The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Durante a recente comemoração dos ataques do 11 de setembro ouvi muita troca de ideias pessoas que se lembravam de onde estavam e como se sentiram quando pela primeira vez ouviram notícia do ataque contra o Centro Mundial de Comércio. Lembro-me eu também muito vividamente.
Fui despertado por meu rádio-relógio enquanto os DJ matinais locais ainda discutiam excitadamente o impacto do avião na primeira torre. Não muito depois outro avião atingiu a segunda torre. Ficou muito claro então que o primeiro não havia sido acidente, e alguma espécie de ataque terrorista estava em andamento.
Meu primeiro pensamento não foi medo dos terroristas. Não pensei “Oh meu Deus — o que eles farão em seguida?” Não temi pela segurança minha ou de meus queridos. Meu primeiro pensamento foi o de que os órgãos encarregados de fazer cumprir a legislação federal e a comunidade de inteligência conseguiriam sua lista da Natal de legislação do estado policial que não haviam conseguido ver aprovada depois da bomba de Oklahoma City, e que o Congresso provavelmente chancelaria. Meu segundo pensamento foi o de que George Bush obteria um cheque em branco para qualquer guerra que desejasse, em qualquer parte do mundo, em nome de combater o terrorismo; o “terrorismo” substituiria as folhas de parreira anteriores de “comunismo internacional” e “narcotráfico” como justificativa tipo guarda-chuva para ataque a qualquer país que olhasse de soslaio para o domínio corporativo mundial. Depois disso, meus pensamentos voltaram-se para mais perto do lar. “Outra onda de ataques como essa,” pensei, “e meu cartão vermelho da Trabalhadores Industriais do Mundo – I.W.W. me garantirá um beliche com os outros ‘subversivos’ que serão detidos sem acusação.”
Senti as semanas seguintes, com a agitação de bandeiras e a histeria, como de insanidade desbragada. Os estadunidenses, como usual em tempo de guerra, pararam de exercer o ceticismo em relação à autoridade que é nossa característica básica e começaram, em vez disso, a agir como Bons Alemães. Quando Tom Daschle disse “não há nenhuma diferença de opinião entre nós e o Presidente Bush,” e Dan Rather disse “diga-me em que fileira devo integrar-me, Sr. Presidente,” tive vontade de cuspir no assoalho. Quando foi aprovada a Lei PATRIOTA DOS ESTADOS UNIDOS, perguntei-me se os poderes formais concedidos a Bush não seriam maiores do que os da Lei de Concessão de Poderes do Reichstag.
Ao longo dos últimos dez anos, se a repressão não foi tão apavorante quanto eu houvera temido, tem sido, contudo, abrangente: todo o complexo industrial-de segurança em torno do Departamento de segurança da Pátria, a Administração de Segurança do Transporte – TSA e suas empreiteiras; a Lei PATRIOTA DOS ESTADOS UNIDOS, escuta sem mandado, e o uso de “cartas de segurança nacional” para propósitos inteiramente não relacionados com terrorismo; as guerras no mundo inteiro, e a duplicação dos gastos de “Defesa”; entrega extrajudicial de pessoas e tortura em Gitmo, Abu Ghraib, Baghram e nos locais secretos da CIA no mundo inteiro. É como a versão de Paul Verhoeven de Tropas Estelares — com “fritas da liberdade(*)” para todos. (*Eufemismo político para batatinha frita, em inglês ‘fritas francesas’, usado por algumas pessoas nos Estados Unidos em decorrência de sentimentos antifranceses durante a controvérsia acerca da decisão dos Estados Unidos de invasão do Iraque. Ver Wikipedia, Freedom fries.)
Tem havido enorme escalada do poder do estado — suficiente para levar um correspondente de email, líder de preeminente organização libertária, a expressar desespero pessoal com a liberdade humana estar a caminho de ser extinta numa nova Idade das Trevas de barbárie totalitária.
Sou mais otimista. Não acredito que o estado vá tornar-se menos totalitário em sua intenção ou em sua política, mas sua capacidade de preensão se debilitará mais depressa do que o estender-se de seu alcance. Há empolgante futuro em pessoas tirando proveito de novas possibilidades tecnológicas para tornar as leis do estado incapazes de serem feitas cumprir e vivermos como desejarmos fora do raio do radar dele.
Na esfera puramente militar, tenho um palpite de que as possibilidades relativas a mísseis baratos antinavio capazes de destruir porta-aviões (e outras armas relativamente baratas tipo “clava assassina” com retornos sobre o investimento – ROIs de 100,000% em termos do valor dos alvos que destroem) continuarão a manter-se vários passos à frente de tentativas de contraposição. Se assim for, a guerra assimétrica ágil em rede obterá o mesmo tipo de vantagem de geração sobre as forças do legado da Única Superpotência Remanescente que os Estados Unidos tinham sobre o bloco soviético há trinta anos.
Domesticamente acredito que Wikileaks, The Pirate Bay, Anonymous e o primeiro ensaio de Bitcoin de uma moeda criptografada foram os primeiros tremores fracos do que se tornará um terremoto de intensidade 9.0 sacudindo todas as hierarquias autoritárias até seus fundamentos. O que emergir, na esteira da longa série de terremotos, será descentralizado e redeado, e estará em grande parte além do controle do que quer que reste dos estados e corporações esvaziados.
Independentemente de todos os poderes afirmados em Ordens Executivas, “Doutrinas de Segurança Nacional” que soam como um Reich de Mil Anos e tentativas corporativas de colocar o mundo inteiro sob uma Cortina de Direitos de Gestão Digital – DRM, as reivindicações autoritárias deles serão, no final das contas, tão eficazes quanto os éditos do Imperador Norton(*). (* Ver Wikipedia, Emperor Norton, em inglês, ou Joshua Norton, em português, acerca do inglês que, residindo nos Estados Unidos, proclamou-se imperador.)
Artigo original afixado por Kevin Carson 13 de setembro de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.