Na quarta-feira, 21 de julho, membros do grupo do Facebook savebradley estimularam apoiadores a mudar suas fotos de perfil para dizerem “Google Bradley Manning.” O grupo espera suscitar interesse público no soldado do Exército dos Estados Unidos que foi detido em conexão com o aparecimento de material secreto no website Wikileaks.
O material em razão do qual Manning está encrencado por vazar inclui sequência com tripulantes de helicópteros estadunidenses atirando avidamente em civis iraquianos, inclusive em ocupantes de uma van que tentava levar embora pessoas feridas. Os assassinos gargalhantes flagrados na fita não parecem ter sofrido quaisquer consequências oficiais, mas o soldado que expôs os assassínios ao escrutínio do público foi detido.
A crescente desilusão de Manning com o Exército foi pontilhada de episódios que incluíram a descoberta, por ele, de iraquianos terem sido detidos por criticar corrupção no gabinete do Primeiro-Ministro. Depois de ele ter levado o problema a seus superiores, foi-lhe dito que calasse a boca e fizesse mais detenções. Finalmente, em face de corte marcial e da mais dura “justiça militar,” Manning teria decidido entregar informações secretas ao Wikileaks.
Surgiram problemas quando ele conversou a respeito de seus próprios atos com a pessoa errada. Adrian Lamo, havendo decidido tomar o lado da ocupação e dos encobrimentos de assassínios, forneceu a investigadores registros de comunicações nos quais Manning teria discutido sua violação da lei.
Portanto, Manning sentiu necessidade de conversar. Talvez até de vangloriar-se para alguém. Foi erro tático que não torna suas ações em nada menos honoráveis. As pessoas deveriam apenas agir altruisticamente e negarem orgulho e ambição? Ninguém se enquadra em padrão assim. Manning apenas deixou de exercer avaliação adequada.
Detraidores têm tentado invalidar as ações de Manning afirmando que ele tinha problemas psicológicos ou dizendo que ele estava encrencado por agredir outro soldado. Se alguém não conseguir manter-se composto enquanto concebe a coisa certa a fazer, isso apenas mostrará essa pessoa não ser forte o suficiente para controlar o tempo todo forças que abalam sua consciência. E, de qualquer modo, quem é racional o tempo todo?
Quanto a alegações de agressão, Manning exercia profissão cujo propósito explícito é praticar violência. Se usou de violência inadequadamente, a melhor coisa a fazer seria tentar fazer restituição e redimir-se. Expor a violência que o sistema tenta ocultar parece bom passo rumo a esse objetivo.
Por que não deveria Manning estar irado com o sistema e com aqueles sabidamente cúmplices dele? Se a opressão não fosse tão causadora de fúria, poderia nunca vir a ser combatida.
Todo mundo tem de lidar com a ansiedade e todo mundo comete equívocos. O herói não é alguém sem fraquezas. Herói é quem consegue fazer a coisa certa a despeito de suas fraquezas.
Manning entendeu a tirania da organização dentro da qual desempenhava parte ativa. Em vez de forçar-se a engolir mais propaganda ou de cometer suicídio, fez algo positivo a respeito.
Como disse Henry David Thoreau em Desobediência Civil, “Tem o cidadão, mesmo por um momento, ou no grau mais mínimo, de abrir mão de sua consciência em favor do legislador? Mas então por que todo homem tem consciência?”
Bradley Manning não abriu mão de sua consciência em favor de seus superiores ou de formuladores de políticas.
Sua escolha moral oferece exemplo no qual outros se inspirarem. Se mais soldados, comandantes e políticos assumissem responsabilidade por suas ações e honestamente avaliassem as reivindicações de autoridade neles marteladas desde o nascimento, o mundo seria muito melhor.
Alçar heróis até padrão irrealista de perfeição é o mesmo que idolatrar mentiras. A verdade é, ninguém é tão nobre. Algumas pessoas elevam-se acima de suas próprias falhas e fazem grandes coisas. Quando Bradley Manning descobriu ser cúmplice na violenta supressão da liberdade, fez o melhor que pôde para endireitar as coisas.
E agora queda numa cela de prisão enquanto aqueles que formulam as políticas da morte dormem confortavelmente.
Artigo original afixado por Darian Worden 21 de julho de 2010.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.