The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Notícias perturbadoras oriundas dos círculos do Occupy acerca de práticas do Departamento de Polícia da Cidade de New York – NYPD nos dias que correm — quero dizer, além de todas aquelas outras práticas do NYPD com as quais já estávamos perturbados.
David Graeber, preeminente anarquista envolvido no Occupy desde o início, descreve ver uma amiga em New York há poucas semanas, com a mão engessada. Um policial havia agarrado o seio dela, disse ela.
Quando ela fez espalhafato e gritou a propósito do apalpo, os policiais arrastaram-na para longe da vista e começaram a espancá-la. “Pare de resistir!” continuaram a gritar, à medida que batiam repetidamente o corpo dela contra o concreto. A certa altura ela disse a eles que estava tentando alcançar os óculos, que haviam caído na confusão. Na rasteira mente policial, isso justificou prender as mãos dela atrás das costas e forçar um pulso até que se rompesse.
Aqueles familiarizados com excessos da polícia contra manifestações antiglobalização e as mais recentes manifestações do Occupy, ou que acompanham Radley Balko e CopBlock, estarão cientes de que a única coisa inusitada, no caso citado, são as agressões sexuais. Como diz Graeber, “violência arbitrária não é nada de novo. Novo é o uso aparentemente sistemático de agressão sexual contra manifestantes do sexo feminino.”
Obviamente a agressão sexual dificilmente é algo novo como arma de controle social, em termos históricos. Ela consta nos arsenais da maioria dos regimes autoritários — uso premeditado, em larga escala, do estupro para limpeza étnica por forças sérvias na Bósnia, soldados egípcios usando “inspeções de virgindade” para humilhar manifestantes do sexo feminino tomadas em custódia, e assim por diante.
Trata-se porém de algo novo no recente contexto estadunidense. Graeber registra não ter ouvido reclamações de agressão sexual pelo NYPD antes de 17 de março; houve porém diversas naquele dia (uma mulher relatou ter sido agarrada por cinco policiais diferentes), e continuaram desde então. É difícil evitar a conclusão de tratar-se de recentemente adotada “política não oficial” dos policiais rasos — do mesmo modo que cobrir os números dos distintivos.
O que estamos testemunhando é a realidade por trás da máscara do Policial Amigo(*). Isso é o que acontece quando o estado percebe a população em geral como ameaça, e acaba com o fingimento de que O Policial é Seu Amigo. (* Wikipedia: Officer Friendly)
Pessoas de bairros predominantemente pretos e hispânicos do centro urbano decadente — onde a polícia dificilmente se dá ao trabalho de ocultar o fato real de ver a população local como inimigo ocupado que tem de ser intimidado por meio de força superior — vem vendo essa face horrenda há décadas. Em meses recentes, porém, o aumento radical de violência policial nas manifestações do Occupy, juntamente com o onipresente vídeo de telefone celular, mostrou, pela primeira vez, a face nua do poder para muita gente do público da classe média branca.
O Tenente Pike da força policial da Universidade da Califórnia em Davis – UC Davis, aplicando metodicamente spray de pimenta nas faces voltadas para cima de estudantes universitários pacíficos (e predominantemente brancos), foi uma revelação para muitas pessoas dos subúrbios. Embora, porém, tenha sido a primeira visão para muita gente, não será a última. Pois essa é a cara do estado quando não mais se pode dar ao luxo de manter a fachada de democracia. Todas aquelas coisas horríveis que costumavam acontecer a “aquelas outras pessoas” situadas do outro lado daquela Fina Fileira de Policiais — “É a vez de Giuliani!” — estará logo chegando a “gente como nós.”
O estado estadunidense veio funcionando de maneira, se não legal, pelo menos “normal,” no tocante à maior parte dos integrantes da classe média branca a maior parte do tempo, porque podia dar-se ao luxo de fazê-lo. Mostrava seu lado torpe a minorias raciais e radicais, porque menos bem-sucedidamente socializadas no tocante ao consenso quanto à realidade(*) — e ninguém “que fizesse diferença,” afinal, lhes daria ouvidos. A maior parte do público, entretanto, absorvia seu condicionamento de maneira mais ou menos satisfatória. Acreditava ser esta uma “sociedade de livre empresa” na qual pessoas de grande riqueza em sua maior parte havia ganho honestamente o que tinham, corporações gigantescas haviam-se tornado no qu eram mediante desempenho superior, o estado representava todos nós em vez de alguma “classe dominante,” e se você não gostasse da lei deveria trabalhar no sentido de mudança dentro do sistema — toda aquela léria de Pleasantville. Constitutionalismo e legalidade tornam tudo perfeito — mas apenas enquanto o aparato de reprodução cultural fabrica com sucesso o consentimento. (* Wikipedia: Consensus reality)
Agora o condicionamento começa a dar sinais de exaustão. Número perigosamente crescente de pessoas entende que o sistema está montado no interesse do 1%, e sujeitos como nós estão jogando num jogo viciado. O estado e a classe dominante corporativa que o controla foram surpreendidos, visto medidas que há dez anos teriam passado sem obstáculos, como SOPA e ACTA, sofrerem inesperados prejuízos infligidos por movimentos em rede. O sistema não consegue funcionar quando gente demais vê o homem por trás da cortina(*). (* Wikipedia: Stop Online Piracy Act, Anti-Counterfeiting Trade Agreement, The Man Behind the Curtain)
Os funcionários do estado estão começando a perceber quanto está realmente em jogo. Em reação, suas tropas de choque estão deixando cair as máscaras do Policial Amigo. Portanto, estejam preparados: O estado, antes de acabar, será tão execrável quanto tenha de ser.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 7 de maio de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.