The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Acabamos de ver outro feriado “patriótico” vir e ir-se, e com ele os mesmos comentários piegas obrigatórios de âncoras do noticiário da TV local acerca de tropas no exterior “defendendo nossa liberdade.” Do mesmo jeito que vimos no Dia da Memória, e do mesmo jeito que veremos de novo no Dia do Veterano.
Classificação AAA, excelente, não adulterada, 99 e 44/100% bobagem, obviamente. Soldados não “defendem nossa liberdade.” Servem ao estado e lutam nas guerras dele, e o estado não está exatamente interessado — o eufemismo do milênio — em nossa liberdade.
As guerras são começadas por estados, na persecução de suas próprias agendas. A guerra é simplesmente outro instrumento da política do estado, como observou Clausewitz há 200 anos. E as políticas do estado estão voltadas para servir à constelação dos interesses das classes que o controlam. Caso você não tenha notado, você e eu não figuramos de maneira muito destacada nessa constelação. As 500 da Fortune, o capital financeiro e o complexo industrial-militar, sim. Nas palavras de George Carlin, é um grande clube, e você e eu não pertencemos a ele.
Assim, pois, as guerras que o governo dos Estados Unidos conduz no exterior — e os soldados que participam da luta na prática, por mais sinceros possam ser os motivos deles — são conduzidas principalmente em benefício da liberdade de Boeing, Monsanto, Cargill, Blackwater, Halliburton, Exxon-Mobil, Sony, Disney e Microsoft. E para esmagar a liberdade onde no mundo ela possa ameaçar os lucros dessas empresas.
Se você acredita que a liberdade é algo concedido pelos estados e outras formas de autoridade, por causa da bondade do coração delas, está lamentavelmente errado. E se você se autodenomina “conservador favorável a um estado enxuto” mas adora a autoridade na roupagem de funcionários do estado armados e de uniforme — exatamente o meio pelo qual o estado faz valer sua autoridade — você está delirando ou coisa pior.
Como argumentou o anarquista Rudolf Rocker, nossa liberdade resulta não do estado, e sim da disposição das pessoas para desafiar a autoridade e resistir a suas invasões de nossa liberdade. Longe de concedidos pelo estado e defendidos por seus funcionários armados, nossos direitos existem porque os impusemos ao estado — muito contra a vontade dele — a partir de baixo. E mantemos esses direitos não porque as tropas estadunidenses arreiam portas a pontapé em Bagdá ou chacinam com aviões teleguiados cerimônias de casamento no Afeganistão, e sim porque as pessoas comuns reclamam com alarido e recusam-se a obedecer ao estado aqui dentro do país.
Em todo feriado “patriótico” colunistas e editores de páginas de editorial exibem a mesma cansativa coluna: “Não é o manifestante que nos dá a liberdade de expressão, e sim o soldado …” É exatamente o contrário. Nenhuma de nossas guerras externas tem qualquer coisa a ver com defender nossa liberdade aqui dentro do país. E se a instituição militar é alguma vez empregada domesticamente, pode apostar seu último dólar que será empregada para suprimir nossa liberdade na ponta de cano de arma.
Cada partícula da liberdade de que gozamos vem dos criadores de caso, dos instigadores, dos párias, das pessoas completamente destituídas de respeitabilidade — os Desprezíveis Hippies Imundos, nas palavras de Nixon — e da disposição delas de dizer coisas que o governo não quer que digam. Nossa liberdade é expandida e defendida exatamente pela espécie de pessoas execradas — e desmoralizadas — pelos “bons cidadãos respeitáveis,” e jogadas na prisão pelos policiais locais. Nossa liberdade vem das pessoas que foram presas por John Adams com base na Lei de Sedição, dos milhares de Trabalhadores Industriais do Mundo que atulharam as cadeias locais durante a Campanha pela Liberdade de Expressão, e por Breanna Manning que é torturado diariamente na prisão por mostrar ao mundo os crimes de guerra do governo estadunidense.
A atitude das pessoas respeitáveis — exatamente as pessoas mais dadas a citar presunçosamente aquela coluna do “não é o manifestante,” na verdade — em relação aos reais defensores de nossa liberdade foi expressada pelo prefeito de uma cidade do meio-oeste nos anos 1920: “Toda vez que ouço alguém falar acerca de liberdade de expressão, ou carta de direitos, penso: ‘Esse aí é um comunista consumado.’ Nenhum bom estadunidense fala desse jeito.”
Portanto, se você ama sua liberdade, não agradeça aos soldados. Agradeça aos desprezíveis hippies imundos.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 9 de julho de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.