The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Numa entrevista com Denise Maerker do Televisa, durante sua viagem ao México em fevereiro, Hillary Clinton explicou por que as drogas não podem ser legalizadas: “Não acho que vá funcionar. Quero dizer, ouço o mesmo debate. … Não é provável que funcione. Há simplesmente dinheiro demais envolvido, e não acho que — podem ser legalizadas pequenas quantidades para posse, mas aqueles que estão ganhando tanto dinheiro vendendo, eles têm de ser coibidos.”
À primeira vista você poderia pensar tratar-se apenas de analfabetismo econômico. Afinal de contas, é senso comum elementar que o motivo de haver “tanto dinheiro” em drogas é POR CAUSA de elas serem ilegais. Elas alcançam preço de mercado paralelo. Se a maconha fosse legal e vendida pelo mesmo preço do orégano, você acha que haveria gangues mexicanas brigando para controlar a fronteira traficando a droga? O melhor modo de “coibir” as pessoas “que estão ganhando tanto dinheiro vendendo” é tornar a substância barata e legalmente disponível.
Salta aos olhos que os maiores opositores da legalização — mais, mesmo, do que os policiais antidrogas — são os caras do crime organizado que ganham dinheiro com o comércio de drogas. Lembro-me vagamente de uma historieta acerca de uma eleição num “condado onde as bebidas alcoólicas são proibidas” em algum lugar do sul agrícola; o carro do contrabandista local de bebidas alcoólicas estava coalhado de decalques dizendo “Por amor de minha família, mantenham o Condado X livre de bebidas alcoólicas.”
Examinando melhor a coisa, porém, suspeito de que a observação de Clinton foi um lapso freudiano. Ele não foi culpada tanto de expor a própria ignorância quanto de inadvertidamente dar aos não iniciados um rápido vislumbre da verdade — o governo não legaliza as drogas porque há dinheiro demais — para ele e seus aliados — ao elas serem mantidas na ilegalidade.
É princípio econômico básico que a criação de um mercado paralelo de qualquer substância criminalizada levará, por sua vez, à criação de redes criminosas que lucrarão do tráfico de substâncias controladas. A Proibição resultou no crescimento explosivo do crime organizado nos Estados Unidos.
O que, porém, algumas pessoas não entendem é que uma das gangues do crime organizado que lucra com o controle do comércio de drogas tem, como cor da gangue, o azul. No nível mais crasso, há os policiais corruptos que permitem a alguns traficantes de drogas atuarem — enquanto pagarem por proteção. Ou policiais que apreendem a droga e depois a vendem. Seria porém um equívoco tratar o problema como se referente apenas a “alguns maus elementos”. A cultura da polícia é corrompida até o núcleo de seu cerne pela Guerra Contra as Drogas.
A criminalização das drogas não apenas permite os lucros dos sindicatos da Colômbia e do México. Ela sustenta um sórdido império de equipes militarizadas da SWAT que aterrorizam famílias e assassinam pessoas inocentes em seus lares, de roubo mediante confisco civil tornado possível por informantes presos, e de “Forças-Tarefas Interjuridicionais de Drogas” transbordantes de dinheiro. Toda a cultura policial relacionada com a Guerra Contra as Drogas — exatamente como aquilo que vemos convencionalmente como crime organizado — parece com aquilo que a gente encontra debaixo de uma rocha arrancada do chão.
A Guerra Contra as Drogas, em uma palavra, é onde está o dinheiro todo. Não se pode legalizar as drogas porque há dinheiro demais no mantê-las ilegais — para os policiais.
Numa escala mais ampla, os maiores narcotraficantes do mundo são o Estado de Segurança Nacional dos Estados Unidos e seus clientes. O Afeganistão é um exemplo que vem a calhar. Um dos motivos de o Talibã ser tão impopular foi ele ter acabado com a produção de ópio. O único lugar no Afeganistão onde a papoula era cultivada em larga escala era nos territórios da Aliança do Norte. Assim, os Estados Unidos derrubam o Talibã, os agentes da CIA no solo estabelecem a Aliança do Norte como novo governo nacional — e o Afeganistão é de novo o centro da produção mundial de heroína.
As drogas não podem ser legalizadas porque há dinheiro demais envolvido — para os espiões internacionais. Isso inclui os grandes bancos que lavam todo o dinheiro das drogas e compram políticos no mundo todo (inclusive nos Estados Unidos). Inclui a CIA, que historicamente tem usado o comércio de drogas para financiar esquadrões da morte e golpes no mundo inteiro.
Há dinheiro demais — para o estado e seus aliados — ao as drogas serem mantidas ilegais. Isso como que faz a gente pensar de que lado o estado realmente está.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 24 de março de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.