The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Amizade do Twitter descreveu, recentemente, conversa com outra amizade — não anarquista confessa — que concluiu, espontaneamente, ser o voto algo inútil. “Creio que é insanidade achar que pessoas que desfrutam desse poder que o governo e o capitalismo oferecem desejem de moto próprio que sua estabilidade dependa do ACASO.”
Exatamente! Você pode ser desculpado por acreditar que “o inimigo” do qual sempre falam nossos círculos dirigentes é alguém que fala uma língua estranha e tem uma estranha religião, vivendo no outro lado do mundo. Na verdade, porém, “o inimigo,” para a classe dirigente, é qualquer um capaz de atrapalhar seus objetivos e debilitar seu poder — inclusive nós. O povo estadunidense é ameaça muito maior ao poder dela do que qualquer potência estrangeira.
O acadêmico australiano Alex Carey argumenta, em livro com o título a seguir, que o objetivo da máquina de propaganda corporativa-estatal é “Extirpar, da Democracia, o Risco.” As modernas instituições de poder corporativo concentrado e a democracia de sufrágio universal, diz ele, datam, ambas, do século 19. Isso significa que o sistema de poder econômico mais concentrado da história enfrentou perigo sem precedentes de subversão tendo como causa a vontade cambiante de uma maioria.
Tal estrutura de poder não estava a fim de deixar seu poder sujeito ao acaso. Juntamente com o poder corporativo e a democracia de massa, surgiu, nos primeiros anos do século 20, um terceiro fenômeno moderno: A propaganda como ciência de “engendrar consentimento.” Pessoas como Edward Bernays nos Estados Unidos, e suas contrapartes na Grã-Bretanha, supervisaram os esforços angloestadunidenses de propaganda durante a Primeira Guerra Mundial (lembram-se daqueles bebês baionetados na Bélgica?). Posteriormente, Bernays veio a fundar a moderna disciplina de relações públicas.
A economia corporativa, com sua monstruosa concentração de poder político e econômico, não foi decorrência espontânea ou inevitável da tecnologia moderna. Resultou de maciço engendramento social de cima para baixo efetuado pelo estado. Um sistema de poder, porém, só pode sobreviver se for visto como natural e inevitável pelos governados.
Assim, pois, desde o começo da democracia de massa têm sido desenvolvidos esforços cuidadosamente orquestrados para assegurar que, ao o povo exercer o ritual de seu poder “soberano” em política eleitoral, a maioria das coisas de importância já tenham sido decididas. Em 1991, por exemplo, quando começou a Operação Tempestade do Deserto, o espraiamento prévio de tropas com base na alegada autoridade de “Comandante-em-Chefe” de Bush, conjugadamente a incessante barragem de propaganda acerca dos “bebês de incubadora” cueitianos, assegurou a deflagração real da guerra como um dado.
Você poderá ser tentado a achar que se trata principalmente de prática dos Velhos Republicanos Malvados, que os Democratas e Progressistas são “diferentes.” Você poderá acreditar, com Thomas Frank, que os aspectos repulsivos do governo quando sob controle Republicano são uma aberração, e que “o governo,” normalmente — no palavreado típico da mãe suburbana — “somos nós.”
Não é bem assim. Em 2004, o Assessor de Segurança Nacional de Clinton, Sandy Berger, disse da crescente impopularidade da guerra de Bush no Iraque: “Temos coisas demais em jogo no Iraque para perder o povo estadunidense.” Se o alegadamente soberano povo estadunidense não é “nós” — se o nexo corporação-estado constitui um “nós” separado — bem, isso realmente diz tudo.
E quanto, contudo, ao Santo Barack? Obama, que no ano passado deu luz verde para a repressão, no Bahrain, do movimento pró-democracia daquele país simultaneamente com seu espetáculo grandioso de derrubada de Gaddafi na Líbia, tem apoiado ativamente a detenção, pelo regime, do jornalista iemenita Abdulelah Haider Shaye pelo “crime” de fotografar aviões não pilotados caídos com a estampa “Fabricado nos Estados Unidos” — assim revelando cumplicidade estadunidense em assassínios extralegais e sem responsabilização, por controle remoto, e nas centenas de civis inocentes assassinados nesse processo.
Você poderá pensar, depois disso tudo, que legalizar explicitamente o uso de propaganda para manipular o público doméstico seria redundante. Afinal, como Noam Chomsky e Edward Herman destacaram, a mídia de massa estadunidense adere, em sua maioria, ao modelo de propaganda estatal de veiculação de notícias externas (vocês, a partir da cobertura noticiosa de agosto de 2008, conseguiram farejar o menor sinal de a Geórgia poder ter feito alguma coisa para provocar a “agressão russa?”).
Contudo, estão fazendo isso. Uma emenda bipartidária proposta por Mac Thornberry e Adam Smith revogaria a Lei Smith-Mundt de 1947, que proíbe que serviços de propaganda do Departamento de Estado e do Pentágno disseminem mensagens para consumo doméstico. Thornberry reclama que a lei existente “ata as mãos de autoridades estadunidenses diplomáticas, militares e outras, ao inibir nossa capacidade de comunicar-nos eficazmente de modos dignos de crédito.” Que tipos de “modos dignos de crédito” tem ele em mente? Eles incluem títeres do governo dos Estados Unidos participando em discussões da mídia online, sob falsos pretextos, para obter apoio para políticas fracassadas externas e de segurança dos Estados Unidos.
Que novos níveis de crueza e mendacidade podemos esperar da propaganda do estado, uma vez explicitamente autorizada em lei? A estratégia mais segura, como desde antes, é continuar assumindo que tudo o que ouvimos do estado é ou verdade parcial desinformadora ou mentira deslavada. Desse modo nunca poderemos estar muito errados.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 22 de maio de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.