The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Sheldon Richman.
Neoconservadores como Charles Krauthammer alertam que o levante popular contra o ditador egípcio financiando pelos Estados Unidos Hosni Mubarak poderá facilmente tornar-se em vitória para os islamistas radicais. Os neoconservadores escarnecem da afirmação de a Irmandade Muçulmana ter trocado a violência por papel construtivo na sociedade egípcia e na política democrática. Em verdade, argumentam os neoconservadores, a Irmandade, como força mais bem organizada da sociedade egípcia (representando até 30 por cento da população) está em posição ideal para açambarcar o movimento popular, trair o povo e instaurar um estado teocrático na era pós-Mubarak. Com o Egito como base de operação, continua o raciocínio, os islamistas espalhariam sua ideologia para o resto da região por meio de terror e subversão, com terríveis consequências para o Ocidente.
Haverá algum mérito nessa análise? Talvez. Ninguém pode prever coisas assim; revolução é processo radicalmente incerto. Contudo, não se deve assumir desleixadamente ser o Egito como o Irã de 1979 ou o Afeganistão da invasão pós-soviética. Isso soa mais como alarmismo para gerar medo por parte dos neoconservadores do que especulação isenta. (Os mais exaltados desses tipos vêem o levante egípcio como o primeiro passo rumo à ereção de um califado mundial que incluiria os Estados Unidos. Ver Glenn Beck e Sean Hannity para detalhes. Quanto à Irmandade, ver isto eisto.)
Sem dúvida a revolução tem seus riscos. No entanto, os neoconservadores parecem ignorar os riscos da “solução” que gostariam a administração Obama impusesse aos egípcios. Krauthammer prefere “governo interino administrado pelos militares.” Escreve, em “Rumo a Aterrissagem Suave [sic] no Egito”:
A instituição militar é o melhor veículo para conduzir o país a eleições livres nos meses vindouros. Faça ela isso com Mubarak no governo, ou com o Vice-Presidente Omar Suleiman ou talvez com algum tecnocrata que não suscite a ira dos manifestantesr, não nos importa. Se o exército concluir que sacrificar Mubarak (por meio de exílio) satisfará a oposição e porá fim à instabilidade, seja.
O objetivo primordial é um período de estabilidade durante o qual os secularistas e outros elementos democráticos da sociedade civil possam organizar-se para as eleições vindouras e vencer… A chave é a instituição militar.
O tom confiante de Krauthammer não traz nenhum conforto. Não há perigo de tomada do poder pelos militares? Nunca houve uma ditadura militar brutal? A instituição militar egípcia pode ser respeitada pelo povo, mas também já foi fonte de ditadores, inclusive o odiado Mubarak. E por que deveriam os egípcios aceitar Suleiman no “período de interinidade”? Ele era o principal torturador de Mubarak e foi instrumento da criminosa política do governo dos Estados Unidos de “cessão extraordinária”. Como é fácil para Krauthammer, aboletado em segurança nos Estados Unidos, propor que os egípcios se submetam a qualquer plano concebido pelos Estados Unidos. Tem ele como garantir que plano da espécie trará como resultado liberdade? Não há como não desconfiar de que liberdade dos egípcios não seja a prioridade dele. Na verdade, ele sabe dos riscos em que sua proposta implica, mas infere que eles todos atingirão é o povo egípcio. O que ele procura evitar é risco para os “interesses dos Estados Unidos,” isto é, para o domínio do Oriente Médio pelo governo estadunidense.
Ao reivindicar que o governo dos Estados Unidos trabalhe nos bastidores para impor tal “resolução,” os neoconservadores exibem a mesma presunção de grande potência causadora da maioria dos problemas que atualmente emanam do Oriente Médio. Persiste a mentalidade imperialista, com cada incidente de tiro pela culatra fornecendo pretexto para a próxima manipulação opressora.
Os perigos que sem dúvida espreitam no Egito decorrem da natureza moderada dos anseios do povo egípcio. Ele busca apenasmudar a estrutura e os integrantes do governo. A essência do Estado – o aparelho de violência organizada – permanecerá intacta. Enquanto o Estado existir haverá o perigo de ele ser açambarcado por um homem forte militar, por teocratas, ou por algum outro tipo de opressor.
Em outras palavras, a única revolução verdadeira é aquela visante a extinguir o Estado – uma revolução anarquista. (Pacífica, obviamente.) Essa é a melhor esperança para impedir-se que uma revolução malogre.
Obviamente os egípcios ainda não têm mentalidade contrária ao estado e, pois, em livrando-se da ditadura de Mubarak arriscam-se, com efeito, a algo pior no lugar dela. Aparentemente, contudo, acham valer a pena o risco. Nas circunstâncias, essa posição parece razoável. O povo estadunidense pode ajudá-los exigindo que o governo “deles” não se meta.
Esta revolução ajudará a resolver o problema até que a coisa genuína aconteça.
Artigo original afixado por Sheldon Richman em 5 de fevereiro de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.