De Sean Swain. Artigo original: Security Threat Groups: The Industry of Gangs, 12 de abril de 2021. Traduzido para o português por Gabriel Serpa.
Nas prisões de Ohio, quase todo mundo faz parte de uma organização criminosa, quer sejam membros de uma ou não. Se você for um prisioneiro de Ohio e não fizer parte de uma gangue, os administradores da prisão irão colocá-lo em uma. E se não houver, eles criarão uma nova.
A razão para isso é que se trata de um esquema de concessão de subsídios federais. Eis a forma como funciona:
O Departamento de Justiça dos EUA mantém uma espécie de sistema de dados para aquilo que chama de Grupos de Ameaça à Segurança (sigla em inglês STG), que não deve ser confundido com DST (STD em inglês). O Departamento de Justiça não monitora clamídia ou gonorreia, até onde eu sei.
O que é certamente monitorado, os tais STGs, inclui organizações como os Bloods, os Crips, os Gangster Disciples, a Irmandade Ariana, etc. Esses são os maiores grupos, reconhecidos como Grupos de Ameaça à Segurança.
Assim, para monitorá-los, o Departamento de Justiça dos EUA concede aquilo que chama de subsídios em bloco aos estados. Estados-membros que, tal como Ohio, participam do programa de monitoramento de STGs, mantêm uma base de dados os quais compartilham com o Departamento de Justiça, com documentos dos membros das gangues, bem como suas atividades. Para cada membro que o estado registra, o Departamento de Justiça repassa-lhe uma quantia em dinheiro.
Quanto mais membros de organizações criminosas são registrados, mais dinheiro o sistema prisional de um determinado estado recebe.
Nos anos 90, havia não mais do que um punhado de Grupos de Ameaças à Segurança. E cada uma dessas organizações tinha não mais do que um punhado de membros facilmente identificáveis. Em cada prisão havia um investigador cujo trabalho era principalmente cuidar dos arquivos dessas gangues.
Desde então, com a oferta de subsídios federais, temos agora centenas de STGs, alguns deles com apenas dois ou três membros, todos registados no sistema de dados. Aparentemente, temos dezenas de milhares de membros de gangues lotando as prisões de Ohio. E temos não um, mas dois investigadores de tempo integral em cada prisão neste estado, com salários subsidiados; suas despesas são cobertas por mais subsídios; seu equipamento para que faça seu trabalho também é subsidiado.
O crime organizado é uma indústria.
Conheço detentos que foram rotulados como membros de gangues, simplesmente por terem crescido numa determinada área na qual a maioria dos jovens se junta a um determinado grupo; ou por receberem correspondências não solicitadas de uma organização que sequer está listada como uma gangue. Um amigo meu, judeu, foi por anos, secretamente, membro de um bando dos Panteras Negras, sem razão e sem sequer saber.
Todos devem se lembrar que eu fui classificado, em 2012, como líder do Exército dos 12 Macacos — uma organização sem organização —, com base no fato de a minha ideologia coincidir com a deles. Assim, ao imaginar um mundo sem líderes, tornei-me líder de uma organização que sequer conta com uma organização.
Nada disso causa espanto para os que mantém os registos.
Em tudo, são os próprios investigadores — que são recompensados com estabilidade no emprego pela existência de gangues e de seus membros — que validam as organizações criminosas e seus partícipes. Ou seja, os investigadores decidem o que é um STG e decidem quais as organizações que se enquadram nessa definição. Depois, decidem ainda o que significa pertencer ao grupo e o que constitui a prova para tal.
Algumas religiões têm sido classificadas como STGs. Alguns internos chegaram a ser qualificados como membros por associação ao detento com quem dividiam cela. Assim, cumprimentar o interno que foi transferido para o seu cubículo poderia fazer de você um membro do bando ao qual ele pertence… que poderia vir a ser Os Presbiterianos, caso o investigador prisional se revelasse um batista radical do Sul.
Essencialmente, o sistema de dados do Security Threat Group é como uma caixa registadora: cada vez que um investigador prisional bate no teclado, uma nova identificação sai.
Os aparelhos dentários dos filhos deles — bem como a educação universitária que terão — dependem destes investigadores que, constantemente, expandem o número de gangues e membros a ser vigiados, por isso as organizações criminosas se proliferam… ainda que factualmente não o façam. E lembrem-se de que esses rótulos não serão apagados uma vez que os prisioneiros sejam libertados. Não mesmo. Trata-se de uma base federal de dados. Assim, se lhe classificarem na prisão como o Grande Pooh-Bah do Bando das Bananas, quer ele exista ou não, quando você sair, o polícia local que o abordar pode puxar o número da sua placa e receber o alerta de que você provavelmente está armado e é perigoso. Ou o seu sobrinho, adolescente, que pediu seu carro emprestado para levar a namorada ao cinema, pode encontrar-se rodeado por equipes da SWAT por causa de um simples farol traseiro queimado.
Recentemente, os Juggalos processaram o Departamento de Justiça, quando este se recusou a removê-los de sua base de dados para STGs. Caso não saibam, os Juggalos são os fãs de um grupo de rap, chamadoInsane Clown Posse. Os Juggalos geralmente se vestem como palhaços e bebem refrigerantes da Faygo. Isso é coisa deles. Mas, segundo os investigadores prisionais, sua propensão a ouvir a mesma música e desfrutar das mesmas bebidas — e aparentemente partilhar a mesma subcultura — faz deles um grupo que põe em risco a segurança.
Essa ação judicial está atualmente pendente. Porém, faça o que fizer, não deixe que os investigadores escapem da prisão, caso gostem das bebidas Faygo.
Este é o prisioneiro anarquista Sean Swain, do Sistema Correcional Warren, no Líbano, Ohio. Se você estiver no sistema de dados, você é a resistência!
Sean Swain A243-205