The following article is translated into Portuguese from the English original, written by Kevin Carson.
Ao dar seus primeiros passinhos Júlia começará a cumprir uma sentença de vinte e não sei quantos anos em instituições concebidas para o processamento dela visante a transformá-la num “recurso humano”: Uma pessoa condicionada a ver o arcabouço institucional e a estrutura de poder existentes como naturais e inevitáveis, que confia no e obedece ao estado e aceita as justificativas dele em causa própria como válidas. Alguém que aceita ordens de figuras de autoridade sentadas atrás de escrivaninhas, e treinado — a expensas do contribuinte — nas habilidades que os empregadores querem de seus recursos humanos. Tanto Obama quanto Romney apoiam entusiasticamente a necessidade dessa esteira ergométrica a partir da escola até chegar à condição de recurso humano, para “manter a competitividade global.”
Ao Júlia sair da linha de montagem de recursos humanos, procurará emprego numa economia onde a maioria das oportunidades de emprego é controlada por instituições hierárquicas autoritárias. Ela passará sua vida de trabalho vendendo sua força de trabalho num sistema concebido para minimizar a competição que os empregadores enfrentam do autoemprego — no qual a política macroeconômica confessa do estado é manter o poder de barganha do trabalhador (também chamado de “pressão inflacionária”) dentro de limites administráveis.
Se ela tentar escapar da reserva enfrentará uma legião de formas de escassez artificiais cujo principal efeito é tornar os meios de produção artificalmente dispendiosos para o trabalhador, e impor custos artificiais de entrada no mercado e de overhead ao autoemprego. Antes de Júlia completar 65 anos, viverá dentro de um sistema onde o trabalho assalariado é a única alternativa para quem não seja rico. O Presidente, Democrata ou Republicano, aceitará o pressuposto básico da “cultura de empregos” como um fato da natureza.
Na anarquia de mercado Júlia viveria numa sociedade onde a educação seria organizada autonomamene pelos vizinhos dela, os estudos dela seriam definidos pelas necessidades dela em vez de pelas de seus futuros empregadores, e o poder econômico seria distribuído e descentralizado. Ela passaria sua vida de trabalho num mercado sem barreiras à entrada ou numa cooperativa, e se resolvesse cogitar de emprego assalariado falaria com os empregadores em termos de igualdade em vez de como um produto pré-delineado para atender às necessidades deles.
Como consumidora, Júlia pagará valores consistentes, em grande parte, de lucros auferidos de escassez artificial apoiada pelo estado. Ela gastará $200 dólares com CDs de software patenteado que custam $5 dólares para gravar, e pagará 2000% de sobrepreço de medicamentos patenteados. Comprará tênis com preço aumentado em $195 dólares por causa da marca, acima dos $5 dólares cobrados pela fabriqueta que os produziu, e uma câmera cujo preço provém dos lucros excessivos possibilitados por uma patente embutida em vez de das peças realmente existentes e do trabalho de produção. Ela pagará sobrepreço de cerca de 20% como resultado de preços combinados de antemão entre os produtores de bens manufaturados em indústrias oligopolizadas.
Bens e serviços locais serão muito mais caros por causa de leis de zoneamento que protegem fábricas com existência física real, ao exigirem o aluguel de espaço comercial como condição de condução de negócios, altos valores de licenciamento, e códigos regulamentadores que criminam a produção em lotes pequenos ao tornarem obrigatório maquinário de escala industrial. Tanto Obama quanto Romney apoiam decididamente todas essas políticas.
Na anarquia de mercado não haveria cartéis apoiados pelo estado, barreiras à entrada no mercado, ou escassez artificial. A competição reduziria os valores que Júlia paga ao custo real da produção. Júlia conseguiria muito mais facilmnte comprar bens cultivados, assados e cosidos em casa, bem como ter acesso a creche para crianças/asilo para velhos e serviços de táxi não sujeitos a licenciamento — todos os quais envolveriam overhead próximo de zero por serem proporcionados a partir das casas de seus vizinhos com bens de capital familiar ordinário já possuídos por eles.
Se Júlia comprar ou alugar uma residência, o preço da terra onde o imóvel se localizar refletirá enormes tratos de terra vaga e não beneficiada mantida fora de uso pela política do estado, de tal maneira que os proprietários quedem protegidos da competição. Nem Obama nem Romney conseguirão jamais imaginar alternativa para esse estado de coisas.
Na anarquia de mercado não haveria títulos de propriedade de terra não ocupada e não beneficiada. A competição oriunda de terra não ocupada livremente disponível reduziria os ganhos injustificados do senhorio, reduzindo os custos de moradia de Júlia.
Ao longo de sua vida, as viagens de Júlia dentro dos Estados Unidos serão restringidas por um sistema de passaporte interno no qual embarcar num avião, e logo talvez num trem ou ônibus, requer submissão a ser escaneado ou revistado. A história telefônica e de internet dela e as compras que ela fizer serão constantemente monitoradas por um governo para o qual a Quarta Emenda(*) é uma relíquia graciosamente antiquada da história. Todas as empresas onde ela comprar algo espioná-la-ão para o governo. Ela estará sujeita a detenção por tempo indefinido, sem acusação, ou talvez até a assassínio por avião não pilotado, com base em arbitrária e unilateral constatação de ser uma “terrorista.” Se porventura tiver algum dia havido qualquer laivo de esperança de o partido no controle da presidência fazer qualquer diferença a esse respeito, Obama já acabou com ele há muito tempo. (*) Quarta Emenda à Constituição dos Estados Unidos: O direito do povo de estar seguro em suas pessoas, residências, documentos, e pertences, contra buscas e apreensões irrazoáveis, não será violado, e nenhum Mandado será emitido, a menos que com base em causa provável, apoiada por Juramento ou afirmação, e descrevendo circunstanciadamente o lugar objeto de busca, e as pessoas ou coisas a serem apreendidas.
Na anarquia de mercado … Bem, você entende a ideia.
Seja qual for o partido no poder, Júlia será um meio para o atingimento dos fins de pessoas completamente isentas de prestar contas a ela, será uma ferramenta para enriquecer uma classe dominante. Na anarquia, Júlia será um fim em si própria, livre para construir qualquer vida que escolher em cooperação pacífica com seus vizinhos.
Artigo original afixado por Kevin Carson em 20 de junho de 2012.
Traduzido do inglês por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme.