The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Em lógica clássica, o modelo padrão de raciocínio dedutivo é o silogismo. Provavelmente a maioria das pessoas estará familiarizada com este exemplo: Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Portanto, Sócrates é mortal.
O entimema é um silogismo incompleto com uma das premissas deixada implícita. Em retórica clássica, quem fala usa um entimema para apelar para as assunções não ditas mas compartilhadas pela plateia. A premissa não enunciada é uma assunção cultural não questionada — amiúde algum preconceito — compartida pela plateia, deixada sem ser enunciada porque enunciá-la poderia dar azo a exame crítico.
Numa sociedade de classes, o entimema assume importância especial. A ideologia da classe dominante é propagada por entimemas embutidos em todas as mensagens com as quais o aparato da reprodução cultural — discursos políticos, as escolas, a mídia noticiosa, entretenimento — nos bombardeia dia após dia.
Uma das armas mais eficazes com que contamos, em nossa luta contra a classe dominante e sua ideologia, é tornar explícitas as premissas não enunciadas dos entimemas constantes na propaganda da classe dominante, e expô-las a exame crítico.
O mais poderoso condicionamento cultural resulta não de enunciados explícitos de princípios que a classe dominante deseja que internalizemos, e sim de coisas que todos assumimos como naturais e evidentes sem que jamais nos lembremos de quando nos afirmaram essas coisas. Se esses princípios fossem enunciados, em certo número de palavras, em simples sentenças declarativas, as pessoas possivelmente parariam de conceder a eles consideração séria, antes de ponderarem acerca de concordar ou discordar deles.
Obviamente, não é isso o que a classe dominante quer. É, porém, exatamente o que queremos.
Tome a afirmação comum que ouvimos, tanto da propaganda oficial do aparato de polícia do estado quanto de seus apologistas na população em geral: Se você não estiver fazendo nada de errado, nada terá a temer. Esse é um entimema com uma premissa não enunciada do tamanho de Júpiter. A premissa implicita pode ser desdobrada como um complexo de diversas proposições estreitamente relacionadas: O estado é bem-intencionado; a definição do estado de “fazer coisas erradas” é a mesma da pessoa média; pode-se confiar em que o estado não abusará de seu poder; etc.
E como qualquer leitor de Glenn Greenwald ou de Radley Balko sabe, essas premissas — para falar de modo brando — não se sustentam lá muito bem diante da evidência empírica.
Analogamente, todas aquelas declarações que ouvimos do estado de segurança nacional acerca de “ameaças externas,” “agressores,” gastos com a “defesa” estadunidense, e coisas que tais, todas incluem premissas não enunciadas acerca da natureza e dos propósitos da política externa estadunidense que podem ser obliteradas pelo volume de evidência documentada na obra de Gabriel Kolko, William Blum e Noam Chomsky.
Similarmente, todos os pios lugares-comuns que ouvimos, no debate de políticas públicas, acerca de nosso sistema de “livre mercado/livre empresa.”
Nossa cultura popular política e social, nossas mentes individuais, sob a influência de constante barragem de mensagens de propaganda de nossas instituições educacionais e de mídia, está toda ela tão infectada por assunções não examinadas quanto um porco infestado de triquina está infectado por seus cistos. Nossa tarefa é abrir esses cistos, expô-los ao ar e limpar a decomposição.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 11 de agosto de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.