The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Não sou marxista, mas acho úteis muitas das ideias de Marx. O Velho Karl certamente tinha dom para tornear uma frase. Ninguém capaz de vir com algo tão proudhoniano quanto “os produtores associados” poderia ser ruim nessa área. Uma das melhores dele, em minha opinião, foi a de que novas forças produtoras finalmente “tornam-se incompatíveis com seu tegumento capitalista,” ponto no qual “o tegumento rompe-se em frangalhos.”
Outra fonte de vívidas imagens é o Preâmbulo à Constituição dos Trabalhadores Industriais do Mundo. Vejam isto: “… estamos formando a estrutura da nova sociedade dentro da concha da antiga.”
Essas duas frases descrevem brilhantemente os apuros do capitalismo corporativo fomentado pelo estado. O capitalismo, como sistema histórico, tem quinhentos ou mais anos de idade, e o estado esteve intimamente envolvido em sua formação e em sua preservação, ainda em andamento, desde bem no começo. O estado, porém, envolveu-se muito mais, se tal coisa é possível, no modelo de capitalismo corporativo prevalecente nos últimos 150 anos. Os titãs corporativos que dominam nossa vida econômica e política dificilmente conseguiriam sobreviver por um ano sem a contínua intervenção do estado no mercado para sustentá-los por meio de subsídios e proteções monopolistas.
Esse sistema está atingindo seus limites de sustentabilidade. Eis aqui alguns motivos:
1) Está cada vez mais difícil impor as formas de monopólio das quais ele depende. Especialmente a “propriedade intelectual.”
1a) A indústria baseada em copyright já perdeu a briga contra o compartilhamento de arquivos.
1b) A imposição de patentes industriais só é possível quando a indústria oligopolizada, e cadeias de varejo oligopolizadas, reduzem o custo de transação dessa imposição — impossível no caso de fábricas de garagem de bairro que usam arquivos pirateados CAD/CAM.
2) Ferramentas de produção barata e horticultura soloeficiente estão
2a) aumentando a competição por parte dos autônomos
2b) reduzindo oportunidades de investimento lucrativo de excedentes de capital e destruindo a taxa direta de lucro (DROP)
3) Insumos para a produção subsidiada pelo estado levam a aumento em proporção geométrica da demanda por esses insumos, sobrepujando a capacidade de o estado fornecê-los e lançando-o em crise fiscal crônica. Por séculos o estado tem proporcionado ao agronegócio capitalista de larga escala acesso privilegiado a terra subtraída das classes trabalhadoras. Por 150 anos ele vem subsidiando insumos tais como ferrovias, aeroportos e rodovias para embarques de longa distância, e água de irrigação para fazendas de produção intensiva. Como porém qualquer aluno do curso de Introdução à Microeconomia poderá dizer a você, subsidiar algo significa cada vez mais desse algo ser consumido. Então você fica com agronegócio ineficiente em seu uso da terra e da água, e indústria que obtém falsas economias de escala ao produzir para áreas de mercado artificialmente grandes. Cada ano é preciso maior subsídio do governo para esse modelo de negócios permanecer lucrativo.
4) Tendências de piora em relação a superacumulação e estagnação aumentam a quantidade de gastos deficitários crônicos necessários para gerência keynesiana da demanda agregada, piorando também a crise fiscal. O estado construiu maciço complexo industrial-militar e criou outras indústrias inteiras a expensas do estado para absorver excesso de capital de investimento e contrabalançar a tendência do sistema de produção excedente e capital excedente, e tem sustentado déficits cada vez maiores, só para impedir o colapso que de outra forma já teria ocorrido.
Em suma, o capitalismo depende, para sua sobrevivência, de quantidade sempre crescente de intervenção do estado no mercado, e o sistema está atingindo o ponto no qual a teta seca.
O resultado é um sistema no qual governos e corporações cada vez se tornam mais vácuos. E enquanto isso, crescendo dentro desse “tegumento” capitalista corporativo, coisas como software e cultura de código aberto, projeto industrial de código aberto, permacultura e microfábricas de garagem de baixo overhead comem viva a economia estatal corporativa. Parcela sempre crescente do trabalho e da produção está sendo engolida por economias elásticas relocalizadas, autônomos, cooperativas de trabalhadores e economia informal e doméstica. No final, como um cardume de piranhas, estes deixarão apenas o esqueleto dos dinossauros corporativos.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 25 de maio de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.