The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Em recente artigo para Reason, Ira Stoll elogiou os Jogos Olímpicos de Londres de 2012 — não apenas no corpo do texto mas no próprio título — como “Triunfo do Capitalismo” (23 de julho de 2012). Ele está inteiramente correto — mas não pelo motivo que supõe.
A caracterização por Stoll dos Jogos Olímpicos como “capitalistas” parece refletir o financiamento deles “em grande parte não pelos governos, e sim pelo setor privado.” Oh, e também o fato de direitos de “propriedade privada” (em certa medida) estarem sendo transacionados:
“A NBC (não uma empresa de televisão cubana ou norte-coreana, e sim estadunidense) concordou em pagar, segundo se informa, $4,38 biliões de dólares pelos direitos de transmissão de quatro Jogos Olímpicos, soma que se torna possível pela venda, pela NBC, de tempo de patrocínio comercial para anunciantes. Até mesmo ‘transmissão’ é agora termo inadequado, visto que os jogos podem ser vistos em tempo real na Internet e nos canais de televisão por cabo.”
Stoll é típico da espécie de “libertário” para a qual “direitos de propriedade privada” e grandes fluxos de receita “privada” — qualquer sejam suas fontes ou legitimidade — são tudo o que importa.
Se você definir “capitalismo” simplesmente como uma economia na qual a maioria das atividades é desenvolvida por corporações privadas e serve como fonte de lucro para elas, então Stoll está inteiramente correto. E se, como eu e os outros anarquistas de mercado esquerdistas do Centro por uma Sociedade sem Estado, você definir “capitalismo” como um sistema no qual o estado subsidia as grandes empresas, protege-as da competição e atua como guardião de direitos de propriedade artificiais e de rentismo decorrente da escassez artificial de onde elas derivam seu lucro, os Jogos Olímpicos também satisfazem à definição.
Qualquer seja a quantidade de financiamento privado que os Jogos Olímpicos obtenham, obtêm também muito dinheiro proveniente dos contribuintes; e as funções e a infraestrutura fundamentais que servem de base para o investimento privado são financiadas principalmente pelo governo.
A Autoridade Executiva Olímpica (ODA) é uma empresa pública, subordinada ao Departamento de Cultura, Mídia e Esporte, criada para supervisar a construção do Parque Olímpico e a respectiva infraestrutura de transportes. O orçamento da ODA — na casa dos biliões de libras — vem de um pacote de financiamento acordado com o Prefeito e a Cidade de Londres. Obviamente esse financiamento estatal (oriundo tanto da receita tributária quanto da Loteria Nacional) não inviabiliza o fato — sem dúvida confortador para o Sr. Stoll — de os fundos passarem por algumas mãos corporativas ao longo do caminho. O trabalho concreto é feito por um empreiteiro privado — isto é, o CLM, consórcio parasitário de CH2M Hill, Laing O’Rourke e Mace.
A descrição de Stoll do dinheiro desembolsado para “direitos de transmissão” é também bastante reveladora do que ele entende por “capitalismo.” Todos aqueles biliões que a NBC está pagando são investimento no que equivale a um empreendimento com retorno garantido pelo estado. Os Jogos Olímpicos de Londres são um dos eventos da história humana mais fortemente protegidos por copyright e marca registrada. “Direitos de transmissão” são algo absolutamente sem sentido, a menos que você pressuponha um monopólio concedido pelo estado outorgando direito de distribuir informação. E você pode apostar até o último tostão que toda aquela transmissão em tempo real na Internet também será patenteada.
A estupidez da “propriedade intelectual” vai além do ponto de paródia de si própria. Do mesmo modo que Rupert Murdoch, que se atrapalha diante de qualquer tecnologia desde 1970, o Comitê Olímpico acredita que de fato pode regulamentar os termos segundo os quais as pessoas vinculam-se a ele. Veja, você não poderá vincular nada ao website dele (este website aqui mesmo:http://london2012.com) se disser qualquer coisa pouco cortês a respeito dele. A “propriedade intelectual” dele é aparentemente retroativa a ponto de incluir todas as referências culturais ou históricas anteriores aos Jogos Olímpicos; ele até foi atrás de um restaurante chamado Olympic Gyros.
E obviamente os Jogos Olímpicos estão cercados pelo tipo de estatismo policial sem peias pelo qual Londres tornou-se famosa nas duas últimas décadas: lançadores de mísseis terra-ar nos telhados, censura do Twitter, câmeras de vigilância do público, e policiais de choque blindados de prontidão. Você pensaria tratar-se de uma reunião da Organização Mundial do Comércio ou do G-8.
Portanto, se sua ideia de “capitalismo” não for a de livre mercado, e sim a de um sistema no qual o estado socializa custos e riscos e privatiza o lucro, eu e os parceiros anarquistas de mercado do C4SS estamos inteiramente de acordo. A única diferença é que o que Stoll elogia tão efusivamente é exatamente aquilo contra o que lutamos.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 25 de julho de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.