The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Em semanas recentes Barack Obama foi atacado por alguns plutocratas de renome por suas atitudes pretensamente “de oposição às empresas”.
Então Charles Koch, o bilionário safado de direita de diversos institutos de estudos interdisciplinares e fundações libertários disse, na edição de 4 de abril de O Estandarte Semanal, que Obama era um “igualitário” que havia “internalizado alguns modelos marxistas,” acreditando, em particular, que “a empresa tende a alcançar sucesso à custa de exploração de seus clientes e funcionários.” O irmão dele, David, palpitou ser Obama produto de “influências contrárias à empresa e ao livre empreendimento.”
Francamente, não me causa grande surpresa uma Autoridade Executiva Principal com evidente sabor de baunilha das 500 da Fortune como Buckley fazer tal acusação. Afinal, a falsa inimizade entre o governo hipertrofiado e as grandes empresas é essencial para o teatrinho de cunho moralista que governa a política estadunidense(*). (* morality play – http://en.wikipedia.org/wiki/Morality_play)
Digo “falsa” por ser ela tão genuína quanto o conflito entre o “bom policial” e o “mau policial” numa sala de interrogatório. Na verdade as grandes empresas têm sido o principal vilão por trás do aumento do estado ativista; como Roy Childs escreveu em “As Grandes Empresas e a Ascensão do Estatismo Estadunidense,” os intelectuais têm sido, historicamente, lacaios das grandes empresas. Chefões corporativos que reclamam do governo montar no cangote deles fazem-me lembrar do Irmão Coelho(*) berrando “Por favor não me joguem nessa moita de espinhos!” [de onde ele pode facilmente escapar, N.do T.] (* http://en.wikipedia.org/wiki/Br%27er_Rabbit)
Estou, porém, um tanto surpreso por os irmãos Koch — peças de centro da política e da finança libertária no mundo político e social de Washington — identificarem “livre empreendimento” com “empresas.” É uma distinção tão básica que praticamente todo mundo que usa o rótulo de “libertário de livre mercado” a estabelece, pelo menos de boca. Os libertários professos, em sua maioria, pelo menos reconhecem em princípio que os interesses das empresas podem ser os maiores inimigos do mercado, mesmo quando muitos deles não observem esse princípio na hora da ação.
Charles Koch negligencia a possibilidade de as empresas dominantes em nossa economia em realidade lucrarem a expensa de trabalhadores e consumidores. Este não é, afinal de contas, um livre mercado. Está pleno dos modos políticos para se chegar à riqueza. Plausivelmente a maioria dos lucros das 500 empresas da Fortune resulta de subsídios proporcionados pelo contribuinte, de monopólios concedidos pelo governo tais como “propriedade intelectual,” de formas especiais de proteção, e de barreiras a entrada, em vez de da troca tranquila no livre mercado.
Assim sendo, por que seria tão inconcebível que muitas das empresas, na economia na qual realmente vivemos, pudessem receber seus lucros por meio de exploração? A menos, por outro lado, que os irmãos Koch tenham algum interesse velado em fingir que a atual economia corporatista seja em realidade livre mercado.
Depois de acompanhar o desempenho de Obama nos últimos dois anos, fico pensando no universo do Spock Dissimulado(*) quando ouço reclamações acerca do viés “antiempresas” dele. (* quanto à inautenticidade de Spock, ou seu conflito entre duas naturezas internas, ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Spock)
Sem dúvida, Obama usa alguma retórica igualitária e de oposição às empresas. É ótima forma de tirar a atenção das pessoas do movimento de suas mãos enquanto ele enche os bolsos das grandes empresas com subsídios e as cobre de toda sorte de regulamentação anticompetitiva. E vejam as pessoas das quais se resolveu cercar: Emanuel, Geithner, Summers, Rubin, Immelt. É, realmente um senhor círculo de estudos maoístas esse que ele arranjou.
Queria que Obama fosse “contrário às empresas” o bastante para fazer essa retórica ser acompanhada de simplesmente rumar para o ideal de livre mercado mediante cortar o vasto séquito de subsídios governamentais às Grandes Empresas — mas, infelizmente, não é para isso que ele está lá.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 8 de abril de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.