Por Frank Miroslav. Artigo original: Values, Understanding, and Strategic Foundations, de 22 de abril de 2025. Traduzido em porguguês por p1x0.
Saludos amigues, soy p1x0, Tradutor & anarquiste de vila, interessado na superação do Estado das coisas como estão. Considere apoiar meu trabalho Clicando Aqui.
Como projeto, o anticapitalismo tem visto imensa energia intelectual gasta em seu nome. Ele pode reivindicar algumas das mais brilhantes pensadoras da modernidade como particpantes.
Entretanto, em termos de resultados as coisas tem sido imensamente miseraveis. Temos todos os genocídios, estados policiais, e conquistas que foram justificadas em nome do socialismo ou comunismo. Mas por pior que estes sejam, penso que o que torna tudo pior é o fato de que a esquerda atual está simplesmente sem direção. Essa desorientação pode ser vista em duas orientações abrangentes com as quais a maioria dos esquerdistas contemporaneos entende o mundo.
Primeiramente, existem esquerdistas que declaram que devemos adotar prioritariamente alguma abordagem que foi tentada no passado. O problema, eles argumenta com a abordagem previa foi que aqueles que a tentaram não tiveram sorte, foram deturpados, ou não tentaram o suficiente. Então enquanto eles incluem alguns retalhos para resolver problemas atuais óbvios que gerações anteriores ignoraram como a libertação queer ou ambientalismo, eles supõem que a maioria das coisas já foi resolvida e que nós só precisamos executar ideias já criadas. Social democratas, tankies, e sindicalistas doutrinários seriam os exemplos mais fáceis nesta categoria.
E então, há a minoria que reconhece e aponta para problemas significantes com as estratégias do grupo anterior mas não tem uma alternativa séria. Você sabe que está lendo uma figura deste grupo quando gastam páginas detalhando todas as várias formas como as coisas vão mal em seu ensaio, apenas para encerrar seu ensaio ou livro implorando para a leitora manter aalguma vaga esperança que algo talvez seja possível, mas sem detalhes reais sobre isso ou mesmo como chegarmos lá. Enquanto algumas dessas figuras tentaram avançar algo mais compreensível, o progresso permanece dolorosamenrte lento. Um grupo comoo Endnotes collective é um bom exemplo desse tipo.
Quando se trata da esquerda contemporanea mais rigorosa, parece que o melhor plano que alguém consegue bolar é que alguém realmente deveria bolar um plano.
Mas, apesar da história da falha política, a esquerda ainda tem visto considerável sucesso no que se trata de mudar pressuposições intelectuais. Em disciplinas que lidam diretamente com a sociedade – história, sociologia, antropologia, etc – a opinião mediana de acadêmicos tem se movido bastante a esquerda relativamente a onde estavam no começo do século 20. Mesmo em campos “conservadores” como a economia – veja como a maoria dos economistas são amplamente a favor de políticas “progressistas” como leis anti-discriminação ou redistribuição de riquezas. Certamente neste movimento muito só chegaram longe o suficiente para se tornarem liberais progressistas, mas o fato de que continuamos vendo algum movimento é significativo.
Especialmente pois mudanças intelectuais de longo prazo não vem como consequencias dos sucessos políticos da esquerda. Eventos como a Revolução Russa trouxeram a credibilidade momentânea do marxismo, mas isso foi comprometido por eventos como a invasão da Hungria, as revelações sobre Stalin, o racha sino-soviete, e, é claro, a queda da União Soviética. Ao longo do século 20, as falhas dos estados socialistas e movimentos foram, efetivamente, muito mais danosos a credibilidade das esquerdas. O impacto intelectual da esquerda é discutivelmente ainda mais impressionante pois aconteceu apesae de todas as calamidades das políticas de esquerdistas.
A força das ideias de esquerda pode ser vista na imensa mudança que aconteceu nos anos de 2010 em termos de identificação política popular. Por praticamente duas décadas após a queda da União Soviética, a esquerda radical era um número diminuto de ativistas e acadêmicos bastante desconectados do resto da sociedade. Então em um intervalo de uma década, nós testemunhamos uma explosão dramática de pessoas que se identificam como de esquerda e uma grande popularização de ideias de esquerda que forçaram um acerto de contas pela cultura mais ampla. Then in the span of a decade, we’ve seen a dramatic explosion in the number of people who identify as leftist and a broader popularization of leftist ideas that has forced a reckoning by the broader culture.
Certamente, parte disso é apenas uma reação a recessões econômicas e a precariedade, mas existem diversas explicações de porque as coisas estão tão ruins que não são necessariamente de esquerda. Para se tornarem populares, ideias de esquerda tem que vencer estas outras alternativas. Este sucesso é uma consequência do fato que há algo nestas ideias, que tais modelos de mundo são (geralmente) as melhores alternativas, e que o aumento contínuo da prevalencia da internet as tornou acessíveis de um forma que elas simplesmente não eram antes.
E por certo, muitps foram atraídos para a esquerda por outros motivos – um senso de comunidade ou o status das hierarquias – e não tem nenhum desejo real de realmente compreender ou mudar as coisas. Mas novamente, se essa fosse a única motivação, dificilmente você teria tantas pessoas atraídas para algo tão específico quando “a esquerda”. Afinal de contas, as pessoas são capazes e alcançam coisas parecidas através de outras ideologias ou mesmo fandoms,
Ainda assim existem nítidos limites para mera persuação e alcance. E por mais que haja a possibilidade de maior radicalização, é difícil que vejamos uma onda de radicalização parecida por ao menos uma geração. Parte disso é simplesmente que algumas pessoas não se importam de verdade. Mas e essas que estão politicamente engajadas? Porque elas não foram convencidas?
Bem, um fator significativo é que, no presente, a política é um capmo onde, em certo nível, oque as pessoas acreditam determina o resultado, um campo onde pensamento mágico meio que pode funcionar. Convença as pessoas certas de algo e isso vai resultar em consequências no mundo independente de se essas ideias são verdade. Esta é a estratégia implpicita de muitos movimentos: as ideias, e os slogans que pregam podem refletir a realidade, mas isto é secubdário em atrair a spessoas, para as fazer acreditar em algo.
Oque raramente é considerado, ao menos abertamente, é a aparentemente conclusção lógica desta abordagem – a verdade importa de alguma coisa? Se, na análise final a única coisa que conta é o número de pessoas devotas a uma causa, simplesmente para de brincadeira e maximisse isso – construa um culto ou junte-se a um!
É fácil – cubra os recém chegados de elogios, afeição, e atenção, frequentemente tenha membros exigindo tarefas uns dos outros para forjar solidariedade, crie um espaço social isolado onde a informação do exterior é vista com suspeita, e encorage mebros a paarticiparem de rituais que constroem um senso de comunhão. Este é um terreno bem conhecido: grandes impérios e igrejas foram construídas assim, também muitos movimentos que definiram a modernidade são continuações dessa venerável tradição.
Mas não todos eles. Tem algo mais acontecendo.
Entretanto, o fato que sequer existe é a melhor réplica para apostar tudo nos cultos. Historicamente, a esquerda só teve uma fração dos recursos de seus oponentes foram capazes de acumular. Então se é apenas um jogo de mobilizações, movimentos de esquerda teriam sido uma nota de roda pé da história. E enquanto os resultados dos movimentos de esquerda são questionáveis , o mero fato que a esquerda moldou dramaticamente o curso da história não apenas uma vez, mas de novo e de novo apesar de seu status de minoria, é a mais nítida tréplica de que apostar tudo em cultos não é uma estratégia dominante.
Então por que este lado que está tão mal financiado e também ameaça abertamente o status quo permanece tão efetivo?
Não vai te surpreender, que tem algo a ver com pessoas de esquerda compreendendo o mundo melhor. Um melhor entendimento não apenas te permite vener argumentos e convenecer pessoas a irem para o seu lado, também te dá uma vantagem estratégica sobre seus adversários que não tenham este entendimento. Mas então porque a esquerda é favorecida intelectualmente? The null hypothesis A hipótese nula no que setrata de compreensão e ideologia deveria ser de que não há correlação, que a inspiração está igualmente distribuída entre os aderentes. Então oque explica este agrupamento?
Isso tem a ver com a natureza da tomada de decisões. Agir no mundo não é algo trivial. Pois quando se toam ação há um incontável número de considerações que você potencialmente poderia envolver em seu cálculo decisório. Uma boa parte de uma ação efetiva no mundo real é ser capaz de cortar entre o que é e oque não é relevante para que você possa ser capaz de rastrear seus problemas. Uma parte significante de qualquer resolução de problemas séria é descrevê-lo de uma forma que se torne possível interagir com ele e este processo não é óbvio. Problemas relevantes na vida não são tarefas de casa ou meramente ligar a questão a uma fórmula ou procedimento para resolvê-la.
Certamente para muitos problemas este processo pode ser relegado as heurísticas que são resultado de acumulação cultural e/ou evolucionária. Mas para problemas que não cabem no nosso “senso comum” inerente ou que não foram procedimentados por desenvolvimento cultural e/ou técnico, um engajamento mais autoconsciente se faz necessário. Entender como descrever um problema significa tomar decisões, conscientes ou não, sobre oque vocÇe considera importante. Isso inerentemenet significa que os valores de alguém moldam as soluções que te atraem, mas também são questionadas quando você age.
Mas nossos valores não estão fixos. Eles são formados por experiências com o mundo. Sim, nosso herança biologica molda as coisas de uma maneira semi-previsível, mas uma parte significante de ser humano é nossa capacidade de aspirara a coisas além das inclinações que a evolução nos entregou, para não apenas pegar oque está dado, mas para aspirar ou rejitar certas inclinações que estão bem fora da nossa linhagem evolucionária. As vezes isso é feito através de reflexão consciente, em outros momentos é forçado sobre nós por fatores externos. Independente do fato que valores são formados em parte de informação e experiências, isso significa que novas informações e experiências podem mudá-las.
Ainda assim a maioria das pessoas resiste a isso Em um motivo significante tem a ver com um senso de si. Suas as pirações são uma parte significante de quem você é e modificá-las questiona tanto o seu passado quanto seu futuro. Mudar seus valores potencialmente significa questionar momentos da sua vida de uma forma que pode ser incrivelmente desconfortável. Mas também questiona o futuro. Basear seu quotidiano em alguma vaga narrativa sobre sua vida te ajuda a entender oque fazer e sem isos é fácil sentir-se perdido.
Quando as pessoas falam em estarem “perdidas” após experienciarem algo que força a repensarem significativamente suas vidas e oque querem fazer com ela. Eu penso que há um caminho bastante literal de interpretar isso, Repensar é emocional e intelectualmente exaustivo e é compreensível que as pessoas evitem de fazer este trabalho.
Entretanto, ao manter falsas crenças para garantir seu senso de si, você limita sua capacidade de agir no mundo. E por mais que existam falsas crenças que são mínimas ou sem consequências é difícl saber quais são sem considerar sua totalidade. Tudo está conectado tanto que mesmo alterações aparentemente pequenas podem ter consequências dramáticas.
Mas nem todas as aspirações são tão frágeis. A um exemplo nítido de um exemplo que não pe ameaçado por questionamentos é “Eu quero conhecer o mundo”. A menos que o universo acabe por ser um horror lovecraftiano que enlouquece a todos que mergulham muito a fundo em seus mistérios, esta é uma aspiração que você pode usar para orientar a si mesmo independente do contexto. A que outros valores e aspirações as pessoas chegariam dada suficiente reflexão e participação no mundo é uma questão aberta? Ainda, penso que no campo político nós vemos correlações diretas entre aspirações amplas e suas intenções de engajar com o mundo que penso, aponta para uma estrutura mais profunda.
O mais nítido dos exemplos de uma recusa a se engajar é o rompante anti intelectualismo que tipifica o conservadorismo. A estupidez dos conservadores médios é um fenômeno há muito comentado e só se tornou mais nítido graças a internet. A maioria dos argumentos conservadores não são argumentos completos que intencionam convencer os de fora, o objetivo é que eles sejam suficientemente complexos para que refutá-los sucintamente seja impossível e assim os que acreditam possa facilmente desconsiderar críticas, enquanto observadores desinteressados podem supor que ambos os lados sçao mais ou menos iguais já que não há uma resposta direta.
O que é trazido menos a baila é como “intelectuais” conservadores e reacionários quase sempre tendem a argumentos anti-intelectuais em suas justificações para hierarquias.
Isso acontece há muito, desde figuras como Edmund Burke e Joseph de Maistre respondendo a Revolução Francesa. Eles localizaram a fonte do derramamento de sangue não apenas no envolvimento das classes superiores na política, mas no húbris de filosofos e radicais que ousaram questionar a monarquia. Não era apenas a conectividade trazida pela urbanização permitindo ao público se organizar mais efetivamente ou as políticas incompetentes do regime ou apenas má sorte, não, eles acreditavam que o ceticismo com a ordem vigente teria sido o fator decisivo. Eles centraram a limitação intelectual, em seus chamados a reestabelecer a monarquia,.
Variações destes movimentos tem sido repetidos desde então. Nos argumentos que conservadores e reacionários fazem, eles inevitavelmente vão tencionar os limites do que se pode ser compreendido, o que por sua vez justifica alguma ordem arbitrária que colapsaria sobre escrutínio. Isso é verdade mesmo para aqueles que tentar naturalizar hierarquias fazendo delcarações empíricas sobre o mundo. Mesmo quando eles chegam a uma discrepancia significativa, eles sempre minimizam ou negam o nível no qual essa discrepancia é algo que está aberto a mudanças.
O atual pânico sobre pessoas trans é um exemplo nítido destes limites. Divisões de gênero há muito tem sido a origem de hierarquias graças a discrepancias bilógicas báscias que permitem o surgimento de desequilíbrios de poder (que muitas culturas foram bem sucedidas em nivelar através de práticas sociais). Ainda assim a luta básica por liberdade morfológica, onde pessoas trans/queer estão na linha de frente, vai, se bem sucedida, demolir compeltamente qualquer argumento para relações patriarcais que apelam para a biologia. Conforme nossa capacidade para auto transformação melhora, a única justificativa que permanece para o patriarcado é que o exercício de dominação é aprecisado em si e por si.
Então, apesar de supostamente irem em direção a uma “racionalidade”, aqueles que tentam justificar desigualdades como “naturais” são inevitavelmente levados a adotar conspirações sobre como cientistas e pesquisadores são comprados e/ou intimidados em obediência, que intervenções que afastariam as pessoas de suas supostas “inclinações” naturais podem causar somente ruína individual e coletiva independente das evidências que sugerem o contrário.
As coisas ficam mais complicadas quando consideramos liberais e esquerdistas. Certamente, aos liberais não faltam pontos cegos no quando se trata de várias opressões que surgem não de políticas fracas ou atores maliciosos, mas sobre como a sociedade é estruturada de forma mais profunda. Então uma venerável linha de ataque de muitos esquerdistas contra liberais é que eles concordam com os objetivos dos liberaus, mas que existem barreiras estruturais para o mundo que eles desejam. Portanto se eles forem sérios, deveriam buscar a tranformação radical da sociedade.
Ainda assim, não penso que a falha de liberais sinceros em se tornarem mais radicais seja apenas covardia ou inconsistência intelectual. Acredito que o conservadorismo com c minúsculo dos liberais atuais é uma uma resposta razoável aos fracassos da esquerda. Dado tanto os destroços que a esquerda causou e sua falha em apresentar um caminho sério adiante, é inteiramente racional concluir que ela não é um caminho viável. Especialmente já que reforma é possível. Eu sinceramente penso que se tentássemos nós poderíamos conseguir passar uma legislação significativa para o bem estar social, ou para o meio-ambiente, ou para empregos, que traria um avanço sério a nossa realidade.
Não obstante, eu rejeito este caminho pois ele só é capaz de alcançar certos espaços pois algumas vitórias só podem ser alcançadas através de significativas mudanças estruturais. E, porque um movimento que é constríudo ao redor de vencer reformas é batsante diferente de um que tem como objetivo mudanças mais profundas. Há um custo de oportunidade fundamental em se adotar um ou outro.
Oque é essencial de se entender é que a falta de respostas na esquerda é um fenômeno historicamente contingente – a desorientação que vemos no presente não é de forma alguma um resultado desejável de aspirações emancipatórias. Volte o relógio para 1900. mude minimamente um par de variáveis e o último século seria bem diferente. E não estou falando apenas sobre avanços polítcos absolutamente diferentes, ma stambém avanços intelectuais. Muitas ideias populares na esquerda chegaram a este ponto não pela análise e argumentação superior, mas pela expediência política. O mais evidente exemplo aqui é como a União Sovietica encorajou várias formas de leninismo, tanto produzindo massivamente literatura mas também financiando diretamente vários partidos comunistas ao redor do mundo. Nós também podemos apontar para os incentivos perversos da academia como outro fator, que encoraja tanto a novidade pela novidade, mas também a criação de um cânone desnecessário. Há muitos outros fatores, mas vejo estes como os mais relevantes.
A paralisia comum em quase toda esquerda de hoje é a conseuência de uma suposição não declarada que muitos na esquerda sustentam: que nós chegamos perto de mapear o espaço do debate. E frente a isso, não é pouco razoável pressupor que daqui em diante o progresso intelectual seria mínimo. Existem tantos intelectuais de esquera importantes que debateram sobre tantos assuntos que vocÇe poderia passar uma vida inteira acompanhando os argumentos. Dada essa complexidade, não é pouco razoável assumir que as pessoas mais ou menos entenderam o cenário total e que só que nos resta é acertar os detalhes.
Para entender o mundo não basta que se joguem pesquisadores o suficiente sobre o problema. Pressuposições estruturais e a toda a cultura importam imensamente para a investigação. O número de modelos possíveis para o mundo é infinito e portanto qualquer abordagem a investigação que busque usar de exaustiva força bruta é, fora dos contextos que já foram muito bem mapeados, prontamente descartados (dead on arrival). Se sequer é possível que ainda possamos construir teorias do mundo que são significativamente melhores do que já surgiu e se nossas estratégias são derivativas do entendimento, então o desespero silencioso que nasce da nossa paralisia depressiva não é intelectualmente justificado. A declaração de que “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo” é melhor compreendida não como uma consequência da totalidade da vitória do capitalismo, mas da falha da esquerda de fazer a porra do seu trabalho.
Embora eu tenha ideias específicas sobre quais modelos alternativos ao capitalismo deveriam substituir o marxismo, estou menos interessado em minha visão particular vencer e mais em criar uma cultura de questionamentos sinceros. Estou especialmente interessado no que é correto, então se alguém puder apresentar um modelo melhor, eu vou adotá-lo. Entretanto, acredito que existem algumas dinâmicas básicas que penso, serão a maior parte de nossas estratégias contra o capitalismo. Já expliquei uma dinâmica, a ligação entre valores, capacidade de compreensão (uma conexão que suspeito, vai muito mais fundo que a mera psicologia humana e poderia muito bem se aplicar a qualquer coisa que chamamos de “mente”), e como isso atrai pessoas em direção a aspirações políticas específicas.
Gostaria de propor outra: a complexidade das polpiticas de emancipação relativas a outras aspirações políticas.
Um mundo onde todos são significativamente livres é um mundo onde simplesmente há mais acontecendo, e portanto há muito mais para se considerar. Certamente, existe muita complexidade desnecessária sobre o capitalismo que poderia ser abandonada, mas qualquer movimento sério em direção a uma liberdade relevante verá um aumento na complexidade em outros sompinios. O exemplo mais nítido disso é como sociedades sem estado que de fato existem se sustentam. Como detalhado por antropologistas radicasi como Christopher Bohem, eles não são caracterizados por uma inocentes russonianos que evitam autoridades centralizadas pela ignorância que ela pode ser construída, mas sim por uma população que se esforçam ativamente para frustrar e prevenir o seu surgimento.
Este desafio é amplificado pela morte dos dados empíricos. Nós temos uma riqueza de evidências de como diferentes tipos de sociedades baseadas em relações hierarquicas funcionavam, então é bastante fácil imaginar como elas poderiam mudar frente a novas mudanças. Nós não podemos dizer o mesmo sobre relações mais igualitárias pois elas simplesmente não estão no mesmo conjunto de dados. Por certo podemos buscar algumas ideias na antropologia e arqueologia de sociedades sem estado, assim como em comunidades isoladas e subculturas, mas você não pode simplesmente extrapolá-las em uma sociedade de massas globalizada.
Um motivo básico para reacionários estarem se saindo tão bem agora, é que eles apenas têm menos perguntas para reponderem.
Mas não é apenas que existem mais problemas para nós da esquerda resolvermos. É também o fatp de que apostarmos em nossas forças exige mais de nós. É sempre muito bom saber mais que seu adversário num sentido abstrato, mas entender como usar essa assimetria é desafiador. Ver o mundo como seu adversário, entender o que eles não sabem, e então fazer o trabalho de aplicar seu conhecimento de forma que eles o enfrentem ou não veja chegando é muito mais trabalho do que só apostar em abordagens óbvias.
Essas duas assimetrias são minha resposta para a aparente inconsistência entre a superioridade intelectual estrutural da esquerda e sua desastrosa história política. Certamente as pessoas que desejam emancipação devem ter uma vantagem em termos de seu potencial. Mas se não fizermos o trabalho de construir e utilizar este potencial então, esta vantagem não existe.
Sure those who desire emancipation might have an edge in terms of our potential. But if we don’t do the work to build and utilize that potential then that edge does not exist. E por mais que eu não possa saber quão efetivo um movimento que leva compreensão a sério poderia vir a ser até que ele exista, eu diria que as chances de movimentos emancipatórios que não fazem este trabalho como extremamente baixas, como, uma chance de sucesso de 1 em 100, num cenário otimista. Então, oque impede as pessoas de se reorientarem em direção a políticas que levem isso a sério?
A mais simples limitação é a pobreza. Participação intelectual séria é algo cansativo e demanda tempo livre e a ausência de preocupações imediatas. As limitações cognitivas que vem com o stress, desnutrição, doenças, etc são bastante reais. Enquanto as pessoas permanecem capazes de raciocinar em tais contextos, nós vemos um estreitamento nos horizontes e preocupações para questões urgentes invés de considerações mais abstratas. De todo modo os limites para superar estes problemas é baixo. Um vez que a pessoa esteja relativamente confortável estes problemas resolvem a si mesmo ou ao menos se tornam muito mais rastreaveis. Ainda, não é como se essa fosse uma preocupação nova – nós já estamos lutando para que as pessoas tenham uma melhor qualidade de vida e este é apenas mais um motivo para continuarmos.
Onde uma falta de recursos importa mais é no que se trata de conetividade e alcance. Enquanto a internet certamente rompeu algumas barreiras para a difudão e para o diálogo, as coisas poderiam ser melhores. Há tanta informação para se selecionar que as pessoas se voltam para mecanismos centralizados que as filtram para elas. Estes tem todo tipo de problemas, o mais notável sendo sua falta de habilidade de ajustar a sintonia fina para com quem eles interagem. O risco constante do colapso do contexto encorajam estilos de diálogos hostis ou superficiais pois o risco constante de ser mal compreendido ou atacado significa que as pessoas estão sempre na defensiva. Enquanto existem outras preocupações se tratando de tendências que vem de cima baixo como censura e design viciante, penso que isso é um problema bem mais urgente pois surge do simples ato de interagirmos uns com os outros.
Entretanto, a configuração atual da internet não é de forma alguma o resultado natural da construção de tecnologias da informação. De fato existem boias razçoes para pensar que o modelo atual da configuração da internet tem falhas econômicas importantes que a tornam insustentável no longo prazo – veja por exemplo como a economia dos anúncios que sustentam as mídias sociais são questionáveis ou as questionáveis economias das infraestruturas que existem. Enquanto disputar e criar algo novo é uma tarefa importante, infarestruturas de comunicação independentes ao capital e ao estado são coisas que qualquer movimento emancipatório sério no século 21 deveria tratar como o mínimo. Eu não deveria ter de explicar o valor tático de comunicação em tempo real que não pode ser facilmente derrubada ou monitorada. Facilitar diálogos mais produtivos é apenas mais um motivo para fazê-lo.
Há de se considerar também a forma como as próprias ideias são apresentadas. No presente, é esperado que a maioria das pessoas compreenda argumentos de esquerda através da leitura de um cânone específico (olhe para as listas de leitura promovida por qualquer organização de esquerda). Isso não é bom. As pessoas podem se afastar por incontáveis motivos que não são necessariamente os argumentos sendo apresentados: o estilo de escrita do autor, associações emocionais, analogias ruins, o que seja. Invés, nós deveríamos aspirar em ter o maior número possível de maneiras para ajudar as pessoas a chegarem a certas conclusões, ideaalmente construindo argumentos sob medida para ajudar as pessoas de subculturas ou comunidades específicas que falam sua língua para minimizar fricção, idealmente usando todas as formas de multimpida – texto, audio, vídeo, gamificação, chatbots, etc.
Fazer isso efetivamente significa nos movermos para além do estilo de escrita tão comum as piores partes da academia e da esquerda, onde textos e pensadores específicos são tomados como pontos singulares de genialidade para serem estudados e comentados. Nós deveríamos aspirar algo muito mais próximo das ciências exatas e matemática, onde ideias podem e frequentemente são desconectadas de seus criadores e discutidas “como são”., trazendo atenção para o contexto e sua linhagem somente quando necessário. Um exemplo é o teorico de jogos anarquista Michael taylor, que nos anos 60 e 70 usou modelos teóricos de jogos que eram, na época, amplamente associados com planejadores tecnocratas no governo e no exército para argumentar pela possibilidade da cooperalçao sem estado. Seu trabalho, por mais que permaneça pouco conhecido hoje, veio a influenciar a economista e ganhadora de um prêmio Nobel , Elinor Ostrom, na teoria e pratica do gerenciamento de bens comuns.
Mas nada disso toca o que vejo como a principal barreira, o dispêndio de energia emocional e intelectual que é exigido, quando levantamos questionamentos. Pessoas que devotaram anos de suas vidas e/ou sacrificaram consideravelmente por um conjunto de ideais são compreensivelmente relutantes em desistir deles. Admitir que anos ou potencialmente décadas da sua vida foram gastos de maneira contraprodutiva simplesmente é uma merda e é pior ainda se nos faz reavaliar amizades e relacionamentos.
Apesar de todas estas barreiras, estou convencido que se o discurso puder agir – sem uma tomada fascista global ou colpaso civilizacional – dentro de uma geração ou duas uma ênfase em vantagens estratégicas que venham de um melhor entendimento e uma ligação entre políticas emancipatórias será senso comum entre os mais radicais. E eu não ficaria surpreso se isso acontecess ainda mais rápido.
Pois apesar de todas as barreiras, no fim do dia, existem pessoas que querem mudar o mundo e eles serão atraídas a elementos que, no fim do dia, simplesmente funcionam. Quando fala com esquerdistas engajados em ativismo que não caíram em algum culto, encontro pessoas motivadas pelo desejo de fazer algo, qualquer coisa, que impacte significativamenye o mundo e por isso adotam qualquer coisa que parece superficialmente efetiva. Eles são atraídos por ideologias préexistentes não por terem observado meta-análises que comparadas a vários modelos do que seria o capitalismo e como combatê-lo e então tomaram uma decisão bem informada. Na verdade, eles quiserem agir efetivamente e então usaram o que era oferecido ao invés de olharem mais atentatmente. Dado o estado do mundo e o discurso da esquerda, quem pode culpá-los?
É por isso que minha teoria de como arrancar a esquerda de sua caverba não se dá através do engajamento em debates com vários pensadores conhecidos da esquerda, a maioria estando agarrada a várias posições após uma vida inteira se identificando com elas. Invés disso, ela se dá por comunicar de maneira simples com ativistas através de memes simples como “nossos adversários polpiticos são sistematicamente ignorantes e nós podemos tomar vantagem desta ignorânciaI” ou “nós que sejamos a emancipação podemos compreender o mundo de forma muito melhor dos que não a desejam”.
Não é detalhe o fato de que muitos já compreenderam parcialmente essas assimetrias pois elas funcionam. O que estou faznedo é meramente oferecer um relato mais sistemático das dinâmicas que levam as pessoas pensarem de forma mais atentamente sobre oque está acontecendo e por que motivo elas surgem da tentativa de por em palavras o que muitos já perceberam através da ação na prática. Um reconhecimento mais consciente dessas assimetrias estruturais com alguma sorte resultará em pessoas as explorando mais efetivamente, o que deve resultar em imitação e aprendizado. Eventualmente isso deve atingir uma massa crítica onde tudo isso é mais ou menos senso comum.
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