The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Durante anos o procedimento padrão depois de espancamento ou disparos pela polícia, quando era a palavra de um cidadão contra a de um policial e o depoimento do policial era apoiado por seus Irmãos de Azul, era “licença administrativa” remunerada para o policial — até que uma junta de revisão não encontrasse “evidência de ilícito oficial” e de “todos os procedimentos e políticas oficiais terem sido observados.” As exceções — tais como o espancamento de Rodney King e o caso Abner Louima — foram raros casos nos quais os carrascos praticantes do ato foram estúpidos ou descuidados o bastante para ser apanhados.
O mesmo é verdade da violência da polícia nas manifestações. Comparem o uso eficaz, pelo movimento Ocupem, de vídeo de violência policial em Oakland, Portland, New York City – NYC e Universidade da Califórnia em Davis – UC Davis com o estado de coisas há uma década, no período entre Seattle e as manifestações contra a Área de Livre Comércio das Américas – FTAA em Miami. O vídeo de telefone celular e a hospedagem de vídeo online estavam, naquele tempo, ainda em estado não desenvolvido. Praticamente o único lugar em que se via informação documentada a respeito de confrontos entre polícia e civis e eventos antiglobalização era a Indymedia. O noticiário da mídia majoritária aderiu quase totalmente à narrativa oficial do Bloco Negro de vândalos mascarados vestidos de preto despedaçando vitrinas do Macy’s.
Nos dias de hoje, quando vídeo amador se torna virótico, não há como a mídia majoritária ignorá-lo.
Independentemente da lei real, a polícia, em praticamente todas as jurisdições nos Estados Unidos, afirmará falsamente que gravá-los é ilegal, e provavelmente em seguida arrebentará seu telefone (e seu rosto).
Ocorre que, com recursos de uplink em tempo real para a Web barateando-se rapidamente, estamos chegando ao ponto no qual a única coisa que um policial conseguirá arrebentando um telefone será um vídeo virótico no YouTube — não apenas do mau comportamento original, mas da interação inteira, desde as ameaças iniciais até o confronto físico para tomar o telefone.
Francamente, nem me importo com a penalidade que a investigação fajuta acabará impondo ao Tenente John Pike da polícia do campus da UC Davis. Acho que na verdade eu preferiria que ele se aposentasse por incapacidade em alguns anos depois de um colapso nervoso, e passasse o resto da vida com medo de sair de casa. Ele dificilmente terá começado a desconfiar do inferno que a vida dele será.
Ele carrega a marca de Caim. O número do telefone dele, endereço de email e endereço residencial já foram amplamente divulgados. Mesmo que não seja exonerado da força, toda vez que ele encontrar um estudante no desempenho de seus deveres perguntar-se-á se aquilo é um olhar de desprezo ou se é só sua imaginação. Toda vez que ele lidar com uma servideira ou uma operadora de caixa, ou encontrar qualquer pessoa nova, verá aquele breve olhar de ter sido reconhecido seguido de uma máscara fria de repulsa educadamente contida. Como diz o dito, “Você pode correr, mas não pode se esconder.”
Isso provavelmente marca a primeira vez em que as novas regras do jogo realmente foram impressas nas mentes dos policiais em toda parte. Podem estar certos de que a lição de Pike não passou despercebida entre os colegas dele, nem nos contatos deles no boca a boca profissional nacional da área de cumprimento da lei. As imagens viróticas da linguagem do rosto e do corpo dele, como ele lança spray em seres humanos como se fossem insetos, são bem conhecidas deles. Mesmo se ele continuar na força, acompanhar a transformação dele, já em andamento, num caco de homem derrotado será a melhor lição tirada da vida real que seus colegas de uniforme jamais poderiam receber. Ser publicamente gravado comportando-se como um porco garantirá, sem sombra de dúvida, alguém passar o resto da vida no mesmo inferno solitário que o Tenente Pike.
Este é apenas outro exemplo de como redes auto-organizadas têm crescente poder de enfrentar instituições poderosas, de maneiras que, no passado, requeriam o contrapeso do poder de outras instituições. O problema, no passado, era que os assim chamados órgãos de “supervisão” mais amiúde do que não aglomeravam-se em complexos de instituições aliadas daqueles a quem supostamente supervisariam. Daí as em grande parte pró-forma “investigações” por comissões de polícia, juntas civis de revisão e coisas da espécie.
Agora porém temos uma comissão de polícia nossa. O nome dela é vídeo amador. E fará com a escória criminosa como o Tenente Pike o que um mundo inteiro de comissões de polícia, fingindo atuar em nosso favor, não conseguia fazer.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 23 de novembro de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.