Se existe um tema unificador entre a direita econômica — conservadores, libertários de direita e discípulos de Ayn Rand — é que a pilhagem é imoral e extremamente prevalente. Além disso, todos basicamente concordam a respeito de quem são os ladrões. A questão é sempre abordada da mesma forma que na citação de Alexander Tytler que afirma que a democracia só dura até “as pessoas descobrirem que podem votar pela própria riqueza às custas do tesouro público”. A pilhagem ocorre com as democracias majoritárias, que tiram dos ricos e trabalhadores e dão para os pobres e preguiçosos. Porém, algumas notícias que li sugerem que essa estrutura está invertida.
Na propaganda da direita, são sempre os poucos ricos — “criadores de empregos” — que permitem que todo o resto da sociedade viva por sua industriosidade. Nós, ingratos, os punimos com novos programas estatais criados para tributar sua riqueza honesta e financiar nossa indolência. Em A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, os grandes titãs capitalistas “pararam o motor do mundo”, recusando-se a trabalhar em prol dos saqueadores e se refugiaram no Vale de Galt. O economista austríaco Ludwig von Mises, amado por libertários de direita, elogiou Ayn Rand numa carta de 1958 da seguinte forma: “Você tem a coragem de falar às massas o que nenhum político diz: vocês são inferiores e todas as melhoras nas condições de vida que consideram naturais se devem aos esforços de homens que são melhores que vocês”.
Mais recentemente, os propagandistas de direita se opuseram aos ataques do Ocupy Wall Street ao 1% com o meme dos “53%”, segundo o qual as pessoas de classe média foram estimuladas a se identificar com os superricos sob o rótulo de “pagadores de impostos”. Mitt Romney tentou empurrar o slogan dos “makers” (criadores) contra os “takers” (beneficiados) em sua campanha presidencial de 2012.
Claro, todos os críticos de direita do movimento Black Lives Matter são mais do que rápido na crítica aos saques que ocorrem em Ferguson, que, em sua opinião, são muito piores do que qualquer má conduta policial que ocorre naquela cidade.
Porém, como podemos observar, toda essa narrativa de respeitabilidade está totalmente errada. Os maiores saqueadores são os dois grupos mais amados pela direita: os incríveis empresários que criam empregos e (por favor, fiquem de pé e tirem seus chapéus) a polícia. É isso mesmo. Em 2012, somente os US$ 280 milhões em pagamentos retidos recuperados pelo Departamento do Trabalho — uma pequena fração de todo o roubo salarial — excedeu o total roubado por assaltantes e ladrões comuns. E essa é apenas uma gota no oceano em comparação a todas as pessoas — em sua maioria, trabalhadores de baixos salários em empregos no setor de serviços — que já trabalharam sem bater ponto ou que foram obrigadas a bater ponto em horas de fraco movimento durante o dia e aguardar na sala de descanso para voltar a trabalhar. Eu mesmo já tive que fazer as duas coisas, assim como um terço dos trabalhadores americanos já tiveram.
Da mesma forma, em 2014, os bens tomados dos policiais em revistas valiam mais do que tudo o que foi tomado em furtos comuns. Sabe aquelas pessoas que estavam extremamente preocupadas com os “marginais” que saqueavam lojas em Ferguson? Pois é: os santos policiais que elas tanto amam roubam muito mais que isso como parte rotineira de seu trabalho. Não só tomam terras, casas, carros, dinheiro e bens pessoais de pessoas que jamais foram acusadas de qualquer crime — nem condenadas –, mas especificamente têm como alvo pessoas que sabem poder arrancar o máximo possível.
Contudo, nada disso é novo. Milhões de pessoas que trabalham para viver sabem que, desde os primórdios do capitalismo, o real “motor do mundo”, o verdadeiro “Atlas”, é a classe trabalhadora. Os saqueadores eram os grandes donos de terras, os capitalistas, os monopolistas licenciados — todos braços do estado. O estado capitalista anulou os direitos costumeiros à terra e forçou os cercamentos e despejos, primeiro na Europa e mais tarde no mundo colonizado. Além de destituir os trabalhadores de seu acesso aos meios de produção, ele restringiu a livre movimentação e associação do trabalho, instituindo monopólios para evitar que trabalhássemos e produzíssemos uns para os outros na economia social. Com todos esses pedágios, o estado capitalista extraiu muitos trilhões dos nossos bolsos. Como diz a música, “nós os alimentamos por mil anos”.
Os verdadeiros saqueadores não usam máscaras ou roupas de trabalho. São pessoas que usam uniformes e insígnias, pessoas de paletó e gravata que sentam em salas de reuniões e escritórios, do tipo que somos estimulados a admirar por toda a mídia e todos os órgãos de propaganda nos Estados Unidos. É hora de nos libertarmos dessa gangue e pararmos de alimentá-los — ocupando as terras vagas que cercam e mantêm fora de uso, parando de pagar aluguéis sobre as terras cujos títulos datam desses cercamentos, ocupando fábricas construídas com riquezas extraídas de nosso trabalho com rendas de monopólio, desconsiderando todas as patentes, copyrights e outras leis que restringem nossas liberdades para produzir, comercializar e compartilhar uns com os outros.
Liberte a sua mente.
Traduzido por Erick Vasconcelos.