Em um referendo do mês passado, a cidade de Austin, no estado americano do Texas, rejeitou uma medida para reverter as regulações municipais dos serviços de “ride-sharing”. Embora os principais apoiadores das regulamentações tenham sido os monopólios de taxistas (que se ressentiam de ter que competir com outros monopólios proprietários como o Uber e o Lyft), o resultado de sua manutenção foi a promoção de modelos de negócios que minam tanto o monopólio do sistema de táxis quanto o monopólio do sistema de “compartilhamento” de viagens. Jerome Tuccille descreve esse resultado inesperado em um artigo para Reason (“After Winning Regulatory Battle Against Ride-Sharing Firms, Austin Turns to Black Market and Deregulation“, 31 de maio).
A falsa “economia do compartilhamento” corporativa não é uma economia de compartilhamento real, mas uma economia de jardins cercados onde as corporações utilizam aplicativos proprietários para se colocar como pedágio entre motoristas e passageiros, hospedeiros e hóspedes, etc, extraindo um excedente por permitirem a conexão de uns com os outros. Muitos dentro dos movimentos cooperativos argumentam que a resposta apropriada a empresas como o Uber e o Lyft não é a restauração dos monopólios de táxis e os cartéis regulatórios municipais de que eles dependem, mas estender a concorrência e destruir todos os monopólios de que os serviços corporativos de compartilhamento dependem.
A ideia é enfraquecer os monopólios de empresas como Uber, Lyft, Airbnb e outras através de um modelo genuinamente cooperativo, horizontal e P2P diretamente controlado pelos usuários, excluindo o pedágio corporativo. Os defensores desse modelo criaram o termo “cooperativismo plataformista” para a ideia (se você buscar a hashtag #PlatformCooperativism no Twitter, você poderá encontrar muitos artigos interessantes a respeito).
Você pode ir ainda mais longe e atacar o Uber, o Lyft e outros hackeando seus aplicativos e subvertendo aqueles que trabalham nessas plataformas. É muito comum que motoristas do Uber e do Lyft, cansados de seu relacionamento com a empresa, passar seus cartões de negócios para os clientes mais confiáveis, excluindo a empresa de acordos futuros. É claro, isso viola todas as “cláusulas de não-competição”, mas é exatamente o que muitos motoristas e passageiros de Austin têm feito agora que o Uber e o Lyft saíram do mercado. De acordo com Tuccille,
Após a vitória da regulamentação, houve um grande aumento de viagens completamente desreguladas, divulgadas por boca a boca, em grupos fechados de mídias sociais e por serviços peer-to-peer. No Facebook, o grupo Austin Underground Ride (que no momento tem 6.500 membros) estimula ex-motoristas do Uber e do Lyft a entrarem na comunidade. “Você pode postar sua informação e disponibilidade nesta página e continuar a ganhar o dinheiro de que você precisa para alimentar suas famílias e pagar suas contas. Os passageiros também podem postar aqui as viagens que precisam fazer. Nós não precisamos de ninguém. Nós podemos fazer nossos próprios acordos como pessoas e tomar conta de nós mesmos”.
Aplicativos open-source como o Arcade City estão se disseminando em Austin desde o referendo. Em outras palavras, serviços reais de compartilhamento de viagens — o modelo genuinamente P2P que deveria ter suplantado os táxis desde o princípio — é o que mais cresce em Austin. O governo municipal e os cidadãos locais, que deliberadamente e inadvertidamente (respectivamente) avançaram a pauta das empresas de táxi, são responsáveis por esse feito. Ao proibir os serviços híbridos falsos, abriram um espaço ecológico para os reais.
As tentativas por parte do governo de regular a indústria quase sempre se motivam pelos interesses da indústria regulamentada. Porém, com a estupidez dos governos e das corporações, às vezes seus tiros saem pela culatra.
Traduzido por Erick Vasconcelos.