Kevin Carson. Artigo original: Saying the Quiet Part Out Loud, 11 de agosto 2021. Traduzido por Gabriel Serpa.
Normalmente, um libertário de direita tem o cuidado de não dizer abertamente que trabalhadores com forte poder de barganha vão contra os interesses do capitalismo, ou que sua fraqueza é boa para o sistema econômico vigente. Assim como nunca admitiria em voz alta que a intolerância é uma coisa boa quando se torna uma arma contra os trabalhadores.
É, portanto, uma demonstração louvável de honestidade ver Alex Nowrasteh e Benjamin Powell admitindo seu obscurantismo (Como a Imigração em Massa Freou o Socialismo Americano, Reason edição de agosto/setembro de 2021).
Eles dizem que os sindicatos são uma força hostil ao capitalismo, equivalente ao socialismo, e que qualquer coisa que obstrua sua existência é boa. O governo americano crescia vagarosamente quando havia mais imigrantes, e os sindicatos tinham menos membros quando havia maior fluxo deles. Eles elogiam explicitamente a xenofobia que reforçou os demagogos contrários aos socialistas, e o fato de que as barreiras linguísticas eram um obstáculo à organização sindical.
Ironicamente, os autores acabam admitindo que a velha teoria da direita libertária, que afirma que o capitalismo é um freio ao racismo, não tem pé nem cabeça. Eles até citam a autoridade de Engels quando dizem que o racismo e a xenofobia servem aos interesses do capitalismo, por dividirem os trabalhadores.
Friedrich Engels disse que nos Estados Unidos os imigrantes “estão divididos por nacionalidade e não se entendem uns aos outros, assim como a maioria deles não entende a língua do país anfitrião”. E que “a burguesia americana sabe … como colocá-los uns contra os outros: judeus, italianos e boêmios contra alemães e irlandeses; além de instigá-los também individualmente”. Engels era de opinião que uma política de imigração aberta prejudicaria a revolução socialista por muito tempo, porque a burguesia americana entendia que “‘há muito mais desses malditos holandeses, irlandeses, italianos, judeus e húngaros do que precisamos’, sem falar dos chineses logo atrás”.
A indústria da carne e do aço na virada dos séculos XIX e XX contratou propositadamente trabalhadores de diferentes etnias e raças para evitar que se organizassem em sindicatos. A diversidade fez aumentar o custo da organização trabalhista.
O que basicamente confirma o que o marxista Harry Braverman disse em Labor and Monopoly Capitalism: a fragmentação racial (ou de qualquer outra natureza) aumenta o poder de barganha do capital em detrimento do trabalho, afetando a solidariedade entre os trabalhadores.
Nowrasteh e Powell também admitem a intolerância anti-imigração dos americanos, porque um de seus efeitos práticos é enfraquecer o apelo socialista.
Nos Estados Unidos, a imigração contribuiu para a difusão do socialismo, mas também reforçou a percepção de que essa era uma ideologia estrangeira peculiar e anti-americana.
Antes da entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial, o partido socialista tinha seus redutos eleitorais em estados com poucos imigrantes, tais como Nevada, Oklahoma, Montana e Arizona.
Essa afirmação é incrivelmente estúpida e moralmente obscena, mesmo para os padrões da Reason. Nowrasteh e Powell elogiam explicitamente a xenofobia e o racismo como estrategicamente úteis na luta dos capitalistas contra os trabalhadores, econômica e politicamente falando.
Dada a forma como eles endossam o uso estratégico do fanatismo e da intolerância em seu artigo, não duvido que os autores também endossassem leis raciais e o próprio racismo contra os negros nos estados do Sul, se isso tivesse servido, por exemplo, para fragmentar os sindicatos de meeiros ou tornar sua associação mais difícil.
É significativo que eles mencionem a atitude fortemente xenófoba após a entrada na Segunda Guerra Mundial. O ódio contra imigrantes, alimentado pela administração de Wilson, levou a que os sindicatos e o socialismo fossem acusados de ser ideologias estrangeiras sediciosas. Do elogio à xenofobia ao apoio do autoritarismo Old Glory, Loyalism ou 100% Americanism é um passo. Mas é preciso lembrar que a onda xenófoba que enfraqueceu os sindicatos e o socialismo trouxe consigo, além do liberty cabbage (N.T.: ver Sauerkraut), o encarceramento em massa de qualquer pessoa que fosse contrária à guerra ou que se opusesse ao alistamento, sob a alegação de sedição.
Honestamente, não é difícil de imaginar Nowrasteh e Powell elogiando os camice nere de Mussolini por atacarem a ocupação das fábricas em Turim; ou a KKK nos estados americanos do Sul; ou os esquadrões da morte da América Central por sua luta contra o radicalismo; ou mesmo Hindenburg por ter nomeado Hitler como Chanceler. Me alegra que eles sejam honestos quanto a sua visão. Mas ela é completamente inconsistente com os princípios éticos implícitos no artigo.