Historicamente, encontramos alguns exemplos de anarquistas conservadores. Uma delas foi Dorothy Day, anarquista cristã e anarco-distributista falecida em 1980 (cerca de nove dias antes de John Lennon, na verdade). Escreveu vastamente no jornal de um cêntimo por exemplar da sua organização, O Trabalhador Católico [The Catholic Worker – NDT]. Percorrendo as centenas de artigos que escreveu, começamos a reparar em alguns dos temas sobre os quais escreveu com maior frequência. Escreveu acerca das comunas cooperativas (principalmente as comunas de agricultura), acerca da necessidade de cuidarmos dos pobres e acerca da sua defesa da propriedade privada e dos colectivos. Também escreveu como considerava errado o sexo pré-marital e que o aborto e a pílula contraceptiva se resumiam a genocídio.
N’O Trabalhador Católico de Dezembro de 1972, escrevia,
Sinto que, como no tempo dos Anciões do Deserto, os jovens estão a abandonar as cidades – a divagar pela terra, a viver por moda na pobreza voluntária e dos trabalhos manuais, aparentemente inactivos no “movimento pela paz”. Estou ciente de que ainda são parte deste – tal como Cesar Chavez e o Movimento dos Trabalhadores Rurais são também parte deste, comprometidos com a não-violência, mesmo quando resistem, a lutar pelas suas vidas e pelas vidas das suas famílias. (Eles, juntamente com os negros, sentem e já o afirmaram, que o controlo de natalidade e o aborto são genocídio.)
Quanto ao sexo pré-marital, em Setembro de 1963 escrevia,
Foi-me pedido que expusesse a minha opinião sobre estas temáticas, principalmente depois de os quakers terem publicado na Inglaterra um panfleto no qual se diz apoiar as relações sexuais antes do casamento “se ambas as partes assumirem a responsabilidade”. A minha reacção a isto é a de uma mulher que pensa em termos de família, na necessidade de uma criança ter tanto uma mãe como um pai, que acredita fortemente que o lar é o que une a sociedade.
Embora estes pontos de vista sejam incomuns entre anarquistas, não são incomuns entre as pessoas das Apalaches onde o distributismo anarquista iria prosperar numa zona que se orgulha do seu individualismo, mas que retém também um forte senso de comunidade. Combinado com um ardente conservadorismo social o anarquismo explodiria aqui. Muitos esquecem que os apalaches não votam. A abstenção aqui é bastante alta. Mesmo que, como eu, não sejam socialmente conservadores, podemos alterar a nossa mensagem e centrar-nos nos aspectos do anarquismo que sejam apelativos aos conservadores sociais.
Muitos esquecem que os conservadores sociais não se incomodam com a abordagem “não me chateies e eu não te chateio” quanto a estas questões. Os meus leitores poderão pensar que estou a ser demasiado benévolo para com o conservador social comum. Devo recordar-vos que só 7% dos americanos utilizam o Twitter. Os conservadores no Twitter (tal como os liberais) são uma fracção bem, bem pequena. O conservador comum é muito mais parecido com a Dorothy Day. Têm pontos de vista conservadores em questões sociais, mas apoiam coisas que possam fortalecer o indivíduo e a comunidade e estariam receptivos ao anarquismo se este lhes fosse apresentado de modo agradável.
Agora, existem certas perspectivas que são incompatíveis com o anarquismo tais como o realismo racial, o racismo e coisas desse tipo. Pode ser-se anti-aborto sem acreditar que o Estado deva intervir e defender-se a redução dos abortos sem a intervenção do Estado reduzindo os níveis de pobreza e criando um fundo de baixa familiar patrocinado por voluntários. Um anarquista pode ser a favor das orações nas escolas e das tradições desde que o Estado não as torne obrigatórias. Desde que não defendam pontos de vista que tenham por base o ódio, não vejo qualquer razão pela qual não possa existir um anarquismo conservador.
Dorothy Day foi um exemplo de como se pode ser conservador e anarquista. Embora eu não seja socialmente conservador, conheço muitos e tenho amigos que o são. Creio que a obra desta possa ser atractiva para conservadores, apalaches, sulistas, cristãos de todas as denominações e à direita. Se ignorarmos os conservadores, estaremos a danar o anarquismo ao falhanço. Porquê? Se não nos dermos ao trabalho de apelar às pessoas que poderão estar receptivas à nossa mensagem então mais vale desistirmos.