The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
As asneiras acerca do “socialismo” de Obama e do entendimento deficiente dele do “estadunidensismo” continuam a chegar da campanha de Romney. Em recente audioconferência da campanha de Romney,Kyle Koehler, homem de negócios de Ohio, saiu-se com esta preciosidade:
“Parece-me que, nos Estados Unidos de Obama, não há risco, mas há abundância de recompensa. Para mim, isso se chama socialismo.”
Nem é tanto pelo prodígio alucinante de imaginação necessário para acreditar que Obama — homem que possivelmente já deu às grandes empresas mais subsídios e proteções de monopólio do que qualquer presidente do século passado — é algum tipo de “socialista.”
E sim porque o que Koehler descreve é a própria definição do capitalismo corporativo de estilo estadunidense — tão estadunidense quanto a torta de maçã e as contas em bancos suíços. Tanto quanto eu saiba, certamente não é qualquer tipo de “anticolonialismo queniano” que Kwame Nkrumah reconhecesse.
Pensem nisso. Considerem só, uma a uma, as principais indústrias na economia corporativa estadunidense — e global.
Software, entretenimento, biotec e farma são os atores principais na economia global, todas essas áreas fortemente dependentes da draconiana legislação de “propriedade intelectual” — legislação que a administração Obama, e particularmente Joe Biden, têm decidido obsessivamente robustecer — como fonte principal de lucro. Biotec e farma, em particular, são dependentes de subsídios de larga escala para pesquisa e desenvolvimento.
O agronegócio é dependente não apenas de maciços subsídios domésticos nos Estados Unidos (será que vocês conseguem imaginar um investimento imobiliário mais tranquilo do que possuir terra e ser pago para não cultivar nada nela?), mas também de intervenção em larga escala no estrangeiro pelo governo dos Estados Unidos. Intervenção que toma a forma direta de um século de diplomacia de canhoeiras e obstrucionismo parlamentar para tornar o mundo seguro para oligarcas fundiários. Toma tanto a forma direta de política comercial neoliberal quanto a forma indireta de política do Banco Mundial e do FMI assestada para coagir países do Terceiro Mundo a “desenvolvimento voltado para exportação” (isto é, ajudar estados a transferir terra das pessoas que a cultivam para os oligarcas fundiários que coletam rentismo dela, a fim de que eles possam conspirar com agronegócios transnacionais a produção de cultivo voltado para rendimento, para exportação).
A moderna indústria eletrônica, e também uma porção maior de outras formas de manufatura, foram originalmente rebentos da economia militar. De longe, a maioria da pesquisa e desenvolvimento da eletrônica depois da Segunda Guerra Mundial, ao longo dos anos 1960, foi financiada com dinheiro do Departamento de “Defesa.” A eletrônica microminiaturizada originou-se quase inteiramente no contexto original da tecnologia militar. A eletrônica em particular e a tecnologia industrial em geral dependem fortemente da legislação de patentes. E a economia militar, com suas centenas de milhões de dólares gastas em aprovisionamento, absorve considerável porção da capacidade ociosa total da economia industrial.
O offshoring, no qual a fabricação real é realizada por instalações independentes de exploração do trabalho em condições vis, sendo porém os bens produzidos vendidos sob marcas registradas estadunidenses, depende fortemente do poderio estadunidense para fazer valer a “propriedade intelectual.” Depende também, contudo, de subsídios de larga escala para o transporte concreto e para a infraestrutura de serviços públicos sem os quais produção offshore lucrativa seria impossível. Tal financiamento da infraestrutura foi o principal objetivo da ajuda a outros países e de empréstimos do Banco Mundial nas décadas posteriores à guerra.
Toda grande área industrial é caracterizada por um oligopólio, onde a maior parte do mercado é controlado por um punhado de produtores. Os preços, nesses mercados, tendem a ser inelásticos, seguindo um equilíbrio intermitente de breves guerras de preços seguidas de longos períodos de preços administrados e conluio tácito por meio do sistema de líderes de fixação de preços. Nas indústrias em que existe essa estrutura de oligopólio, ela provavelmente acrescenta sobrepreço de 20% ao preço de varejo dos bens. E existe em grande parte por causa de cartéis regulamentadores — inclusive consórcio e intercâmbio de patentes — feitos valer pelo estado.
Se isso tudo é “socialismo,” é aquele tipo de “socialismo” objeto do escárnio de Noam Chomsky como “socialismo para os ricos e livre empresa para o restante de nós” — no qual o estado “socializa” risco e custo para os contribuintes, ao mesmo tempo em que “privatiza” o lucro para as grandes empresas.
Qualquer capitalista estadunidense que reclame — de cara séria — da “inexistência de risco” e “abundante recompensa” para as empresas, merece um Oscar.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 1o. de agosto de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.