Por Willian Gillis. Artígo original: Transhumanism Implies Anarchism, 16 de maio de 2016. Traduzido para o português por Nico.
Quanto mais meios as pessoas possam usar para agir, mais fácil se tornar atacar e mais custosa se a defesa se torna.
É uma simples questão de complexidade. O atacante só precisa escolher uma linha de ataque, o defensor precisa defender todas elas. Isso não acontece só com pequenos exaustores termais, é também verdade sobre nosso ecossistema de softwares atuais e qualquer outro sistema com muitas dimensões de movimento. Complexidade (mais níveis de liberdade dentro de um mesmo sistema) permite uma maior superfície de ataque. Quando elas podem surgir não só de todos os pontos cardeais mas também de cima ou de baixo.
O arco da história humana tende para a nossa criatividade e curiosidade em direção a mais opções, mais formas de agir e existir. Em direção a maiores liberdades. Toda invenção humana expande imediatamente nosso número de opções de como agir.
E entrelaçada com essa liberdade é claro, vem uma maior capacidade destrutiva. Do éon quando apenas as elites podiam ser guerreiras, quando o ataque estava apenas ao alcance de uns poucos escolhidos, para uma era onde qualquer um pode carregar uma lança ou espada e matar talvez uma outra pessoa antes de morrer, para a época do mosquete e armas automáticas. Hoje, todos e cada um de nós carrega pequenas granadas em nossos bolsos e mochilas. Um subproduto acidental de armazenar energia para nossos celulares e notebooks. Amanhã o amador com uma impressora de RNA em sua garagem em Seattle vai ser capaz de fazer download ou customizar uma varíola Ebola SARS de virulência tão apocalíptica que jamais existiria através da evolução natural. Esse perigo não é apresentado por uma tecnologia em específico, ela é inerente ao próprio arco do desenvolvimento tecnológico em si. Conforme nossas ferramentas expandem nossas liberdades físicas elas forçam mudanças as nossas liberdades sociais.
À medida que avançamos no nosso desenvolvimento tecnológico acelerado (conforme o conhecimento que descobrimos e as ferramentas que inventamos tem inexoravelmente expandido nossa capacidade de ataque) nossos sistemas sociais têm evoluído também. Tiveram que mudar. De sistemas de honra para lidar comuns poucos grandes guerreiros para as primeiras democracias majoritárias onde contar cabeças um método razoavelmente preciso de determinar como uma batalha acabaria.
Conforme progredimos através do nosso acelerante processo tecnológico (conforme o conhecimento que descobrimos e as ferramentas que inventamos têm inexoravelmente expandido nossa capacidade de ataque) nossos sistemas sociais têm evoluído também. Eles precisaram evoluir. De sistemas de honra para lidar com uns poucos guerreiros notáveis para as primeiras democracias majoritárias onde contar cabeças era o suficiente pra determinar o resultado de batalhas.
Mas conforme nossas habilidades expandem nossas capacidades, a proteção das minorias e dos de baixo tem se tornado cada vez mais importantes. De mosquetes nas matas que permitiram uma minoria de insurrecionários de romperem com o Império Britânico, para bananas de “dinamite” (o “grande nivelador”, como ficou conhecida entre a classe trabalhadora em luta durante a era progressista).
Nossos sistemas sociais, nossas instituições políticas, nossa moral cívica, adaptaram-se a contragosto a esse contexto em mudança. Mas não se adaptaram rápido o suficiente.
Quando falamos de barrar avanços e mudanças que vêm sendo desencadeados pelos efeitos de retroalimentação do nosso desenvolvimento tecnológico há um compreensível desespero em nossa linguagem. Pessoal, pessoal, pessoal isso é muito importante. Isso aqui vai ser um lance. Existem riscos relacionados a isso. É melhor que a gente faça isso direito. Mas muito comumente as pessoas respondem a essas perguntas incrivelmente importantes com “nós vamos usar democracia”; sem nenhuma análise do que de fato isso significa. “Democracia” nesse contexto é uma parada cognitiva, é um slogan que nós usamos para terminar pensamentos. Pra nos dar um tapinha nas costas.
A noção de que democracia social e transhumanismo são reconciliáveis é absurdo. Democracia no sentido de tomadas de decisão por maioria é primário. Isso deriva de um contexto onde “quantas pessoas” você tem definem uma batalha. Mas mesmo a democracia constitucional, minarquismo, o socialismo iluminado, ou a tecnocracia (quaisquer que sejam os sistemas de governo) exigem controle de uma forma fundamentalmente irreconciliável com o empoderamento tecnológico.
Controle é como a defesa. Para funcionar ele exige a supressão das complexidades, das opções, das dimensões. A tentativa de centralizar controle sobre a tecnologia é fundamentalmente iniciar uma guerra que pode ser vencida com a total destruição de quase qualquer aspecto significativo de nossas tecnologias.
David Cameron, Jeb Bush e inúmeros outros políticos, funcionários do governo e chefes de polícia no supostamente ocidente iluminado têm individualmente advogado pela criminalização da criptografia. Nós rimos deles, nós balançamos nossas cabeças e dizemos: aqui não.
Mas eu estou aqui para te dizer o que todo especialista sabe, apesar de tentarmos desesperadamente escondermos isso. Sistemas de backdoor certamente podem funcionar. Ou ao menos, funcionar para os interesses do estado. Não para nós, é claro. Mas nós não importamos quando o objetivo é controle. Quando nós não conseguimos imaginar nenhuma alternativa além do controle. Quando nossas visões se estreitaram tão dramaticamente que nós não conseguimos nem conceber outras formas de colaboração ou resolução de conflitos.
A internet pode muito bem se tornar um espaço sancionado, onde todo pacote é assinado por uma infraestrutura de servidores controlados pelo estado, de ponta a ponta à ponta. Dispositivos podem vir com backdoors de fábrica para o consumidor. Nenhuma produção permitida fora do olhar do estado. Nós ainda não estamos no ponto onde a fabricação é distribuída o suficiente para tornar a supressão ou regulamentação draconiana impossível. A abolição da computação de propósito geral é uma ameaça real. Assim como os chamados a abolição da internet. Quando se trata da internet,para as tecnologias da informação, para a dissolução da propriedade intelectual, nós geralmente dizemos que a matemática está do lado da liberdade. Mas por mais que ela comumente torne o controle autoritário mais desafiador, esses desafios podem continuar a serem superados com suficiente força, com suficiente rigidez infraestrutural, e com suficiente apoio público,
A mais virulenta das forças na crypto guerras, nas guerras do copyright e em todas outras batalhas sobre tecnologia nas últimas três décadas têm sido narrativas.
Nós estamos em muitas frentes, em muitas demografias, perdendo essa batalha.
A aristocracia tem historicamente sido anti tecnologia. E muito das explosões de filósofos continentais do meio do século vinte escrevendo laudas contra a tecnologia e ciência eram de uma tradição que sabiam muito bem que precisavam diminuir os meios tecnológicos que as pessoas tinham acesso para se manterem relevantes. Eles montaram visões orwellianas de “liberdade” que eram sobre recuar para alguma espécie de estado confinado e protegido da vida ou da “existência” humana. Sua rejeição à tecnologia se tornou uma rejeição da liberdade positiva, a liberdade de. O que eles encorajaram era: Liberdade do conhecimento, liberdade da escolha, liberdade do crescimento, liberdade da criatividade e curiosidade.
Essa corrente reacionária infiltra-se em nossa sociedade. É imensamente influente. Não deve ser subestimada.
A liberdade-para é disruptiva e complexa. Ela expande opções. E quando verdadeiramente descentralizada (dividida entre indivíduos) torna o funcionamento do poder impossível. Para qualquer ator, individual ou instituição, controlar a vasta e inconcebível diversidade e complexidade do mundo. Impossível impor regras, mesmo as “democráticas”.
Quando transhumanistas liberais ou social-democratas declaram que o que precisamos é de tecnologia “sob controle d’O Povo”, o que nunca é dito, é como exatamente esse tipo de controle supostamente deve funcionar.
Como se parece um mundo em que nós temos a capacidade de impedir uma pessoa de imprimir R-15s ? Esqueça as associações fuzzy-wuzzy de “democracia”, mesmo “democracia direta”. Pergunte-se o que de fato precisa ser feito para controlar terapias gênicas? Instalações governamentais supervisionando o uso de alta tecnologia? Imensos backdoors nos aparelhos de todos para agressivamente monitorar e limitar sua utilização? Operações policiais agressivas contra todos os hackers e curiosos? Contabilização sistemática de todo maquinário fabricado existente? Constante vigilância de qualquer um com conhecimento de como essas coisas funcionam? Controle completo de toda alocação de recursos no planeta? Essa é a única possibilidade na lógica da “social democracia” quando aplicada para aspirações transhumanistas.
Nós não podemos controlar tecnologias avançadas sem um autoritarismo tão completo que faria Hitler e Stalin salivarem em seus túmulos.
Então, o que podemos fazer?
Numa conferência anterior houve uma fala sobre narrativas de super-heróis e eu trouxe uma fala do terceiro filme dos X-Men onde o presidente diz: “Que esperança a democracia pode ter quando as pessoas podem moer a cidades com suas mentes?”.
Um rápido consenso através da sala foi: “Bem, nós precisamos de um despertar ético, uma singularidade de empatia que ilumine e refine nossos valores”.
Em absoluto. E com o quê isso se parece? Como chegamos lá? E quais são os mecanismos pelos quais tal mundo pode funcionar? Como os desacordos são mediados?
Felizmente nós não precisamos reinventar a roda. Existe um movimento há muito consolidado que têm abordado essas questões éticas e sociais, e desenvolvido respostas e análises profundas pelos últimos dois séculos. “Anarquismo” é um termo usado pelo jornalista francês Pierre-Joseph Proudhon; um repórter extremamente popular e colunista hoje comparável a Glenn Greenwald. Foi adotado como uma forma de adotar e romper o uso orwelliano de “anarquia” para representar a liberdade máxima (a ausência de poder coercitivo e relações de poder) e simultaneamente, violência caótica, a presença de competidores buscando ser governantes e relações de poder turbulentas. Esse uso duplo em que o termo “sem governo” ou “anarquia” é usado para representar relações poder fragmentadas ou em competição, tem sido usado para encerrar todo e quaisquer movimentos focados na liberdade, mais famosamente contra camponeses na guerra civil inglesa. Você quer liberdade? Nós todos sabemos que liberdade é opressão caótica e violenta.
Nessa definição, como promovida pelas elites da idade média, a própria ideia de não controlarem uns aos outros, não dominar uns aos outros, não explorar, roubar, ou violentar uns aos outros, é descartada da nossa linguagem. Num sentido prático é impossível sequer pensar sobre.
Proudhon atacou isso, retornando o termo para suas raízes etimológicas e foi o que ajudou a dar partida em dois séculos de resistência consistente e diligente ao poder.
Anarquistas nunca tomaram o poder. Nós resistimos ao autoritarismo e a opressão em todas as arenas. Desde criticarmos o marximos muito antes de suas aspirações draconianas se tornarem de conhecimento público, a lutar e morrer para resistir ao Fascismo, lutando contra Franco até que ele não pudesse se juntar a Hitler e Mussolini e liderando a resistência contra o regime nazista por toda Europa. Nós lutamos os barões ladrões, os oligarcas, e os burocratas soviéticos.
E nós fomos extraordinariamente populares em diferentes regiões em diferentes pontos da história, apesar de ainda não termos massa crítica suficiente para transformar completamente o mundo. Em toda instância onde o anarquismo surgiu para popularidade localizada com uns poucos milhões de participantes, como na Espanha, mas também na Ucrânia e Manchúria, todo poder ao redor imediatamente botou suas lutas em espera para colaborar em apagar os exemplos que nós oferecíamos, de um mundo melhor, de formas melhores de interagirmos uns com os outros e resolvermos nossas disputas, que não se voltam para o controle mas constroem um consenso tolerável para todas as partes quando um acordo é necessário.
Nós estivemos na linha de frente não apenas de tecnologias como criptomoedas e o projeto tor, mas também estivemos na linha de frente de lutas contra o patriarcado, o racismo, a homofobia, etarismo, capacitismo, etc, etc. Desde muito antes de haver uma coalizão popular como o “feminismo”. Nós traficamos armas para escravizados e publicamos jornais abolicionistas. Nós corremos através das veias da nossa sociedade, sendo pioneiros de uma miríade de tecnologias sociais como cooperativas de crédito e sindicatos. Nós consistentemente servimos como a fronteira radical da consciência do mundo, e desempenhamos um papel crítico em expandir o que é possível enquanto desenvolvendo e testando em campo novos conceitos e ferramentas.
Anarquismo (como muitos comentaristas têm notado) serviu como um laboratório da esquerda, da justiça social e movimentos de resistência ao redor do mundo. Mesmo onde nos mantemos marginais, as ferramentas que inventamos eventualmente se tornaram maisntream.
Você não precisa se perguntar como as pessoas resolveriam conflitos se todo indivíduo super empoderado estivesse carregando o equivalente a um veto nuclear em seus bolsos. Nós temos testado e desenvolvido formas sociais, estratégias avançadas de teorias dos jogos que tratam as pessoas dessa forma por questões éticas.
Nós já representamos o modelo ético mais familiar em navegar um mundo transhumano de indivíduos super empoderados. Por toda nossa ostensiva marginalidade das florestas de Chiapas ou das ruas de Atenas, nós temos preemptivamente construído as políticas do futuro pelos últimos dois séculos.
Mas oque essa experiência também tem trazido é uma apreciação pela função de sistemas de poder, suas entediantes dinâmicas de poder. O câncer sociopatico de nossas estruturas de poder não vão discretamente sumir na noite. Não vai haver nenhum tipo de despertar que fará nossos governantes de repente alegremente cederem seu poder sobre nós. Permitindo que novas tecnologias os tornem relevantes. Eles não vão sentar passivamente e permitir culturas e infraestruturas alternativas, novos mundos se desenvolverem na casca do velho. Eles sempre lutaram contra qualquer tentativa desse tipo. E nós vamos precisar combatê-los para esse futuro vencer.
Anarquismo traz determinação e clareza para o terreno onde lutamos. Quer dizer que enquanto o poder estatal pode, às vezes, assegurar algumas mudanças, quanto mais você o usa mais difícil será de dissolver esse poder em si.
Marxistas fingem que seu objetivo final seria uma utopia sem estado e sem classes, de liberdade máxima, mas os fins que eles escolheram foram incoerentes com esses objetivos. Você não pode mandar pessoas para gulags e esperar que elas sejam livres. E você não pode regular as ferramentas que as pessoas constroem enquanto mantém um compromisso em expandir suas opções em vida, para nos tornar “mais que humanos”.
Fins e meios, não são precisamente 1:1, mas eles estão profundamente interconectados. E o anarquismo (e nossa caixa de ferramentas de autonomia respeitosa e consenso) é o único caminho funcional e sobrevivível de lidar com o limite ultravioleta da capacidade tecnológica estendida, então nós não podemos nos permitir andar na direção oposta hoje. Nós devemos nos mover de maneiras que troquem o futuro por melhorias imediatistas.
Em suma, nós não podemos nos permitir dar passos para trás, na direção de maior poderio estatal mesmo nas mãos de corporações gigantes como o Google, na esperança que esses monstros que alimentamos para fazer nossas tarefas mais fáceis hoje, de alguma forma irão “desaparecer” por sua própria vontade. De alguma forma, obedecendo docilmente à medida que a tecnologia resiste e impede o poder com o qual se acostumaram. Devemos seguir o caminho aparentemente mais difícil, mas que permanece consistente. Mas felizmente uma das outras coisas que o anarquismo torna nítido é que nós não temos que erguer grandes legiões de pessoas ao nosso lado para vencermos. Uma pequena, pequena minoria pode fazer uma grande diferença, pode tornar impossível o funcionamento do controle; pode romper a rigidez e a extensão excessiva inerente aos sistemas que tentam nos controlar.Quando eu tinha treze, vesti um casaco e viajei da costa do Pacífico até as ruas de Seattle no último fim de semana de Novembro de 1999. Desde então aquele dia se tornou infame. Nossa “vitória” sobre a reunião da OMC [Organização Mundial do Comércio] se tornou folclórica de um modo em um nível perigoso, mas vale a pena destacar o desespero que sentíamos até então. Nos anos 90, conforme se fortalecia dramaticamente em poder econômico e legal, sem oposição alguma, ninguém sequer sabia da existência da OMC. A visão neoliberal que ela servia vinha direto do cyberpunk dos anos 80, do controle empresarial monopolista, onde o capital podia cruzar fronteiras livremente para retroalimentar sua força mas as pessoas eram deixadas aprisionadas em, o que de fato eram campos de escravos como Bangladesh e Eritrea. Por certo que o caso permanece. E hoje nós temos o AAT [Acordo de Associação Transpacífico] e muitas versões bilaterais. Mas todo observador concorda que a inércia desse processo foi fortemente barrada naquele frio dia de Novembro. Porque algumas centenas de pessoas lutaram nas ruas, criando tanto tumulto que aqueles processos silenciosos foram atrapalhados significativamente.
O espetáculo do protesto de rua não é, obviamente, uma panaceia, apenas uma tática útil dentro de uma contexto limitado unicamente pelo escopo do tempo. Mas ele reflete uma realidade mais ampla, de que temos várias ferramentas que usam os pontos fracos das responsabilidade super estendidas e rígidas que são inerentes a quaisquer sistemas de controle. E sua inabilidade de gerenciar a capacidade de geração de jovens estudantes nas ruas refletem com complexidade computacional permanece absolutamente crítica às questões políticas.
A era da informação tem levado ao aumento gradual da complexidade em muitas frentes através de efeitos de retroalimentação. A velocidade que a tecnologia da informação oferece a nossas mutações culturais e meméticas tem aumentado drasticamente a complexidade de todas as coisas. Pegue, por exemplo, o humor. Considere o que era engraçado em 1800, 1950, 1990, e o que é engraçado hoje. Diabos, não vamos esquecer dos 1700, nós consideravamos que incendiar gatos era uma forma suprema de entretenimento.
A complexidade da nossa cultura, nossas identidades, nossas narrativas, nossos relacionamentos, e nossas políticas têm somente acelerado. E com tamanha complexidade vem a esperança de uma reduzida capacidade de controle. Se torna muito mais difícil para políticos e anunciantes venderem narrativas universalmente poderosas. Eles já enxergam retornos cada vez menores e a diminuição da tração.
O que esse processo de acelerar complexidade representa é uma singularidade social.
Se a singularidade tecnológica é o ponto além do qual nós não podemos fazer predições ou manter controle pois a complexidade dos desenvolvimentos tecnológicos superam nossa compreensão, então a singularidade social de nossa cultura, ideias, e relações terá se tornado rica, diversa, complexa, orgânica e meta.
Certo, nós talvez sejamos capazes de criar IA, mas a maior quantidade de poder computacional nesse planeta atualmente está preso em favelas, barracos e vilas. Nós não precisamos esperar a possibilidade de uma decolagem difícil em uma década ou mais. Só precisamos libertar e conectar melhor o poder existente em nossas mentes. O anarquismo convém um rico ecossistema de trabalho teórico que seria risível de se tentar abordar de maneira resumida. Se você tem interesse por teoria de jogos e problemas da ação coletiva eu sugiro que leia Michael Taylor e Elinor Ostrom. Se você está interessado na vasta gama de deseconomias de escala suprimidas pelo histórico subsídio de violência e a tendência de mercados libertos a fins igualitários, eu aconselho ler Kevin Carson. Para sistemas legais policêntricos, David Friedman e Robert Murphy. Nós também temos um discurso incrivelmente amplo e profundo em metodologias e estratégias quando se trata do caminho ou caminhos adiante. Peter Genderloos e David Graeber têm encontrado algum renome nesse sentido.
Mas no centro do anarquismo está uma filosofia ética que busca expandir a liberdade. Seus compromissos mais famosos são políticos (a abolição do estado, a abolição das concentrações centralizadas de poder coercitivo) mas isso se estende para além, por exemplo, críticas do controle em relações interpessoais assim como críticas a rigidez ideológica. Nesse aspecto, o transhumanismo representa mais um braço do anarquismo: um foco na expansão da liberdade em termos físicos e uma crítica ao recuo tímido para uma “natureza humana” estupidificante