de expectoração de sangue.
Suponha, ademais, que, durante toda a vida, você tenha visto seus amigos em torno de você sofrerem do mesmo tipo de tosse, do mesmo escarro de sangue, morrendo finalmente em consequência.
Finalmente, suponha que, ao consultar um médico, este decline de tratar a tosse. “Afinal de contas,” pergunta ele, “se acabarmos com a tosse, sabe-se lá o que a substituirá? Seus pés poderão encarquilhar-se. Sua cabeça poderá explodir. Eu sei, a tosse é penosa, não atende a nenhuma finalidade útil e pressagia morte no final, mas a alternativa poderá ser ainda pior! Já pensou se curar essa tosse transformar você num zumbi comedor de cérebros? Sinto muito, mas a menos que eu saiba exatamente o que se seguirá à cura, simplesmente manterei estes antibióticos trancados.”
Duvido que você achasse essa resposta satisfatória … mas essa é exatamente a resposta que os partidários do estado oferecem diante de qualquer sugestão de que poderá ser boa hora de suas gangues de rua assassinas hipertrofiadas — “governos” — se aposentarem.
O governo político sempre foi um câncer inútil e doloroso da humanidade. Sua mutação mais plena, o estado-nação westfaliano, espraiou-se ao longo dos últimos 360 anos, cobrindo o globo de tumores de “soberania nacional” que perpetuamente erodem a humanidade que infestam, usando essa humanidade parcialmente como combustível para seu próprio aumento e parcialmente como forragem para guerra a outros tumores análogos.
É difícil apreender a escala dos danos perpetrados pelo governo político, mas a obra do Professor Emério da Universidade do Havaí RJ Rummel — ele próprio não anarquista — é um bom lugar para começar. Só no século 20, de acordo com Rummel, o “democídio” (assassínio pelo governo) resultou em pelo menos 262 milhões de pessoas mortas.
Quando digo que a obra de Rummel é um lugar para começar, é exatamente o que quero dizer. A definição dele de “democídio” abrange apenas “matar com a intenção de fazê-lo.” Mortes acidentais ou incidentais (por exemplo, a morte de dezenas de milhares de pacientes esperando aprovação de regulamentação de medicamentos indispensáveis à sobrevivência, assassínios pela polícia não decorrentes de nenhuma política visante específicamente a tais mortes etc.) não estão incluídas.
A população dos Estados Unidos no final do século 20 situava-se em torno de 280 milhões. Mesmo usando números baixos, podemos estar razoavelmente seguros de que, no século 20, número de seres humanos praticamente equivalente a tal população inteira foi assassinado por governos em todo o mundo.
Meu palpite pessoal no tocante a morte efetivamente infligida pelo estado nacional westfaliano no século 20, quando acrescentemos as mortes acidentais e incidentais, é pelo menos o dobro do número de Rummel, e provavelmente mais. Para efeito de argumentação, situemo-lo em 600 milhões. O que representa 1/10 da população do mundo no ano 2000.
Essa, queridos companheiros humanos, é uma epidemia de escala global sem qualquer outra parecida desde a Peste Negra da Idade Média.
Quando varíola, poliomielite, tuberculose ou gripe matam milhões, nossa reação é isolar ou pôr em quarentena seus vetores, desenvolver tratamentos e vacinas, e fazer o impossível para erradicar tais doenças. Não perdemos nosso tempo preocupando-nos com que novas doenças poderão pulular ou o que se seguirá à cura; damos prioridade total àquilo que nos aflige.
Quando, porém, os anarquistas denunciam a natureza letal do estado, que rotineira e previsivelmente mata pessoas em números da mesma escala de quaisquer daqueles flagelos acima mencionados, os defensores do estado comprimem a doença contra o peito e choramingam que simplesmente não conseguem imaginar o que fariam sem ela.
Ora bem, eu sei o que a maioria de nós faria sem ela: Viveríamos. E, pessoalmente, considero viver melhor do que morrer. E você?
Artigo original afixado por Thomas L. Knapp em 17 de abril de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.