Vários estados americanos recentemente consideraram a aprovação de leis que permitem a discriminação contra pessoas LGBT. São leis baseadas na ideia de liberdade religiosa. Porém, qual é a resposta apropriada dos libertários de esquerda a essas leis? A resposta é a defesa de ações diretas. Se as leis forem aprovadas, nós, libertários de esquerda, devemos fazer protestos passivos análogos aos do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. Isso poderia levar a uma dessegregação das empresas e colocaria pressão sobre os empresários para que permitissem o atendimento à clientela LGBT. Sheldon Richman nos mostra exemplos históricos da eficiência dessa prática:
Como já escrevi anteriormente, as lanchonetes no sul dos Estados Unidos estavam sendo dessegregadas muitos anos antes da aprovação da lei de 1964. Como? Através de protestos passivos, boicotes e outros tipos de ação social confrontativa não-violenta e não-estatal. (Você pode ler relatos emocionantes aqui e aqui.)
Sheldon ainda evidencia a praticidade dessa abordagem em outro texto:
Mesmo antes, durante os anos 1950, David Beito e Linda Royster Beito relatam no livro Black Maverick que o empresário negro T.R.M. Howard liderou um boicote das empresas nacionais de gasolina que forçou seus franqueados a permitir que os negros utilizassem os banheiros dos quais eram excluídos.
As leis que estão sendo consideradas utilizam termos como “liberdade” de forma orwelliana. A possibilidade de excluir pessoas por motivos irracionais e arbitrários não é liberdade. Os libertários serão detestados por todas as pessoas LGBT se não oferecerem uma solução diferente do uso da força para o problema da discriminação. Temos aqui uma chance de mostrar que nossos princípios individualistas se aplicam tanto às minorias perseguidas quanto a grupos não-minoritários. Não podemos desperdiçar essa oportunidade.
E quanto a questões de direitos de propriedade e invasões? Uma maneira de abordar esse problema é através da metodologia libertária contextual ou dialética. Direitos de propriedade privada são contextuais e estão relacionados à ocupação e ao uso. São um valor entre vários a se considerar ao avaliar a moralidade de uma ação. Quanto fanáticos irracionalmente excluem pessoas de espaços normalmente abertos ao público, os direitos de propriedade se tornam menos importantes que a necessidade de inclusão social. Isso não significa que deve ser utilizada a força estatal, mas justifica protestos não-violentos. Os ativistas dos direitos civis poderiam até mesmo ter utilizado força defensiva contra os bandidos que iniciaram o uso de violência contra eles ao conduzirem protestos passivos. O mesmo se aplica aos ativistas LGBT atuais.
Não quero dizer aqui que os direitos de propriedade são sempre menos importantes que outras preocupações. O direito individual aos frutos de seu trabalho não é enfraquecido pela necessidade que o estado tem de se sustentar. Eu digo, porém, que a moralidade exige algumas trocas às vezes. O que significa que algumas coisas relevantes à liberdade são mais importantes que direitos de propriedade privada. Podemos considerar esta uma situação do tipo.
Traduzido do inglês para o português por Erick Vasconcelos.