The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Leitor de uma de minhas colunas anteriores (“Outra Observação Estúpida de Mitt — Mas Quem Está Contando,” C4SS 10 de setembro de 2011 ) publicada num jornal local reclama que o Centro por uma Sociedade sem Estado é “organização de extrema esquerda que promove radicalismo trabalhista e anarquia.” Ocorre que caracterizar uma posição como de “extrema esquerda” ou “que promove radicalismo trabalhista e anarquia” não é o mesmo que responder a ela com base em lógica e evidência.
Por definição, qualquer caracterização de em que lugar os argumentos recaem no espectro político toma como ponto pacífico a assunção tácita do ponto de referência conhecido como “majoritário” ou “centrista.” E, por definição, qualquer coisa classificada como “majoritária” ou “centrista” em qualquer sistema de poder recai dentro do espectro de posições compatíveis com a preservação de tal sistema de poder. Qualquer “reforma” que envolva fazer ajustes nas margens da estrutura de poder sem modificá-la fundamentalmente, e possa ser implementada pelas mesmas classes de pessoas que hoje administram o presente sistema, será classificada como “moderada.” Qualquer proposta que envolva mudar a estrutura fundamental de poder e tirar do poder os grupos que a gerem será chamada de “radical.”
Qualquer sistema inclui um aparato de reprodução cultural que tende a criar os tipos de “recursos humanos” que aceitam como normal e dada a estrutura de poder sob a qual vivem.
Tenhamos presente, porém, que a estrutura de poder corporativa-estatal não surgiu natural ou espontaneamente. Surgiu por meio da aplicação consciente e maciça de poder político no decurso dos últimos 150 anos. Da Era Dourada em diante o estado interveio maciçamente no mercado para criar uma sociedade dominada por organizações centralizadas gigantescas, como os órgãos de governo e as corporações, e mais tarde pela educação estatal centralizada, grandes universidades, e fundações sem fins lucrativos. Quando essa economia industrial centralizada criada pelo estado e subsidiada pelo estado viu-se afligida por capacidade excessiva e subconsumo crônicos, o estado voltou-se para políticas de manter as coisas em funcionamento. Incluindo uma economia doméstica centrada em gastos federais para absorver excedente de capital por meio de projetos de gastos estatais maciços tais como o Sistema de Rodovias Interestaduais, um complexo industrial-militar que devorou enorme quantidade de excesso de produção industrial, e uma política externa voltada para incorporar pela força os mercados e recursos do planeta inteiro como escoadouro para excesso de capital e produção.
Na época em que o sistema estava sendo imposto pelo estado houve resistência de larga escala por parte de uma população em geral que não aceitava aquilo como normal. Dos anos 1870 até a Segunda Guerra Mundial, a maioria da população recusava-se a aceitar como normal uma situação na qual trabalhava como assalariada de grandes hierarquias autoritárias. Movimentos tais como o movimento fazendeiro populista e os Cavaleiros do Trabalho equivaleram a quase uma insurreição, e medidas tais como a repressão pós-Haymarket e a supressão de Cleveland da Greve Pullman constituíram uma contrarrevolução.
Depois de derrotada a insurreição, os burocratas de colarinho branco que controlavam hierarquias corporativas e estatais adotaram um sistema educacional voltado para processar pessoas de modo a elas aceitarem a estrutura de poder como normal. O movimento oficial de educação pública, os defensores do “100% de estadunidensismo” e coisas da espécie, voltados para criar “recursos humanos” que estivessem “ajustados” para aceitar autoritarismo e hierarquia como normais, e para “obedecer” a quaisquer ordens oriundas de um apparatchik atrás de uma escrivaninha — numa sala de aula, numa fábrica, ou num gabinete do governo.
E foram muito bem-sucedidos, como exemplificado por esse leitor.
“Emancipem-se da escravidão mental. Só vocês próprios poderão libertar as próprias mentes.”
Artigo original afixado por Kevin Carson em 23 de setembro de 2011.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.